Por Thiago Muniz.
Fiquei feliz quando tive meu primeiro contato com o ChatGPT. Foi mágico fazer perguntas em português e ter respostas que variam desde receitas de risoto até ideias de abordagens de prospecção, temas de artigos e até mesmo textos de blog praticamente prontos em diferentes mercados. A verdade é que a plataforma é um ótimo front-end para um modelo de linguagem natural que poupa tempo.
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Quando estamos bem-preparados podemos usar a plataforma de forma realmente inteligente. Ao mesmo tempo estão explodindo nas redes sociais conteúdos te ensinando a produzir conteúdo em massa em poucos segundos.
Copiar e colar nunca ficou tão fácil. Estamos preparados para lidar com essa evolução? O ChatGPT está transformando a produção de conteúdo em uma nova forma de spam?
A verdade é que o spam ou conteúdo massivamente copiado já está por aí há tempos e não vai ser culpa desta ou de outra plataforma. Procurar uma justificativa para a banalização do marketing de conteúdo é tapar o sol com a peneira.
O chatbot em questão pode até ser um acelerador da "comoditização" do conteúdo, mas não o verdadeiro culpado por isso. Em um contexto profissional ou pessoal, você com certeza já fez uma pesquisa e não conseguiu obter respostas. Você rodou algumas páginas do Google para achar o que procurava.
Encontrar o que realmente desejamos ou com a profundidade que esperamos é algo que as empresas de tecnologia lutam há décadas para nos ajudar a resolver. Nossa intenção é o que realmente conta, como entendê-la é o grande desafio das big companies do mundo da tecnologia e decifrar como tangibilizar isso também. Especialmente no nosso país, onde uma parcela considerável da população tem problemas de interpretação de texto e são considerados analfabetos funcionais, o desafio pode ser considerado ainda maior.
Sendo extremamente simplista, neste momento, o ChatGPT está poupando o tempo que você tinha de clicar e olhar uma página por vez até, de fato, encontrar o conteúdo que gostaria. Ler e processar as informações com a esperança de achar o que realmente estava procurando se tornou uma tarefa mais fácil com a entrega em alguns segundos após um comando na ferramenta.
Combinar resultados de sites diferentes e entregar um resumo é onde o chatbot da OpenIA realmente ajuda. É como dizer adeus às milhares de abas que vamos abrindo quando queremos fazer uma busca mais profunda ou quando queremos confirmar uma informação.
Ainda que o uso do ChatGPT gere desconfiança, ele pode ser um ferramenta último para otimizar as tarefas diárias.Fonte: Leon Neal / Getty Imagens
Estatisticamente falando, a resposta que o prompt dá na plataforma representa um consenso sobre um tópico armazenado no seu banco de dados. No caso do ChatGPT em um banco de dados da OpenAI. Então, se antes você clicava de página em página procurando um conteúdo útil, agora você tem de cara uma resposta resumida.
O robô usa artigos, notícias, livros e até mesmo publicações de redes sociais para elaborar essa resposta. Poupar cliques não necessariamente irá resolver 100% sozinho. Poderão surgir outras ferramentas com seus bancos de dados e inclusive segmentados para temas específicos, armazenando padrões para te entregar um resumo de tudo aquilo que foi localizado.
Consenso é sinal de resposta certa ou melhor prática? Nem sempre. Caso contrário à internet se resumiria aos três primeiros resultados de qualquer pesquisa.
O que sabemos, na prática, é que não funciona assim. O genérico nem sempre funciona. Por isso temos centenas de youtubers falando sobre os mesmos temas, vários artigos indexados sobre os mesmos assuntos por sites e autores diferentes e a luta diária é por uma melhor experiência do usuário.
Marcas investem toneladas de dinheiro para criar conteúdo que sejam mais bem rastreados pelo Google e outras plataformas, investem em influenciadores e em outras ações. As diversas perspectivas sobre um mesmo tema é que dão oportunidades de criadores de conteúdos não desistirem de construir seus materiais autorais.
Bom, não sou contra a IA e o ChatGPT. Muito pelo contrário, a ferramenta é incrível e não quero botar fogo nos robôs. Generalizar e procurar padrões públicos pode levar a respostas extremamente úteis. Profissionais de RH podem aproveitar a generalização da ferramenta para criar um primeiro rascunho de descrições de cargos existentes, listar definições de competências de determinados cargos. Nesse contexto achar várias informações repetidas, parecidas é um poupa tempo e não um problema.
Outros exemplos práticos bem legais: o chatbot pode ser uma ferramenta extremamente útil para dar ideias para professores planejarem dinâmicas de aulas, corretores de imóveis podem ter ajuda da ferramenta para escrever descrições de imóveis melhores ou profissionais de marketing com um simples comando podem destravar o planejamento de conteúdo de uma marca. Aprecie com moderação e nunca mais fique preso na trava da página em branco e é esse o ponto.
É fundamental entender que o chatbot é a ferramenta e não o criador. O software não pensa. Releia esse parágrafo que foi escrito por um humano e não pela plataforma. O ChatGPT pode ajudar a criar, dar ideias, encontrar generalizações, resumir conteúdos, criar listas. A qualidade dos dados que você usa para alimentar a ferramenta e seu treinamento será o reflexo do conteúdo gerado por ela. Tenho testado alimentar a ferramenta com alguns conteúdos autorais e os resultados práticos são incríveis e nada parecem com spam ou algo repetido na internet.
Um grande paradigma que vamos começar a lidar é que qualquer nova ideia compartilhada publicamente poderá ser sugada para o banco de dados de plataformas como a criada pela OpenAI e ser usada por outra pessoa sem atribuição ou compensação ao criador. Por exemplo, seu concorrente pode pegar seus melhores conteúdos de blog ou seu post no Linkedin que bombou na última semana, submeter à plataforma, processar esses materiais e usar exatamente o que você disse para criar um conteúdo próprio.
Nunca foi tão fácil copiar alguém e talvez isso nunca foi tão inútil.
Na contramão disso tudo, vale lembrar que um dia você atendeu todas as ligações que chegavam no seu celular. Depois de algum tempo com o avanço dos call centers e todo o spam gerado o mercado se ajustou. Novas leis surgiram, ferramentas de regulação também e hoje em dia é difícil ver pessoas atenderem telefonemas com "cara de central de telemarketing indesejada". O que quero dizer é que naturalmente as pessoas, o mercado criaram um filtro natural para eliminar da frente conteúdos irrelevantes.
Neste exemplo dos telefonemas, números indesejados são facilmente identificados e ignorados ou bloqueados por grande parte da população atualmente e não será diferente com o chatgpt. Os "espertos" que simplesmente copiarem conteúdos vão vivenciar uma nova era da miopia do marketing. O que funcionou para outros pode não funcionar para você e sua marca. Uma parcela do conteúdo se transformará sim em um commodity mas não todo e qualquer conteúdo. Cabe aos profissionais separar o joio do trigo.
A Inteligência Artificial, pode ajudar, mas o poder criativo continua sendo de nós, seres humanos. Fonte: Leon Neal/ Getty Images
Encontrar formas diferentes, empolgantes, únicas vai ser algo mais fundamental do que nunca. O poder da marca, das histórias, tudo aquilo que não faz sentido ser copiado de você vai transformar o seu concorrente em apenas uma cópia barata. Marketing e vendas é sobre ter uma identidade que se conecta com o seu público mais do que nunca. Quebrar padrões, ser divertido, trazer contrapontos e gerar identificação nunca foram habilidades tão necessárias para construir boas ações.
Um bom produtor de conteúdo com ajuda do chatgpt terá mais tempo livre para dar o tempero especial para seus materiais. Agregar valor de verdade para o leitor do texto ou de qualquer outro formato de mídia gerado com ajuda da IA. Mesmo que 80% do conteúdo que saiu da página em branco seja feito por um robô, traduzir esse conteúdo escrito, em vídeo, imagem ou qualquer outro formato em algo único e especial para sua marca, com seu tom de voz ou alinhado ao seu posicionamento será o ouro do mercado.
Os consumidores aprendem rápido. Assim como aprendemos a ignorar ligações indesejadas, e-mails que parecem scripts padronizados ou mensagens no LinkedIn que tentam te vender algo sem nenhuma conexão, naturalmente, o mercado irá se reorganizar. O Google lançará novas atualizações que irão priorizar a personalização, surgirão ainda mais ferramentas para "checar" se conteúdos são copiados totalmente ou reproduzidos por robôs. 20% das ações, o tempero que irá equilibrar máquina e humano. Experimentar rápido, posicionar seu negócio e ser ágil para atingir seu consumidor é o novo "bater o bumbo" para marketeiros e vendedores.
Você é capaz de ter comandos rápidos, mas como usá-los é o diferencial. Ferramentas que automatizam tarefas repetitivas, apoiam a produção de conteúdo contribuem na geração de demanda, mas não substituirão, pelo menos nesse momento, o que temos capacidade de fazer como humanos.
Aumentar a fome do cliente sobre o que sua empresa faz com conteúdo continua sendo algo que dá muito trabalho, muito resultado e que exige foco e estudo do cliente. Isso é muito mais do que fazer perguntas para um assistente de texto. Pular direto para uma lista de sugestão de títulos ou legendas de redes sociais é apenas automatizar um pensamento operacional que muitas vezes nos faz perder o foco: criar uma estratégia.
Na contramão de muita coisa que tenho lido, vejo que o ChatGPT é um acelerador de ideias, mas não irá decretar o fim do conteúdo. Esse é o início da régua de sobrevivência baseada na originalidade. Com o tempo vamos perceber que nunca foi tão fácil, previsível e inútil copiar. Sua marca precisa encontrar um espaço exclusivo na mente do seu público-alvo e comandos isolados jamais irão permitir fazer isso sozinho. Use a generalização a seu favor e tempere com originalidade os conteúdos do seu negócio.
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CEO da Receita Previsível no Brasil, o publicitário Thiago Muniz é pós-graduado em Gestão de Negócios e Inteligência Competitiva pela ESPM. Acumula 14 anos de carreira no mercado digital, especializado em vendas, marketing e tecnologia. Há cerca de 10 anos ministra aulas de MBA e graduação em alguns dos centros de ensinos mais renomados do país como: Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG). Possui experiência na Espanha, na IEBS School (Escola de Negócios da Inovação e dos Empreendedores, em português).
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