Cartões de Crédito do futuro

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Dinheiro. Palavra que faz os olhos de muita gente brilharem. A história do dinheiro é quase tão antiga quanto à do próprio homem. Há muito tempo a humanidade troca coisas por outras coisas.  O início foi o escambo, ou melhor, a troca de mercadorias excedentes por outras. Até o sal já foi considerado um bem valioso para troca, pois de onde você acha que vem o termo “salário”? A descoberta de metais preciosos como ouro, cobre e prata deu uma nova conotação às trocas, pois ao invés de trocar o feijão pelo arroz, era muito mais simples levar algumas moedas e trocá-las por produtos.

Mesmo com a facilidade das moedas, o acúmulo, comum entre os comerciantes, acarretava outros problemas: o peso e a segurança. Sendo assim, era mais fácil e seguro deixá-las em cofres. Com esta prática surgiram as cédulas, que no início nada mais eram do que os recibos dados pelos “guardadores de moedas” que passavam de mão em mão e valiam a quantia que estava nos cofres.  O cartão de crédito ou “dinheiro de plástico”, começou a ser usado  de forma rudimentar na década de 1920, mas só em 1950, e ainda por acaso,  ele  se disseminou melhor.

Transição de pagamentos

Momentos e necessidades

Com esta super síntese da história do dinheiro, é possível entender que a cada nova necessidade o homem adaptava o dinheiro a ela. É fato que o dinheiro faz parte  da vida e, para muitos, ele é a própria razão de viver. Além do contexto histórico, o dinheiro tem muita importância na constituição das relações sociais, assim como afirma o sociólogo Georg Simmel, pois para ele o dinheiro serve para trazer a impessoalidade às relações sociais, pois onde há  laços de sangue, por exemplo, hoje existem cifras.

DInheiro e necessidades

Mas como nem a história nem a sociedade param para acompanhar os saltos da humanidade na área de tecnologia, os instrumentos de troca se modernizaram e continuam a evoluir. Duas novas maneiras de realizar pagamentos estão em testes no Brasil: Contacless e Near Field Communication. Conheça mais sobre as tecnologias que estarão no seu bolso nos próximos anos ou meses.

Contacless e agilidade

Todo mundo já deve ter enfrentado uma fila enorme em alguma loja, cinema, padaria ou qualquer comércio pelo menos uma vez na vida. Pois é, mas isso tende a acabar. As duas maiores bandeiras de cartões de crédito do mundo entraram na briga da tecnologia Contacless (sem contato). Ela permite o uso de um novo tipo de cartão de crédito e/ou débito que só precisa ser aproximado do terminal de compra para que ela seja paga.

Novas tecnologias na briga

No Brasil os primeiros testes foram feitos pela Visa, na rede de lojas Starbucks em 2008, mas desde 2004 o mercado brasileiro era estudado para a implantação do Contactless. Em parceria com o banco Bradesco, foi lançado o Bradesco Visa payWave e a principal intenção  dessa nova tecnologia é reduzir as filas e permitir que os clientes concluam suas compras com mais rapidez, sem precisar esperar para assinar comprovantes e, até mesmo, apresentar documento de identificação. A Visa não é unanimidade neste assunto, pois sua principal concorrente, a Mastercard, também possui um produto com a tecnologia Contacless chamada  Paypass. Os cartões da bandeira funcionam da mesma forma que o payWave, porém não há indícios de que a Mastercard tenha realizado testes no Brasil.

Como isso vai funcionar?

Você deve estar se perguntando: “Como é possível apenas aproximar o cartão da máquina de cobrança e ele realizar o pagamento?”. De acordo com a Visa, o payWave funciona com um antena instalada no terminal de pagamento e outra embutida dentro do cartão do portador. Através de uma troca de dados por radiofrequência entre o terminal de pagamento e o cartão, o pagamento é realizado. Contudo, por motivos de segurança durante os testes, o limite de compras em payWave é de R$ 100. Por outro lado, de acordo com Marcelo Serralha, diretor de Tecnologia e Produtos e Canais Emergentes da Visa, este limite será avaliado e pode sofrer modificações de acordo com a demanda do mercado, ou seja, ser maior ou menor.

Pagamento da VisaPagamento sem contato Master

Os cartões que possuem esta nova tecnologia são sinalizados com pequenas ondas brancas e/ou o nome da tecnologia, no caso da Visa, e o nome payPass nos cartões Mastercard. Os estabelecimentos que já possuem suporte  para o Contacless também são identificados com as marcas de cada bandeira.

Novos cartõesNovidades na Master

Ficou interessado? Então, confira no vídeo abaixo o que já é possível fazer com o Contacless em suas mãos.

NFC=Dinheiro no celular

Outra tecnologia não muito recente, mas que está chegando agora ao Brasil para a área de pagamentos é a NFC. Acrônimo de Near Field Communication ou Campo Próximo de Comunicação, em tradução livre, é considerada a nova era dos pagamentos via celular. A tecnologia NFC tem como principal objetivo diminuir o tempo perdido em filas e a burocracia das compras com cartões, que exigem senhas ou assinaturas do portador. 

De acordo com Marcelo Serralha, o foco da utilização do NFC é  a realização de compras de valores baixos (o cafezinho, revistas, jornais, lanches).Para avaliar este novo formato de pagamento, a Visa se uniu ao Banco do Brasil e ao Bradesco em um programa piloto de testes. De acordo com a Visa, assim que o NFC começar a ser usado comercialmente, os clientes que possuírem celulares com o NFC só precisarão fazer compras em pontos de venda com suporte  para a tecnologia para realizar transações usando o aparelho.

Como esta nova tecnologia funciona?

Assim como o Bluetooth, o NFC é uma tecnologia sem fio e de curto alcance que permite a troca de informações entre dispositivos compatíveis. O padrão foi adotado pela indústria financeira por oferecer maior flexibilidade e, essencialmente, segurança. A lógica de funcionamento do payWave da Visa e payPass da Mastercard é quase  a mesma do NFC, porém ao invés de um cartão, o usuário aproximará o celular do terminal de pagamento.

Porém não são todos os celulares que permitem o uso do NFC para pagamentos. A Visa e os bancos realizaram uma parceria com a Nokia e a Claro, além da aprovação da ANATEL, para que os aparelhos pudessem ser testados no Brasil. O modelo utilizado nos testes da Visa é o Nokia 6212 Classic, que ainda não está disponível para compra no país. Além do Nokia 6212, a empresa finlandesa oferece outro modelo com a tecnologia, o Nokia 6131 NFC. Como o mercado da telefonia móvel é muito acirrado, outras empresas também lançaram ou vão lançar em breve telefones com NFC. A LG tem o KU380-NFC, já a Samsung oferece o SGH-X700 e a Sony Ericsson tem em sua linha o K810 — nenhum deles disponível no Brasil.


K810     Nokia 6212 Samsung oferece o SGH-X700 KU380 - NFC

Só para gastar?

Nem só para pagamentos a tecnologia NFC pode ser usada. Outras formas de uso estão sendo implantadas como: o fornecimento de mais informações em cartazes promocionais, produtos em supermercados e até a comunicação entre celulares e impressoras. Veja a seguir o que já é possível fazer com esta nova tecnologia.

Assim mesmo?

Ainda não dá para saber muita coisa, não é? Como se trata de  radiofrequência, como será a segurança? Por que foi adotado o NFC ao invés do Bluetooth? Por que só agora há a possibilidade de pagamentos com o celular? Para responder todas essas perguntas, o Baixaki entrevistou o diretor de Tecnologia e Produtos e Canais Emergentes da Visa, Marcelo Serralha. Confira abaixo o que o representante da Visa tem a dizer sobre a implantação do seu produto no mercado brasileiro.

Baixaki Que fatores levaram a Visa a adotar no Brasil estas tecnologias? Há quantos anos ela já é utilizada em outros lugares?

Serralha: "Uma das funções da Visa é atender as solicitações dos clientes, sejam eles bancos ou portadores de cartões. Desta forma, não dá para imaginar o Brasil, com a importância que vem assumindo na economia, com grandes bancos e grande número de aparelhos celulares ficando  de fora de qualquer movimento que ganhe força globalmente. O principal objetivo da Visa é atender uma demanda de novas tecnologias.  Nesse sentido, uma iniciativa da Visa global é alavancar na utilização do celular como canal de pagamento no Brasil. Há alguns anos esta tecnologia vem sendo discutida e testada, o primeiro Trial comercial foi feito na Malásia em abril deste ano".

BAIXAKI - Qual a diferença entre as tecnologias payWave e pagamento via celular?

Serralha: "Uma das frentes de trabalho da Visa é estender e melhorar a utilização dos cartões físicos. Há no Brasil um campo gigantesco de transações de pequeno valor e às vezes as pessoas vão a um estabelecimento e ficam inibidas em usar o cartão. Até os comerciantes evitam receber pequenos valores em cartão de crédito.  Para isso, a Visa fez uma iniciativa chamada payWave,  a qual permite, através de um pagamento por proximidade,  realizar um pagamento extremamente rápido. Com essa rapidez, os lojistas começam a perceber o valor dos pagamentos de pequeno valor utilizando o cartão.  Para o portador, ele se torna mais conveniente, pois não é preciso lidar com troco, moedas etc. Outra possibilidade de uso é a convergência de cartões Contacless com o pagamento de transporte público. Hoje isso não é uma realidade, mas o lançamento do Visa payWave em junho do ano passado é um passo importante para a concretização  da tecnologia. Para o celular, a Visa tem outra estratégia.  Para nós, ele é um canal de pagamento, ou seja, no futuro em alguns ambientes, por questão de conveniência, eu poderia deixar o meu cartão em casa e levar o meu celular. Então, a ideia do NFC no Brasil é amadurecer a tecnologia e verificar a aceitação. O desafio é mostrar que por conveniência em uma praia, por exemplo, se eu saio de casa apenas com meu celular eu vou estar apto a realizar pagamentos.  Portanto, se eu for à praia posso optar pelo uso do meu cartão payWave ou meu celular com NFC. No último dia 25 de agosto foi lançado o mesmo tipo de pagamento payWave lançado em 2008 em cartões, embutido em um celular".

Desafio da conveniência

BAIXAKI - A migração dos cartões de tarja para os de chip foi lenta. Isso vai se repetir com o Contacless? Qual a estimativa de tempo para a transição do chip para o payWave?

Serralha: "Essa transição deve obedecer a uma curva parecida com todas as demais tecnologias. A transição do vinil para o CD foi muito discutida, porque exigia padronização e tudo mais, já do CD para o DVD foi mais rápida, porque já havia a mídia, a indústria estabelecida e um padrão preconcebido. A grande dificuldade para implementação do chip foi a criação do padrão interoperável globalmente; hoje ele é conhecido como EMV (European Mastercard Visa) - são as empresas que criaram inicialmente um padrão para transações com chip. O Contacless é uma camada acima  dessa padronização, assim esperamos um ciclo de implementação menor. Obviamente, temos um desafio que é a atualização dos terminais dos lojistas e dos cartões dos portadores. Mas isso tende a ocorrer gradualmente, só que com um ciclo menor do que a transição de tarja para chip".

BAIXAKI Por que somente em 2009 as empresas resolveram investir na área de pagamentos via celular, já que hoje temos mais de 164 milhões de aparelhos?

Serralha: "Não se trata de um problema técnico, se trata de um problema de negócio e padronização. Tanto para indústria financeira quanto para a indústria de Telecom, existe um conceito fundamental chamado escala e você só tem escala com padronização. Normalmente as primeiras soluções que entram no mercado são pequenas e proprietárias, depois com o tempo, com uma promessa de escala, as empresas maiores entram, mas aí com potencial total".

BAIXAKI - Como será garantida a segurança pelo NFC?

Serralha: "Quando se começou a falar sobre tecnologia de pagamento por proximidade exigia-se a necessidade de se criar um standard para isso. Então a Visa fez todo um trabalho e criou o Visa payWave. Quando foi sugerido inserir a tecnologia nos celulares, novamente a indústria discutiu, identificou e criou uma especificação para  micropagamentos por proximidade chamado NFC.  Um dos elementos desta tecnologia é o “Elemento Seguro”. Esse “Elemento Seguro” é um “bloquinho” que segue rigorosamente todos os requisitos de segurança que o chip de cartão, já aprovado por outras bandeiras, também segue. Então, a partir do momento que eu tenho um chip ou um espaço dentro de um celular que segue todos os requisitos de segurança, eu fico confortável para utilizar a aplicação do Contacless dos cartões dentro dos telefones. Em termos de segurança, tem-se exatamente a mesma segurança que um pagamento via Visa payWave".

E a segurança?

BAIXAKI Em relações aos roubos. Qual é o risco se o usuário tiver seu celular roubado?

Serralha: "Hoje, quando você tem um cartão roubado, como há a senha, basta ligar na central e solicitar o bloqueio. Quando você estender a tecnologia para um celular, é uma recomendação nossa para garantir o máximo de conveniência, que você tenha um limite estipulado pelo banco, por cartão ou por pessoa. Sendo assim, eu consigo usar meu celular para pagamentos com limite de R$100 reais sem senha.  No caso do cartão ou celular, se eu tiver um dos dois roubados e eu não comunicar a tempo ao banco, pode haver este risco. É a mesmo coisa se alguém me desse uma nota de R$100 e eu a perdesse. Os limites serão definidos pelo perfil do cliente, assim como é feito atualmente, de acordo com a renda, por exemplo. No caso do celular, mais especificamente, há um aplicativo Visa dentro do aparelho que permite ao portador criar uma senha para os pagamentos. Como no celular há uma interface, é possível oferecer ao cliente a conveniência de se ter ou não uma senha".

BAIXAKI - Qual a diferença do NFC para o Bluetooth? Por que o Bluetooth não foi utilizado já que é mais comum nos celulares?

Serralha: "O Bluetooth foi criado como uma solução de microrrede sem fio. Ela é uma tecnologia desenvolvida inicialmente e, até hoje, para a transferência de dados. O NFC não, ela é uma tecnologia desenvolvida para micropagamentos e existe uma diferença gigantesca de modelo e de segurança".

A transição das tecnologias

BAIXAKI Com um limite pequeno de crédito, o uso não ficaria muito limitado?

Serralha: "Pelo contrário. Pesquisas recentes nos mostram um universo gigantesco no Brasil de  micropagamentos. É a pessoa que toma cafezinho, que come um lanche, que compra um chiclete. Todos esses micropagamentos que hoje você faz usando dinheiro poderiam ser convertidos para o pagamento através do Contacless.  A utilização de micropagamento é uma recomendação atual da Visa, mas já existem mercados, por exemplo, o asiático, que fizeram uma solicitação  à Visa  Global para maiores valores. O limite de crédito vai variar de acordo com a demanda do país, mas a tecnologia foi desenvolvida para resolver o problema do  micropagamento".

BAIXAKI Quando a tecnologia for implantada comercialmente, o consumidor final terá que adquirir outro celular?

Serralha: "Isso é exatamente o que aconteceu com o Bluetooth. No início, quando você queria um celular com Bluetooth você pagava mais por isso, porque poucos modelos tinham. Com o NFC é a mesma coisa.  Ele não está disponível no Brasil, tanto que para fazer este lançamento dia 25 de agosto, o Nokia 6212 NFC recebeu uma licença específica para testes no país. Obviamente, um dos possíveis resultados deste piloto é a comercialização de aparelhos NFC no Brasil". 

BAIXAKI As lojas já estão preparadas para essas novas modalidades de pagamentos ou isso ocorrerá gradualmente?

Serralha: "Isso deve ocorrer gradualmente. Existem alguns nichos de loja que são mais beneficiados com este tipo de pagamento, por exemplo, lojas de atendimento rápido, onde o lojista tem o interesse em fornecer um atendimento acelerado ao cliente. Aí o portador do cartão vê valor, pois há uma forma mais simples e rápida de pagar.   Além da segurança e minimização das filas".

Sua carteira no século XXI

A tecnologia não para nunca e, pelo o que parece, teremos carteiras mais tecnológicas e modernas, pois desde a proposta de um documento único de identificação, até os cartões de crédito tendem a virar multitarefas. Além disso, o celular que servia apenas para ligações se tornou uma ferramenta que agrega a comunicação, diversão, trabalho e pagamentos em um único equipamento. De acordo com Serralha ,  essas tecnologias chegam exatamente para facilitar a vida do usuário, pois ao invés de levar vários cartões ou dinheiro, você pode levar apenas o celular, encontrando nele tudo o que precisa.  Se faltar algo, use-o para comprar.

E você usuário? O que acha do futuro dos pagamentos no Brasil? Será que esse acesso facilitado ao crédito não transformaria o país em uma nação de endividados, ou você não vê a hora de usar a tecnologia de pagamento por proximidade? Não perca mais tempo e deixe seu comentário, afinal “tempo é dinheiro”.

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