A Apple anunciou, na semana passada, novas ações para proteger as crianças de material abusivo e sexualmente explícito, que estão gerando preocupação de críticos e até de seus próprios funcionários. Para encontrar conteúdos nocivos, a empresa pretende escanear telefones e computadores de seus clientes nos Estados Unidos.
Em um canal interno da fabricante de iPhones no aplicativo Slack, existem mais de 800 mensagens de empregados contra as novas medidas, de acordo com fontes anônimas ouvidas pela agência de notícias Reuters. Os funcionários estão preocupados que o recurso possa ser utilizado por governos autoritários em busca de material para censura e prisões.
O volume e a duração em torno do novo debate são surpreendentes, afirmam os trabalhadores. Alguns posts expressam a preocupação de que a Apple possa prejudicar a sua reputação de liderança na proteção à privacidade.
A maioria das reclamações parece não ter vindo de funcionários de responsáveis pela segurança de dados da empresa. Algumas das mensagens afirmam que a solução da Apple é uma resposta razoável à pressão para reprimir o conteúdo ilegal.
A Apple não quis se pronunciar sobre o assunto, mas anunciou que recusará pedidos de governos para usar o sistema para verificar telefones para qualquer coisa que não seja material de abuso sexual infantil.
Privacidade x atividades ilegais
Busca por imagens de abuso sexual infantil em dispositivos da Apple podem comprometer reputação da empresa, temem funcionários. (Fonte: Apple/Reprodução)Fonte: Apple/Reprodução
Em 2016, a Apple ganhou um processo judicial contra o FBI, que queria o desenvolvimento de uma ferramenta para invadir o iPhone de um suspeito de terrorismo. Na época, a empresa argumentou que o recurso seria inevitavelmente usado para invadir dispositivos por outros motivos.
No entanto, com menos divulgação, a Apple tomou outras decisões técnicas que ajudam as autoridades. Entre elas, decidiu abandonar um plano para criptografar backups do iCloud e concordou em armazenar dados de usuários chineses naquele país.
Os críticos apontam que o principal problema do novo plano da Apple de escanear imagens de abuso infantil é que a empresa está tomando decisões que podem ser mudadas. Uma vez que a ferramenta estiver disponível, poderá ser utilizada para outros meios, exatamente da mesma forma que avisou que aconteceria quando se recusou a invadir o telefone do suspeito de terrorismo.
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