Um dos grandes destaques da Google durante sua conferência para desenvolvedores em maio, a I/O 2018, foi o Duplex, um software capaz de imitar as falas de um ser humano com uma perfeição capaz de impressionar e também assustar. Depois ter ser criticada por questões éticas — afinal, como saber se é uma máquina ou pessoa ao telefone? —, a companhia realizou ajustes e nesta semana fez uma exibição fechada com jornalistas antes de abrir para um teste público limitado junto a comerciantes.
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Duplex conta com “humanos reserva” para completar tarefas que não puderam ser concluídas e registrar feedback para melhor o algoritmo
A primeira coisa a ser mostrada foi a nova apresentação do assistente digital, que logo se identifica quando faza uma ligação. “Oi, eu sou o Google Assistente, ligando para fazer uma reserva para um cliente. Essa chamada automática será gravada”, diz a nova introdução, revelada em um evento nesta terça-feira (27), em Mountain View.
A impressão inicial de quem esteve por lá é que sim, o Duplex funciona exatamente como apareceu no I/O 2018. Ou seja, a fala é muito parecida com a de uma pessoa, incluindo o respeito às entonações e diferentes jeitos de pronunciar as palavras, de acordo com o contexto. Isso sem contar os “uh”, “hum”, “ah” e outros maneirismos que costumamos utilizar na linguagem coloquial.
Em seguida, houve certa discussão sobre alguns parâmetros, como a gravação do registro ou a ausência da mesma, em relação às leis estaduais nos Estados Unidos. Em algumas localidades, isso é obrigatório, mas, por outro lado, muitas pessoas podem optar por não querer falar com uma máquina da Google em uma conversa gravada, por isso, parte do diálogo com a imprensa foi para abordar questões técnicas em relação às legais.
Teste aberto apenas com estabelecimentos comerciais
Como o Duplex envolve uma rígida revisão com os novos princípios de inteligência artificial, publicadas pela própria Gigante das Buscas, ele deve ser liberado muito lentamente, para que não haja tanta polêmica justamente com relação às partes legais e éticas sobre seu funcionamento. Por isso, inicialmente ele deve ser direcionado especificamente para os negócios e deve ser liberado no segundo semestre.
Ou seja, ele será utilizado em beta aberto limitado para agendar serviços. Quem não oferece algo nessa linha, poderá se ajustar à ferramenta em um portal chamado “Google My Business”, responsável por detalhar os parâmetros que podem ser utilizados para que alguém use o estabelecimento em conjunto com o Duplex.
Aliás, com a própria permissão cedida do seu Google Assistente para o Duplex já há a necessidade de certas permissões para que você possa, por exemplo, compartilhar seu telefone ou endereço de email — ou ambos.
Calma, os humanos continuam participando do processo
O Duplex pode ser parecer muito com uma pessoa e vem se desenvolvendo de forma bastante dinâmica, a ponto de manter uma conversa mais longa, inclusive aguardando certo tempo de resposta antes de oferecer mais feedback. Mas ainda precisa dos humanos para continuar se aperfeiçoando.
Os “reservas” têm duas funções principais: a de lidar com as chamadas as quais o Duplex não conseguiu realizar suas tarefas com sucesso e a de anotar o desempenho para incluir nos algoritmos e treinar a IA para que ela seja melhor da próxima vez.
Por fim, todos que testaram essa “demonstração 2.0” concordaram que há futuro para essa tecnologia, especialmente no uso como secretário para compromissos. Mas, como as questões “offline” são muito relevantes nessa área, antes de liberar o Duplex para o grande público, a Google deve passar ainda um bom tempo adequando seu funcionamento com a realidade, as leis e as respostas dos seres humanos.