As selfies estão por toda a parte pela internet. Se você usa redes sociais como o Instagram e o Facebook, é praticamente impossível não se deparar com dezenas dessas postagens todos os dias.
Apesar de parecer um fenômeno novo, os autorretratos existem há muito tempo, até mesmo antes da própria fotografia existir. Ou seja, o termo selfie não surgiu para mostrar uma nova tendência, e sim para nomear algo que já existe, literalmente, há séculos.
Ao longo de toda a história da arte, é possível ver que pintores e escultores usaram as suas técnicas pessoais para retratar os seus rostos em quadros e esculturas — a imagem abaixo, por exemplo, é um recorte de um dos trabalhos mais famosos de Vincent Van Gogh.
Porém, como tirar uma foto desse tipo atualmente é tão fácil, o fenômeno das selfies parece mais atual do que nunca. As câmeras frontais nos celulares, combinadas a plataformas de compartilhamento rápido e com feedback instantâneo (como é o caso do Instagram e do Snapchat), parecem ter levado o conceito de autorretrato a um novo patamar. O que isso diz sobre nós?
Estamos mais vaidosos?
Existem muitas pessoas que costumam criticar as fotografias nesse estilo, dizendo que as selfies são recursos usados exclusivamente para autoafirmação, mostrando um desejo egoísta por reconhecimento e até um vazio pessoal. Ou seja, postar uma foto dessas revelaria insegurança e necessidade extrema de validação.
O problema desse pensamento é o que ele não leva em conta. A verdade é que requer uma grande dose de segurança para tirar uma foto e compartilhá-la online para que todos vejam. Alguns pesquisadores, como mostra este estudo da Indiana University, afirmam que o compartilhamento de autorretratos na verdade fortalece a autoestima e permite ter um maior domínio sobre o seu corpo e as noções sociais de beleza.
Apesar disso estar associado negativamente com uma vaidade extrema, as selfies ajudam muitas pessoas a se aceitar melhor e ganhar confiança pessoal dentro e fora da internet. Ambientes como o Tumblr, por exemplo, formam comunidades de apoio nas quais as fotografias compartilhadas servem de estímulo positivo para jovens com dificuldades de aceitação.
É claro que, quando em excesso, o compartilhamento de selfies pode sim indicar um problema. Perfis no Instagram que trazem exclusivamente esse tipo de foto são comumente associados a pessoas que possuem uma personalidade narcisista e preocupada em ganhar a aprovação dos outros.
Fama e aproximação
Se as selfies nos deixaram mais vaidosos ou não, é difícil dizer, mas existe um aspecto incontestável dessa moda: esse tipo de fotografia aproximou os artistas e os seus fãs de uma forma que possivelmente nenhum outro recurso foi capaz de fazer.
Perfis pessoais de celebridades no Instagram, Facebook e Twitter agora mostram os seus artistas favoritos no dia a dia, em fotografias com pouca produção e fazendo atividades normais. Esse costume acaba aproximando o público e cria uma relação mais pessoal com os artistas.
As selfies tiradas pelo presidente americano Obama, por exemplo, ajudam a trazê-lo para uma realidade mais próxima dos seus eleitores, tornando-o mais “humano” e “normal” — uma jogada de mestre da sua equipe de marketing. O autorretrato tirado com os artistas no Oscar de 2014 é outro exemplo de foto que conseguiu tirar o aspecto formal de um evento e aproximá-lo do público, sendo a imagem com mais RTs da história no Twitter.
A ideia de que pessoas como o presidente dos Estados Unidos, artistas de cinema e até o Papa gastem alguns segundos fazendo algo tão banal como tirar uma selfie para postar nas redes sociais acaba, de certa forma, tornando-os menos distantes da realidade. Parece exagero, mas esse tipo de retrato ajuda o público a se identificar com essas pessoas de forma mais humana.
Benefícios sociais
Muito além das selfies individuais postadas nas redes, alguns cientistas sociais afirmam que os autorretratos em grupo possuem pontos positivos que vão além dos likes no Facebook ou no Instagram. Para a Dra. Andrea Letamendi, pesquisadora da UCLA, os autorretratos ajudam os jovens a formar uma identidade visual própria e a criar laços com outras pessoas.
Segundo a pesquisadora, por estarmos imersos em uma cultura digital, compartilhar na rede esses momentos de intimidade com outras pessoas acaba ajudando a reforçar a inclusão social, principalmente dos mais jovens. Isso explica bastante o sucesso de apps como o Snapchat e o Instagram.
Apesar das análises e estudos sociais, dificilmente chegaremos a um consenso sobre o assunto. Parte das pessoas consideram essa prática um recurso superficial para ganhar likes, outras preferem enxergar nas selfies uma forma de melhorar a sua autoimagem e conquistar mais controle sobre a sua aparência.
A verdade é que, independentemente de como você enxerga essa prática, as selfies no mundo digital estão aí pra ficar. Depois de séculos em uso, a tendência é que elas continuem ajudando a moldar as relações sociais dentro e fora do ambiente virtual — só nos resta esperar para saber o que isso vai significar para as próximas gerações.
Categorias