Não há dúvidas de que o brasileiro ama redes sociais e mensageiros instantâneos e um dos mais queridinhos com certeza é o WhatsApp. Diferente do Messenger, o app do balão verde está em praticamente todos os aparelhos e virou sinônimo de praticidade para muitos.
Por aqui, são mais de 147 milhões de pessoas usando o WhatsApp, segundo pesquisa divulgada em novembro de 2023 pelo Statista. Além da facilidade para chamadas e videoconferência, outro fator desponta quando falamos em tendência de uso no Brasil: o envio de áudios.
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O próprio Mark Zuckerberg, CEO da Meta, revelou em junho deste ano que o brasileiro manda 4x mais áudios que qualquer outro território do mundo. E aí, a pergunta que fica no ar é: afinal, por que gostamos tanto dessa opção?
Os brasileiros mandam 4x mais mensagens de áudio no WhatsApp do que qualquer outra pessoa no mundo. (Fonte: GettyImages/Reprodução)Fonte: GettyImages/Reprodução
Para tentar responder a essa pergunta, o TecMundo conversou com algumas especialistas. Na sequência, você confere os motivos que nos fazem enviar tantos áudios ao longo do dia.
Menos erros na interpretação
Confesse: você raramente enviou uma mensagem gigantesca por texto no WhatsApp. Talvez essa seja uma memória muito vaga na sua cabeça, mas certamente mandou um áudio que facilmente ultrapassou a casa de um ou dois minutos.
Pelo menos até onde se tem notícia, a academia não produziu pesquisas para verificar este comportamento, mas existem indícios que nos ajudam a entender o porquê fazemos isto.
Elisa Battisti, professora associada do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), comenta que a escrita é um meio mais custoso de se comunicar, já que em muitos casos existe uma prática maior (para saber como se escreve determinar palavras, por exemplo).
Diferente da mensagem escrita, a comunicação por áudio no WhatsApp facilita a compreensão das emoções. (Fonte: GettyImages/Reprodução)Fonte: GettyImages/Reprodução
"Mas para uma parte dos brasileiros, especialmente os mais escolarizados, só faz sentido dizer que mandam muito áudio por dificuldade com a escrita se você interpretar tal dificuldade mais como falta de prática do que como desconhecimento em si", comenta.
A docente afirma ainda que a fala tem vários benefícios na comparação com a escrita. O ato de se comunicar pela voz se aprende de maneira espontânea, enquanto a escrita/leitura é aprendida mediante instrução e prática durante bastante tempo.
"A fala desenvolve-se a partir de uma dotação natural da espécie humana, a escrita/leitura é estabelecida como uma tecnologia, uma invenção. Cada uma pode nos beneficiar na medida da necessidade. Na comunicação por WhatApp, falar é menos oneroso do que escrever: toma menos tempo e você não tem de refletir tanto sobre a forma da expressão", destaca.
A voz tem nuances
O brasileiro ama não apenas a comunicação por fala, mas também gesticular com as mãos e fazer expressões com o rosto. Toda essa complexidade acaba se perdendo em comunicações via texto, que são normalmente mais frias.
A professora Elisa Battisti explica que o gosto pela fala não faz os brasileiros terem a chamada cultura de "tradição oral", já que este é um traço voltado para povos que não usam a escrita.
Carol Jesper, mestre em Educação pela USP e graduada em Letras, acrescenta que o país ainda tem povos originários com práticas de oralidade vivas, mas que a grosso modo, os brasileiros que vivem em áreas urbanas usam a fala por conta dos benefícios na comparação com a escrita.
Não é incomum presenciar brasileiros ouvindo ou até escutando áudios do WhatsApp no meio da rua ou transporte público. (Imagem: Getty Images)
"Atualmente, a preferência pela comunicação oral também pode estar relacionada à facilidade de expressar emoções, entonações e outras nuances. Vale lembrar que ainda não somos um povo plenamente alfabetizado. Então efeitos como sarcasmo, ironia e até mesmo humor podem ser difíceis de expressar no texto escrito por quem não domina completamente essa linguagem", diz.
Jesper comenta também que a modalidade oral da língua possibilita o uso de elementos não verbais como entonação. Ela argumenta que recursos como pontuação e até formatação como negrito e itálico podem ajudar a transmitir estas nuances, mas que muita gente ainda não sabe como usar.
Cuidado: áudios no Zap também podem gerar embaraços
Elisa Battisti afirma que se comunicar por áudio é benéfico não somente para pessoas que não têm tanta facilidade para escrever, mas também para quem está caminhando ou pessoas idosas, por exemplo.
Mas ainda que os famosos "áudios do Zap" sejam mais recorrentes em nosso cotidiano por conta da pressa ou pela força do hábito, eles não estão livres de falha. Neste caso, é importante ressaltar que a fala nem sempre abre brechas para reflexão, diferente do texto escrito em que você pode editar a mensagem caso necessário. "A fala pode delatar seu nervosismo pelo tom da voz", cita Battisti.
Carol Jesper afirma ainda que como a fala é mais espontânea, ela pode trazer consequências especialmente em conversas tidas pessoalmente. No caso do WhatsApp, a possibilidade de algo ficar registrado e gravado também expõe o interlocutor a riscos.
Um ponto importante sobre o envio de áudios no WhatsApp é que você pode ouvir mais de uma vez. E isso pode ser problemático em algumas situações. (Fonte: GettyImages/Reprodução)Fonte: GettyImages/Reprodução
"Como o registro pode facilitar a reescuta, uma mensagem gravada sem cuidado, mas ouvida com cuidado e persistência, também poderá acarretar mal-entendidos" conclui a mestre em Educação.