Até o mês passado, tablets eram coisa para alguns profissionais que dependiam da comodidade de um computador mais fácil de utilizar em mobilidade do que um notebook.
A Apple - conhecida por inovar em diversos setores - aproveitou o sucesso do iPhone e do iPod Touch e remodelou o segmento, deixando esse tipo de equipamento ao alcance de todos (que podem pagar o custo relativamente alto) com o iPad.
O que muita gente não sabe é que boa parte da responsabilidade do sucesso do iPhone OS se deve a uma das maiores falhas comerciais da Apple: o Newton.
O portátil de 1993 trazia uma um hardware poderoso, mas seu alto preço e o mau funcionamento de algumas de suas funções acabaram por enterrá-lo no esquecimento. Ainda assim, várias das soluções encontradas para o Newton foram adaptadas e renovadas no iPhone.
A concorrência
Pouco depois do sumiço do Newton - ainda na década de 1990 - um novo tipo de equipamento começou a tomar conta de um mercado que precisava de agilidade e confiabilidade: os PDAs (Personal Digital Assistants - assistentes pessoais digitais).
Muito mais poderosos que as famosas agendas eletrônicas da época, os PDAs eram uma das principais ferramentas de trabalho de engenheiros, executivos, médicos e profissionais móveis. Aqueles mesmos usuários que com o tempo assimilariam os tablets.
Na palma da mão
Também conhecidos como handhelds, os PDAs - em muitos lugares - sofreram o mesmo efeito que as lâminas de barbear e esponjas de aço, ficando conhecidos pelo nome de seu principal fabricante: Palm.
Apesar da existência dos PocketPCs - PDAs rodando em Windows Mobile -, os equipamentos da Palm eram objeto de desejo e instrumento essencial para muitos consumidores, principalmente no ambiente corporativo.
Fáceis de usar, versáteis e com uma quantidade imensa de aplicativos disponíveis para sua plataforma - o PalmOS - esses equipamentos foram sinônimo de PDA por um longo tempo.
A queda
O reinado dos PDAs - e principalmente dos Palms - durou por boa parte das décadas de 1990 e 2000. Como todo poder, entretanto, depois da ascensão vem a derrocada.
No caso dos handhelds, os usurpadores são um dos principais objetos de consumo da atualidade -, que ainda utilizam muito do que foi desenvolvido para os PDAs -: os smartphones. Na verdade, os primeiros celulares inteligentes eram praticamente a mesma coisa que um PDA, porém com o acréscimo de um discador e de uma antena para telefonia.
Ex-alternativas ao iPad
Enquanto tudo era rumor, e ninguém sabia direito o que viria de Cupertino, dois gigantes da informática se mostraram interessados no conceito de tablet: Microsoft e HP.
Em Redmond, a empresa de Bill Gates chegou a anunciar o Courier, um equipamento no mínimo tão inovador quanto o iPad, e a exibir protótipos do aparelho. Com uma série de adaptações de interface para a utilização de duas telas, o projeto da Microsoft acabou sendo abandonado, pois a empresa pretende utilizar partes da tecnologia desenvolvida em outros projetos.
Praticamente ao mesmo tempo, em Palo Alto, a HP se despedia do Slate, apresentado pelo CEO da Microsoft durante a CES 2010. Os motivos dados pela empresa foram o péssimo desempenho do Windows 7 em relação à interface multitoque e o altíssimo consumo de bateria do hardware Intel utilizado no protótipo.
A jogada
Assim como a Apple aprendeu com os erros do Newton, que culminaram com o iPhone e com o iPad, pode-se imaginar que a HP - com o know-how da sua nova aquisição, a Palm - possa então resolver os problemas por trás do Slate, apresentando, quem sabe, um tablet tão, ou mais, interessante que o aparelho de Steve Jobs.
O tablet perfeito
A partir deste momento, saiba que tudo o que está escrito neste artigo é fruto de uma imaginação fértil confrontada com a tarefa de juntar peças de um quebra-cabeça em busca de um ideal. Este produto não existe, e não há nenhum indício de que virá a existir algum dia. Mesmo assim, vale o exercício. Quem sabe não vira inspiração para os fabricantes, não é?
Sistema operacional
Este é o primeiro ponto em que a Palm pode ajudar a resgatar o tablet da HP. Assim como a Apple optou por utilizar o iPhone OS, o sistema que a empresa californiana criou para o Palm Pre pode facilmente se tornar a plataforma para um tablet de respeito.
Além de bonito e estável, o WebOS oferece multitarefa - uma das principais reclamações que a Apple finalmente resolveu atender sobre o iPhone OS , suporte para HTML 5, JavaScript e CSS, permitindo que programadores acostumados a desenvolver para a web também criem para o sistema.
Em uma tela maior - as mesmas 10 polegadas do iPad, por exemplo - o WebOS ofereceria igual facilidade de uso e integração entre os diversos serviços que são a base da sua experiência.
A quick-launch wave, os cartões de aplicação e a maneira como o sistema responde aos toques seriam grandes vantagens para um hipotético tablet utilizando o WebOS.
Até mesmo a capacidade de multitarefas do WebOS leva vantagens sobre a plataforma iPhone usada no iPad, uma vez que independe de uma API que deve ser programa nos aplicativos, como acontece no iPhone OS 4.
Aplicativos e desenvolvimento
Um dos principais motivos da derrota do Pre e do Pixi - os smartphones WebOS da Palm-, foi a falta de aplicativos desenvolvidos para a plataforma. Porém é possível que uma campanha por parte da HP reverta esse cenário, principalmente pela facilidade em se programar para o sistema.
Apesar de não ser compatível, o PalmOS dos PDAs – e dos primeiros smartphones da marca – possui uma gama enorme de aplicativos - gratuitos ou comerciais - disponível, e com o incentivo certo é bastante provável que esses desenvolvedores vistam a camisa e façam as adaptações necessárias para o novo sistema.
Tudo isso pode ser organizado facilmente, seguindo as lições da App Store e do Android Market. Assim, não é difícil imaginar um WebGuide de aplicativos para um tablet rodando o WebOS.
Uma coisa, entretanto, que não deve faltar em qualquer tablet lançado a partir de hoje é o suporte para aplicações Flash . Com toda a briga entre Apple e Adobe sobre essa ausência no iPhone OS, um diferencial desses pode ser decisivo no sucesso do produto.
Hardware
Claro que um sistema operacional forte e o software serão a parte mais visível de um tablet, mas sem o equipamento certo para permitir seu funcionamento - como a HP descobriu com o Slate - não é viável produzir esse tipo de gadget.
Portanto, qualquer tablet que se arrisque a entrar no mercado já tomado pelo iPad deve oferecer o que há de melhor.
Começando pelo processador, já se espera alto desempenho com baixo consumo, atualmente obtido através do todo poderoso Snapdragon de 1GHz (que provavelmente até algum equipamento ser produzido, já terá sofrido atualizações).
O hardware deve contar com pelo menos 512 MB de RAM, e expansão por cartão SD (sim, o grande, já que a o tablet tem espaço para isso e por ser o formato usado em câmeras fotográficas), e ainda oferecendo 16 GB, ou mesmo 32 GB, de armazenagem interna independente.
Em termos de conectividade, além do Wi-Fi (b/g/n, para aproveitar qualquer tipo de hotspot), espaço para um chip SIM garante a conexão 3G e permite a aquisição do aparelho mais barato através de subsídios com operadoras de celular.
Mesmo que um tablet seja destinado também ao uso profissional, o iPad mostrou que o potencial de entretenimento deste tipo de equipamento é altíssimo. Assim, nada mais justo que uma webcam para videoconferências também ser incluída neste produto. Alto-falantes e conexão HDMI também fazem parte do pacote.
Interface
Fruto da associação das capacidades do hardware com opções do software, a maneira de interagir com um tablet deve ser confortável e intuitiva. A tela multitouch aliada às características do WebOS já garantem esse fator.
O launcher e os cartões de aplicativos, aliados às ferramentas gestuais, garantem a facilidade em executar vários aplicativos simultaneamente sem perder produtividade.
Porém, como a Palm e a HP têm vasta experiência com PDAs, uma das grandes forças destes aparelhos deve ser implantada em um novo tablet nascido da união das duas empresas: o reconhecimento de escrita.
Fator determinante para o fracasso do Newton – cujo sistema pretendia, sem conseguir de fato –, transformar em caracteres a caligrafia de qualquer pessoa, o reconhecimento de escrita foi adaptado a uma realidade um pouco diferente no PocketPC e no Palm.
Desde o primeiro PalmPilot, de 1996, a entrada de texto através de caneta se dava em uma área específica, e cada caractere tinha um código próprio, semelhante ao formato da letra. O sistema Graffiti exigia alguma adaptação, mas não era complicado, e ganhou a confiança de muitos usuários.
Com o avanço tecnológico a partir do lançamento do PalmPilot, é possível acreditar no reconhecimento de escrita mesmo em caligrafia natural. Essa é uma das principais apostas de um tablet WebOS, permitindo – além do uso de um teclado virtual – a escrita caligráfica, graças a uma stylus adaptada a telas capacitivas.
Quem sabe?
Tudo o que você leu até aqui sobre um possível concorrente do iPad é fruto da imaginação, porém embasado no que está no mercado atualmente. Com o cancelamento do Slate anunciado pouco tempo após a compra da Palm pela HP, não é impossível que – independente do acerto ou não deste artigo – um equipamento deste saia da Califórnia em breve. É esperar para ver...
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