Modelo sueco será montado pela Embraer (Fonte da imagem: Reprodução/Air-Atack)
As negociações para o reaparelhamento da Força Aérea estavam se arrastando por quase 15 anos até que a presidente Dilma Rousseff anunciou ontem a decisão de que o governo brasileiro iria adquirir 36 caças supersônicos da fabricante sueca Saab.
O modelo Gripen NG deve ser produzido em parceria com a Embraer e ter cerca de 80% da sua estrutura feita no Brasil. De acordo com o Ministério da Defesa, a escolha pelo avião sueco se justifica pelo bom preço (US$ 5 ou 6 bilhões) e principalmente pela possibilidade de transferência de tecnologia.
O programa de negociações para a compra de novos caças para a Força Aérea teve início ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, mas foi cancelado durante o gestão de Lula e, agora, decidido por Dilma Rousseff. O Brasil deve começar os pagamentos em um ou dois anos e passará a receber 12 caças por ano a partir da assinatura final do contrato com a Saab. Até 2023, as 36 aeronaves devem estar prontas para voo.
O avião que o país precisa
Com o término da vida útil dos caças Mirage, um dos principais modelos que a Força Aérea utiliza atualmente, o país precisaria manter seu poderio militar em dia a fim de defender as fronteiras e estar pronto para eventuais conflitos, ainda que muito pouco prováveis. Fora isso, como Gripen chega ao Brasil com completa transferência de tecnologia, ao fim do contrato a Embraer terá experiência e capacidade para continuar suprindo a demanda por aviões militares do país. Isso porque a maior parte do avião será feita aqui e montada pela empresa brasileira. Em 2018, as primeiras unidades deverão ser entregues.
Além de ser o mais barato, o Gripen é também o mais eficiente de todos os concorrentes derrotados. O avião da norte-americana Boeing seria caro para manter funcionando e para voar, e o da francesa Dassault era o projeto mais custoso no geral. Fora isso, nenhuma das duas empresas concordou com a total transferência de tecnologia, como a Saab, criadora dos Gripen.
Tecnicamente falando, o Gripen pode atingir 4 mil km, duas vezes a velocidade do som, em todas as altitudes em que ele consegue voar. Fora isso, o custo da hora de voo do avião sueco é o mais barato entre os concorrentes, sendo de US$ 4,7 mil por hora, em comparação com os US$ 16,5 mil do francês Rafale e US$ 11 mil do americano F-18.
Valores em dólares gastos por hora de voo. (Fonte da imagem: Reprodução/Janes IHS)
Pesa contra a decisão brasileira o fato de o Gripen não ter experiência de batalha até o momento, enquanto os aviões das concorrentes foram largamente utilizados nos últimos conflitos no Oriente Médio. Isso, entretanto, não preocupa a Força Aérea, que já tinha dado sua preferência para o avião sueco antes da decisão da presidente.
O fato de o avião ter 80% de fabricação nacional vai incentivar a indústria de defesa brasileira, que entrou em decadência com o término da ditadura militar no país. De acordo com o ministro da defesa, Celso Amorim, “em breve teremos aviões à altura da necessidade de defesa do nosso país”.
Poder de defesa
De acordo com CEO da Saab, Äke Svensson, o avião da sua companhia é a melhor escolha para o Brasil se comparado aos concorrentes, principalmente pelo seu alcance e capacidade de carregar munição. Em entrevista ao jornal O Globo em 2009, ele comentou que os sistemas de controle, detecção e combate do Gripen são os mais avançados do mundo. Fora isso, ele destaca que o avião é o único capaz de pousar em uma estrada qualquer de apenas 500 metros.
Além de ser o modelo com maior “poder de fogo”, o avião sueco também poder ser modificado de acordo com as necessidades da FAB. Isso só será possível graças à transferência de tecnologia, que permitirá incluir armamento nacional mais eficiente e totalmente fabricado aqui.
Decisão política
O Gripen sempre foi o preferido da FAB, mas as questões políticas do governo brasileiro com os países das concorrentes deixavam o avião sueco no fim da fila. Primeiro havia a possibilidade de um contrato bem mais amplo com a França. Outros equipamentos militares seriam adquiridos. Como isso não foi pra frente, o preço dos aviões franceses ficou em evidência — eram muito caros.
Depois dos escândalos de espionagem da NSA, dificilmente o governo brasileiro assinaria um acordo tão caro e importante com uma empresa norte-americana. No fim das contas, o monitoramento de conversas da presidente, de pessoas importantes do governo e de grandes empresas brasileiras, como a Petrobras, rendeu um “prejuízo” de mais de US$ 5 bilhões aos EUA somente nessa negociação.
Na época em que a presidente cancelou sua visita de Estado à Casa Branca, esperava-se que o anúncio da compra dos caças F-18 da Boeing fosse feito, oportunidade que nunca chegou a acontecer.
Os caças Gripen devem ter vida útil de 30 anos nas operações da FAB. O preço inicial das 36 unidades é de US$ 6 bilhões, mas o governo acredita que pode chegar ao preço final de US$ 5 bilhões na assinatura do contrato, que deve acontecer em até 12 meses.
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