Em meados dos anos 2000, quem estava ligado às notícias de tecnologia ficou sabendo de uma versão do Windows que acabou não vendo a luz do dia. O projeto, chamado de Longhorn, nasceu como uma atualização do XP e serviria mais como uma “ponte” para a próxima versão, mas ficou tão complexa que se tornou um sistema próprio. Era algo ambicioso e cheio de potencial, contudo, os problemas de execução causaram sua extinção e de suas cinzas nasceu o infame Windows Vista.
Essa é uma daquelas “histórias perdidas” da evolução dos computadores, que para muitos passou anos tida como “lenda” e foi bem lembrada pelo pessoal do Xataka. Tudo começou após o lançamento do Windows XP. O Longhorn seria um pequeno update, em preparação para outra frente, chamada de “Blackcomb”, que mais tarde seria retomada e se tornaria o Windows 7.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
À medida que o Longhorn progredia, recebia mais recursos e inovações, o que levou a Microsoft a anunciar oficialmente seu desenvolvimento na sua conferência para programadores, em 2003 — a meta era lançá-lo até 2006. O principal objetivo era melhorar a segurança, já que uma das maiores críticas ao XP e seus predecessores eram justamente as inúmeras vulnerabilidades.
As vantagens do Longhorn
Além das correções para as brechas, as centenas de programadores investiram em funcionalidades que fizeram a cabeça de Bill Gates, em especial o WinFS. O Windows Future Storage tinha uma proposta inovadora de categorizar o conteúdo com tags e metadados, de forma que facilitasse e agilizasse a busca específica de informações.
O Longhorn também possuía um motor gráfico mais poderoso, o Avalon; a ferramenta de programação WinFX, que influenciou várias aplicações baseadas em três pilares: apresentação, dados e comunicação; e a plataforma de mensagens Indigo, que seria responsável por conectar informações entre clientes, serviços e dispositivos.
Uma das características marcantes desse sistema operacional foi sua interface, que herdava as formas curvas, janelas e ícones do XP e adicionava a barra lateral direita — além de uma grande quantidade de ajustes, que permitiam ter mais opções para customizar o visual e a acessibilidade do Windows. Outros recursos bastante diferentes do XP foram o Menu Iniciar, o Windows Explorer e o Internet Explorer, que ofereciam também mais alternativas de personalização.
Confira um vídeo sobre o Longhorn e suas atrações:
Mas o que foi que deu errado?
A Microsoft dividia o trabalho de seu sistema operacional em vários grupos, responsáveis por ferramentas separadas, a exemplo do WinFS, do Avalon, entre outros. Cada componente desses poderia resultar em uma nova classe inteira de aplicativos poderosos. Porém, como bem relatou o Wall Street Journal na época, os programadores não atuavam como um time. Ao juntar cada pedaço de código que criavam em seus cantinhos, não conseguiram fazer com que todos rodassem juntos.
A Apple, o Linux e até a Google começavam a incomodar a Microsoft no começo dos anos 2000, o que diminuía o tempo para correção de projetos na Gigante de Redmond
Segundo os beta-testers, o Longhorn era terrivelmente instável, cheio de bugs e com sérios problemas de desempenho. Os próprios responsáveis admitiam para a Microsoft que a coisa toda não funcionaria. Bill Gates, que via no WinFS uma ferramenta espetacular, até pensava em dedicar mais tempo para corrigir as coisas, mas a concorrência começava a apertar.
A Apple e o Linux já incomodavam uma liderança que, até o final dos anos 90, era sólida. Além disso, em 2004, a Google entrou em cena e aprimorava uma ferramenta de busca que funcionaria na área de trabalho, capaz de oferecer até mesmo algumas funcionalidades que o WinFS não tinha habilidades para realizar.
Vale destacar que nesse período a Microsoft era dona do monopólio de software corporativo e entre suas vantagens estavam justamente as constantes revisões de bugs e atualizações frequentes. Portanto, tempo era algo que ela não tinha para ajustar as coisas. A maneira mais rápida de resolver essa situação era transformar o Longhorn em um sistema modular, recomeçando do zero, a partir de algo mais simples. Assim, seus códigos independentes poderiam ser removidos ou adicionados à vontade da “coluna cervical”, sem comprometer o todo. E foi o que aconteceu.
A metamorfose para o Windows Vista
A decisão de criar módulos gerou vários conflitos internos. Desistir da versão original do Longhorn, em especial do WinFS, foi um duro golpe para Bill Gates, que se tornou pouco tolerante com os desenvolvedores. Iniciativas com muitos bugs, por exemplo, eram automaticamente eliminadas, sem conversa para correção.
Aos poucos, as versões beta começavam a funcionar e parte da Mesa Diretora da Microsoft estava feliz com os resultados, enquanto Gates e outros programadores mostravam grande descontentamento com o produto.
Depois de várias discussões internas, a Velha Guarda da companhia acabou seduzida pelos entusiastas do projeto e todos acabaram se adaptando ao novo modelo de trabalho. Sem atrasos, o Longhorn teve sua primeira versão final entregue em julho de 2005, rebatizada para Windows Vista. O sistema operacional foi lançado para o grande mercado no final de janeiro de 2007.
O legado do Longhorn
Como bem sabemos, o Vista não vingou e somente com o Windows 7, em 2009, é que o sistema operacional da Microsoft voltou a ser estável e prestigiado como anteriormente. Ainda que o tempo gasto para corrigir os problemas do Longhorn esteja sendo pago até hoje — ao desviar suas atenções para isso, a companhia deixou de se preparar melhor para o mercado de smartphones, por exemplo —, o conceito inicial deixou um legado importante.
Aplicações inicialmente projetadas para o Longhorn, como a Avalon e a Indigo, tornaram-se componentes importantes das atuais versões do Windows
O WinFS, por exemplo, representou um importante passo para superar a hierarquia entre pasta e arquivo nos mecanismos de buscas e os PCs poderiam ter melhor desempenho nessa área se ele fosse melhor desenvolvido. O Avalon se tornou o Windows Presentation Foundation, a linguagem gráfica presente até hoje nos programas da Microsoft, incluindo o Silverlight. Já o Indigo virou a base Windows Communication Foundations, usada para as aplicações orientadas aos serviços.
Foi com o Longhorn que vieram a barra lateral e o Menu Iniciar mais robusto, além do Windows Explorer com mais opções de customização e acessibilidade — incluindo um tocador de mídia embutido. O próprio Internet Explorer ganhou funções mais modernas para a época.
E, ainda que o Longhorn tenha trazido uma das interfaces mais atraentes vistas (sem trocadilho) em um Windows, seu maior legado foi mudar a filosofia de trabalho na empresa. Os modelos de testes e builds, com a ajuda da comunidade por meio do Microsoft Insider, só nasceram após a turbulência que decretou o fim daquele projeto.
Fontes
Categorias