O Android existe de uma forma semelhante à que o conhecemos atualmente há 10 anos. O seu debute, em 2008, trouxe uma plataforma baseada no Linux que poucos anos depois se tornaria o sistema operacional (SO) mais usado em todo o planeta, superando inclusive o Windows. Mas o que significa dizer que o Android é um SO “baseado no Linux”? O Android é Linux?
Essa pergunta não tem uma resposta fácil e ela inclusive pode ser contraditória dependendo de quem responde. É possível até mesmo dizer que o Android é e não é — ao mesmo tempo — uma versão de Linux. Isso pode parecer complicado, mas tudo será explicado de forma clara nas próximas linhas.
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Primeiramente, vale ressaltar logo de cara que o Android utiliza, sim, o kernel Linux, ele é construído a partir disso. Kernel nada mais é do que a interface que faz a comunicação entre software e hardware em um computador, gerenciando, por exemplo, o uso de memória RAM e processamento.
Android é Linux?
É possível até mesmo conferir a versão do kernel Linux instalada em seu dispositivo Android indo às configurações do sistema. Levando isso em conta, fica fácil dizer que o Android é Linux, correto? Tem quem defenda essa posição, mas ela não é definitiva. E isso porque “ser Linux” demanda muito mais do que apenas utilizar o kernel Linux.
O que é um sistema Linux?
Chama-se de “Linux” genericamente qualquer sistema operacional construído em cima do kernel Linux. Como ele é open source e pode ser usado gratuitamente, qualquer um pode construir o seu próprio sistema adicionando interface de usuário, biblioteca de arquivos e programas. Muitos defendem o uso da expressão GNU/Linux para os sistemas operacionais, visto que ela contempla tanto o kernel (Linux) quanto o sistema (GNU).
Graças a essas características, instituições, empresas e governos desenvolvem seus próprios sistemas, criando uma miríade de distribuições entre as quais estão Debian, Fedora, Ubuntu, OpenSUSE e RedHat. Tomando isso como base, podemos dizer, então, que o Android é um tipo de distribuição Linux, afinal ele tem como base exatamente o kernel.
Mas essa informação está incompleta. E a e parte da divisão que torna o Android um sistema baseado no Linux, mas não um Linux propriamente dito, é justamente as modificações feitas no kernel do sistema, a ausência de suporte para a biblioteca de programas GNU e também o modelo de gestão e desenvolvimento mantido pela Google.
Ubuntu é a distribuição de Linux mais popular da atualidade.
Apesar de trazer o kernel Linux em seu coração, o Android conta com modificações específicas e exclusivas feitas pela Google. O site Embbed Linux Wiki, por exemplo, lista algumas especificidades do kernel que estão presentes apenas no sistema mobile e “não são parte do kernel padrão e estão disponíveis apenas no kernel do Android no Android Open Source Project.”
Ou seja, o kernel do Android não é o padrão utilizado por outras distribuições de Linux. Contudo, visto que o kernel é distribuído sob a GNU General Public License, ele pode ser modificado, e muitas organizações responsáveis por distribuições Linux fazem isso. O próprio eLinux.org informa que as modificações feitas no Android não são tão extremas a ponto de descaracterizar o sistema. Então, esse é mais um ponto de dúvida e que não esclarece se o Android é ou não Linux.
A controvérsia continua
Durante a Google I/O de 2010, o engenheiro da Google Patrick Brady foi bem claro ao afirmar que “o Android não é Linux”, apesar de ser desenvolvido sobre o núcleo Linux. Ele cita como justificativa para isso os fatos de o Android não ter um sistema nativo de janelas, não ter suporte à biblioteca GNU gblic (o que impede, por exemplo, que programas de Linux rodem no Android) e ainda não contar com “o pacote completo de utilidades padrão Linux”.
O núcleo Linux foi somado ao sistema GNU em 1992 para formar o que ficou conhecido como GNU/Linux (a junção entre kernel e sistema, como explicado anteriormente). Essa combinação é justamente o sistema operacional em si, então, como o Android não tem suporte para softwares GNU, muita gente não o vê como uma distribuição Linux convencional.
Android é o sistema operacional mais usado no mundo.
Outro ponto importante a ser levado em conta é o fato de o Android ser um produto desenvolvido de forma bastante restritiva e controlada pela Google. Ele é oferecido gratuitamente a outras empresas por meio do Android Open Source Project (AOSP), mas a gigante de Mountain View é bem clara ao afirmar que ela “detém a responsabilidade pela direção estratégica do Android como plataforma e como produto”.
Ou seja, o sistema todo é desenvolvido de maneira privada pela Google, o que dá a ele algumas amarras proprietárias, digamos assim. Essa característica é importante e acaba por afastar filosoficamente o sistema mobile daquilo que se concebe como uma típica distribuição de Linux.
Baseado no Linux
Se o critério básico for o uso do kernel para que um sistema seja considerado Linux, o Android é, de fato, sistema Linux. Contudo, se a base para a análise levar em conta também outros critérios, como suporte a softwares GNU e a presença de um sistema de janelas, é possível afirmar que o sistema mobile da Google não é uma distro.
Há quem diga ainda que o Android é um fork do Linux, ou seja, um projeto que se separou e hoje trilha um caminho independente, evoluindo e sendo desenvolvido em um ritmo diferente do Linux puro. Essa posição é defendida, inclusive, por Linus Torvalds, que acredita que Android e Linux voltarão a caminhar juntos no futuro.
É difícil estabelecer um consenso, mas é evidente que o sistema operacional mais usado no mundo hoje utilizou e utiliza a tecnologia criada por Torvalds e oferecida ao mundo gratuitamente. Assim, provavelmente, o mais apropriado seja chamar o Android de um sistema baseado no Linux e não de uma distribuição de Linux ou um sistema GNU/Linux.
O que você acha? Usar o kernel Linux é o suficiente para taxar o Android como uma distribuição de Linux ou um sistema precisa atender a outros pré-requisitos para ser qualificado desta forma? Deixa a sua opinião aí nos comentários.
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