O autorretrato é uma das maneiras mais complicadas – e também mais recompensadoras – de fotografar pessoas. É o momento em que você pode viajar tão alto quanto quiser, já que o modelo topará tudo o que você imaginar. É a imagem que vai permitir às pessoas entenderem um pouco mais sobre você a partir de coisas simples que você decidir mostrar.
Com a disseminação das câmeras digitais e com os infinitos serviços na internet em que você pode colocar um avatar – aquela pequena foto que serve como sua identidade visual – é comum encontrar as famosas fotos-bracinho. Todo mundo já viu, a grande maioria já fez. Você ergue a câmera na distância do seu braço, aponta a lente pra você, e aperta o disparador – de maneira meio desconfortável, normalmente – com o dedo que estiver mais perto do botão. Isso tudo torcendo para o enquadramento estar minimamente correto.
Não existe nenhum problema real com esse tipo de foto. É um registro do momento, e como tal tem seu valor. Entretanto, para mostrar melhor quem você é, vale a pena dedicar um pouco mais de tempo e esforço. Com algumas ideias, uma câmera – e preferencialmente um tripé – você vai perceber que seus avatares e álbuns terão muito mais de você do que apenas a imagem do seu rosto.
A primeira parte desse artigo parece um pouco “chata”, por não falar direto da técnica da fotografia. Fique tranquilo que isso será abordado também. Você pode ter certeza que uma boa foto começa a existir na cabeça do fotógrafo, muito antes da câmera sair da bolsa.
Quem é você?
Já que a ideia aqui é explorar maneiras de explicar, através da imagem, a sua personalidade, é justo começar o processo pensando em “o quê” exatamente você quer mostrar.
A fotografia de um ciclista é diferente do retrato do vocalista de uma banda de heavy metal. A foto de uma atriz de teatro certamente será diferente da imagem de uma dançarina de funk.
Assim, o primeiro passo para revelar ao mundo quem você é, deve ser justamente decidir como você quer que todos o percebam. Pense em roupas, livros, jogos, programas de TV, filmes e músicas que te agradam, e use isso a seu favor. Depois de ter juntado todas as coisas que você gosta numa mesma lista, comece a cortar tudo aquilo que você acha bacana, mas não quer que as pessoas saibam. Ou então que até é legal, mas não é tão “você” assim.
Este primeiro passo é o mais difícil, de certa forma. Essa análise toda em cima de tudo o que você gosta, e especialmente a parte de tirar fora uma boa quantidade de informação sobre si mesmo pode ser bem complexo, mas com certeza o retorno vale a pena.
Com a lista das coisas que realmente importam para você em mãos, crie um conceito. Ainda não se preocupe com o que será necessário para a foto, mas pense em cenas nas quais este conceito seja uma expressão da sua personalidade.
Por onde você anda?
É fato que as pessoas mudam de comportamento de acordo com o lugar onde elas se encontram. As ações tomadas dentro da escola ou do trabalho são muito diferentes das atitudes mostradas no estádio de futebol ou na balada. Assim, partindo daquele conceito que você já definiu, repita o mesmo processo, só usando lugares ao invés de coisas. A rua onde você mora, o shopping onde você encontra seus amigos toda semana, o ônibus que você pega para voltar pra casa ao fim do dia. Todos esses locais tem suas restrições e suas possibilidades para uma boa foto.
É importante lembrar, também, que alguns lugares não são lá muito propícios para um bom retrato. Mesmo que espelhos sejam divertidos e ofereçam ideias interessantes para fotografar a si mesmo, o banheiro não é o lugar que todo mundo imagina como sendo um local favorito.
Aliás, uma coisa que deve ser dita para qualquer lugar onde você queira fotografar: preste atenção nos detalhes. Muitas fotos excelentes são destruídas por falta de cuidado. Sacos de lixo numa rua, roupas íntimas e toalhas penduradas, pessoas fora do seu convívio fazendo gracinhas no fundo do retrato, tudo isso pode prejudicar o resultado final da imagem. Não custa nada “dar uma geral” no ambiente antes de fotografar, ou esperar uns minutinhos até os transeuntes passarem.
Como mostrar o máximo sem ser óbvio?
Por óbvio, entenda que a ideia aqui é fazer fotos que mostrem quem você é sem cair no lugar comum. Para fazer isso, o jeito mais fácil é unir as duas etapas já descritas.
Com uma roupa bacana, num lugar que combine com aquele conceito comentado anteriormente, é bem mais fácil limitar a quantidade de ideias que estarão presentes na imagem. Para ajudar ainda mais, outros itens podem ser utilizados.
Usando um dos exemplos comentados antes, para o ciclista fazer seu autorretrato, é perfeitamente aceitável colocar a bicicleta em cena, porém quase todo ciclista faria isso. Para fugir então do óbvio, vale pensar que outras coisas fazem parte do equipamento do ciclista, e quais dessas ficariam bem no local escolhido para a foto. Às vezes seria suficiente aproveitar a luz do lugar e colocar a roda da bicicleta em frente à iluminação. Isso geraria a sombra dos raios da roda, que, por ser um ciclista o retratado, seria entendida facilmente sem precisar estar à mostra. Mesmo quem não conhece a pessoa como ciclista pode se interessar em descobrir o porquê daquelas sombras diferentes na fotografia.
Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado a todos os casos mencionados antes, e a qualquer outro. Ou seja, procure algo que faça parte do seu dia-a-dia, e o use apenas como detalhe, como sugestão. Para algumas coisas – como a roda de bicicleta – é bem mais fácil, mas é possível fazer isso com qualquer coisa.
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Tá, e para fotografar?
Bom, agora que você já sabe como, onde e com o que quer aparecer, só falta fazer foto, certo?
Dependendo do seu equipamento isso será mais ou menos fácil, mas algumas dicas são valiosas para todos. A única ressalva aqui é a câmera do celular. Fazer um autorretrato com a câmera do celular sem apelar para a foto-bracinho é dificílimo. Não só porque a câmera tem muitas limitações de ajuste, mas também pela dificuldade de se deixar o telefone em um lugar, correr para fazer a pose e só então a foto ser disparada, tudo isso sem o telefone se mexer ou tremer. Se o seu telefone tem um temporizador para a câmera e consegue ser deixado “em pé”, é possível fazer autorretratos com ele, mas não será tão simples quanto com câmeras compactas ou dSLR.
O tripé
Além da câmera e tudo que seja necessário para ela funcionar, uma das coisas mais úteis para fazer autorretratos é um tripé. O motivo é óbvio, já que sem ele, você terá que apoiar a câmera em alguma outra coisa. A grande vantagem do tripé – seja ele um tripé profissional com cabeça de movimento tridimensional ou um daqueles compactos que você encontra nas lojas de foto e informática – é a segurança. Os tripés são atarraxados nas câmeras, o que impede que elas caiam com facilidade. Apoiar a câmera em caixas, na TV ou coisa assim – em que o equipamento não é preso à superfície – é arriscado, apesar de ser possível em alguns casos.
E o foco?
A primeira coisa que você precisa é de um objeto, bichinho de pelúcia ou qualquer outra coisa que você possa colocar na posição que você irá ocupar. Enquanto você faz o foco, deixe seu substituto lá, e antes de iniciar o contador para o disparo retire-o. Não se esqueça de marcar bem qual o ponto em que o substituto estava, para não correr o risco da imagem ficar borrada.
Para resolver o foco especificamente, você tem várias opções. A primeira delas, e a mais prática, é deixar sua câmera regulada para foco automático. Na maior parte das vezes isso resolve relativamente bem a situação. O problema surge quando você não quer ficar bem no centro da imagem. Seja para mostrar mais do fundo, ou só para usar a tal regra-de-terços que você viu em quase todo site de fotografia que você já entrou.
Câmeras compactas normalmente não permitem a seleção do ponto de focagem, e se você sai do centro, ela vai focar fora da sua posição. Para resolver isso, descubra se a sua câmera permite o foco manual. Se essa possibilidade existe, seu problema está resolvido. Se você confiar no foco automático da sua câmera, use-o e quando ela apitar avisando que a imagem está focada, mude para o foco manual. Assim a lente não se move sem intervenção sua, e você pode continuar a montar seu autorretrato calmamente. Ou, se preferir, foque manualmente mesmo, que não é tão complexo.
Nas câmeras dSLR já existe a opção de selecionar o ponto de focagem, então para aparecer descentralizado na foto, basta optar por um ponto de focagem que se ajuste melhor ao enquadramento que você deseja.
Luz e exposição
Aqui a coisa complica um pouco. A grande maioria das câmeras compactas não permite que você altere os valores de abertura e, portanto, é difícil fazer um foco seletivo com elas. Para o autorretrato, como o foco não é muito preciso, o ideal é usar aberturas variando de f/8 a f/22 (para entender melhor o que são esses números, veja o artigo sobre lentes para fotografia digital). Com esses valores, a profundidade de campo (ou a área que aparece focada na imagem) é mais longa, e assim você diminui o risco da foto sair errada.
Só que quanto o mais fechado estiver o diafragma da câmera (resultando nos valores f/8 – f/22), mais tempo a foto demora pra ficar pronta, ou seja, maior o tempo de exposição. Esse tempo pode ser ajustado alterando-se a sensibilidade ISO da câmera para valores mais altos.
Isso tudo, claro, depende da quantidade de luz que você tem disponível no lugar escolhido para seu autorretrato. Se for um lugar aberto num dia de sol. Você não precisará se preocupar tanto com esses detalhes, pois os ajustes automáticos da câmera serão suficientes. Já no seu quarto à luz de velas, numa noite sombria (uma boa ideia para o vocalista de heavy metal comentado lá na página anterior), o cuidado com os valores de exposição tem que ser bem maior para garantir a imagem.
Se você tiver abajures, lâmpadas de cabeceira e outras fontes de iluminação que você possa mudar de lugar facilmente, tente criar ambientes diferentes usando duas ou mais fontes de luz distantes de você de maneiras diferentes. A fonte mais próxima deixará seu rosto mais claro, enquanto a mais distante pode ser colocada do outro lado, para que você não tenha metade do seu rosto na sombra, por exemplo.
Outra possibilidade é usar o flash. Aqui é preciso muito cuidado, especialmente com câmeras compactas, em que você não controla a intensidade da luz. Caso esse seja seu equipamento, evite ficar muito próximo à câmera, pois é comum o flash “estourar” a foto, removendo as feições do seu rosto com um disparo muito forte de luz. Claro que se esse visual for o que você decidiu enquanto pensava a foto, vá em frente e aproveite.
E eu, como fico?
Se tiver vontade de fazer caras e bocas, faça. Pense que essas fotos só serão vistas se você quiser. Mesmo não recomendando apagar as imagens que você não gostar, você não tem obrigação nenhuma de publicá-las. Assim sendo, invente, teste olhares, sorrisos, posturas de mão, pernas e corpo.
O autorretrato é um exercício importante para o fotógrafo, pois ensina a posar. É difícil para alguém que nunca posou para uma fotografia fazer todas as expressões desejadas. Mais difícil ainda é para o fotógrafo explicar como ele quer essas expressões, sendo que ele mesmo não sabe fazê-las. Por isso, arrisque! Além de melhorar o resultado do seu autorretrato, isso vai te ajudar a fotografar seus amigos também.
Lembra quando foi dito sobre artigos extra, objetos relacionados aquele conceito da foto? Interaja com esses objetos antes de fotografar, para descobrir maneiras de incluí-los na foto criativamente, para somar. Escolha bem a roupa que você vai usar e principalmente para as meninas, cuidado para não mostrar mais do que você realmente quer que vejam.
Nessa de inventar, você pode partir de um ponto relativamente distante da câmera, mostrando todo o ambiente à sua volta – lembre-se de cuidar para que não tenha nada que possa estragar a imagem no local – até chegar muito próximo do equipamento. Nesse caso, o modo macro das câmeras atuais é um excelente auxílio para acertar foco e tudo mais.
Para compor a imagem, uma dica que sempre é válida, e muita gente já conhece, é colocar um espelho pequeno apontado para o visor da câmera. Assim, você consegue ver se está no lugar que você queria e se tudo o que você pensou está sendo mostrado.
Eu tenho meu autorretrato. E agora?
Antes de publicar seu autorretrato na internet, lembre-se que na maioria dos casos, os avatares dos serviços online têm tamanho quadrado, enquanto a câmera apresenta um sensor retangular. Uma das soluções para essa situação é recortar a imagem, mantendo apenas a área principal da mesa, em formato quadrado. Praticamente todo programa de edição de imagem permite o crop. Para manter a área quadrada, quase sempre basta manter pressionada a tecla shift enquanto faz a seleção da área.
Uma vez que você já está editando a foto mesmo, por que não brincar um pouco mais? Softwares como o Photoshop e o GIMP (e vários outros programas que você encontra aqui mesmo no Baixaki) oferecem um grande número de filtros e outros efeitos que – se usados da maneira correta – podem aumentar a beleza da imagem. Talvez algum deles enriqueça sua foto ainda mais.
Pensando sempre naquele conceito inicial que guiou a criação do autorretrato, lembre-se, independente do aplicativo que você usar para alterar a foto, de salvar a imagem com um nome diferente do original. Assim, você poderá alterar ajustes, filtros e tamanhos sem problemas, pois a imagem como foi capturada estará sempre disponível.
Parabéns! Você fez um autorretrato mostrando quem você realmente é!
E agora é hora de mostrar a todos um pouco mais sobre você, no estilo. Escolha os serviços que mais te agradam e que você use com maior frequência, e publique sua foto. Álbuns de Orkut, Flickr, Picasa são ótimos lugares para as fotos no tamanho normal, sem cortes. Já a versão quadrada, menor, pode ser usada como avatar em serviços como MSN e GoogleTalk, Twitter, em blogs e outros.
Aproveite essas dicas, e faça vários retratos, mostrando diversas facetas da sua personalidade, mas sempre com um toque seu. Tudo o que foi escrito aqui é linha-guia, e não “receita de bolo”. Adapte alguns passos daquilo que você acha melhor para você e principalmente se divirta fotografando.
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