(Fonte da imagem: Reprodução/Wired)
O uso de sistemas de segurança baseados em biometria está dificultando a vida de agências e companhias que dependem muito da espionagem. Enquanto equipamentos do tipo evitam atividades terroristas e ajudam na captura de criminosos, eles também tornam mais problemático o trabalho daquelas pessoas cuja profissão depende do anonimato.
Locais movimentados como Dubai, Jordânia, Índia e muitos aeroportos que servem de entrada para a União Europeia estão empregando scanners de íris que ligam os olhos de uma pessoa a uma única identidade, o que impede que alguém passe pelo mesmo lugar usando identidades diferentes.
Outro ponto que dificulta a vida de espiões é o emprego cada vez maior de passaportes que acompanham chips contendo informações como o sexo, as impressões digitais, local e data de nascimento, entre outros detalhes pessoais de seus donos. Documentos do tipo podem representar uma viagem só de ida para salas de interrogação para muitos agentes que costumam viajar usando nomes falsos.
Assunto delicado
“Se você vai a um país com um nome, você não pode voltar lá com outra identidade”, afirmou um consultor da CIA à Wired. “Então, se torna algo que só pode acontecer uma vez — e está feito. Os dados biométricos de seu passaporte, e talvez as características de suas íris, foram ligados permanentemente ao nome que constava no documento. Você não pode aparecer novamente no mesmo lugar usando uma identidade diferente”, complementa.
O assunto é tratado com muita cautela por quem trabalha com operações secretas, já que tecnologias do tipo podem representar uma ameaça à segurança nacional de muitos países. A maioria das pessoas que aceita falar sobre o assunto faz isso de forma anônima.
Mudança dos tempos
Nos “velhos tempos” (antes dos ataques de 11 de setembro), agentes disfarçados da CIA podiam usar e descartar passaportes falsos à vontade. “A única maneira que os agentes de imigração tinham de dizer que um documento era falso era olhar com atenção selos, papéis, fotografias e outros detalhes”, afirmou ao site um agente aposentado da CIA que usava disfarces para trabalhar em projetos considerados sensíveis pela agência.
(Fonte da imagem: Reprodução/Wired)
Naquela época, uma pessoa podia chegar à Dubai usando um passaporte e, em seguida, pegar outro totalmente diferente em um posto local da agência para se registrar em um hotel que servia como base de operações. O processo podia ser repetido diversas vezes sem nenhum problema — a cada vez, o funcionário apresentava um nome e dados pessoais completamente diferentes.
Os sistemas de biometria tornam isso totalmente impossível. Até mesmo cruzar a fronteira com um documento real e apresentar uma identidade falsa dentro de um país apresenta grandes riscos. “Quando você dá entrada em um hotel para encontrar um contato ou até mesmo aluga um carro para ir até uma reunião — ou a realiza dentro do próprio veículo —, você pode ter seus dados enviados às agências de imigração”, explica o ex-agente. “Muitos agentes de imigração checam para ver se o seu visto expirou. Mas quando o sistema mostra que você sequer entrou no país, a polícia aparece para fazer algumas perguntas”, complementa.
Trabalho de espionagem prejudicado
Quando as operações da CIA acontecem em países cujas agências de inteligência colaboram com os Estados Unidos, entradas e saídas podem ser arranjadas de forma mais fácil. Situação que não ocorre com operações unilaterais, cuja quantidade caiu muito nos últimos tempos devido às novas tecnologias de segurança.
Tal situação fez com que, após o 11 de setembro, a agência de inteligência norte-americana passasse a contratar estrangeiros, especialmente aqueles com algum tipo de acesso a bancos de dados governamentais. “Pouco antes de eu sair, eles estavam fazendo pedidos para recrutar estrangeiros com acesso a dados de imigração”, afirma o agente aposentado.
Novas táticas
A biometria fez com que a CIA passasse a apostar em táticas diferentes, como no aumento da divisão de tarefas entre múltiplos agentes. Além disso, países cujos sistemas de segurança são mais brandos começaram a receber uma maior quantidade de reuniões secretas. A agência também passou a apelar para o uso de malwares especiais, responsáveis por alterar ou desabilitar totalmente os sistemas de imigração de determinadas localizações.
Atualmente, as análises de íris representam o principal temor dos espiões, já que não é possível simplesmente trocar os próprios olhos para escapar de sistemas do tipo. Porém, devido a questões técnicas, ainda deve demorar certo tempo para que a tecnologia seja empregada em larga escala — tentativas de empregá-la na União Europeia foram mal sucedidas devido às grandes filas que a checagem individual causava.
Porém, pelo que os novos sistemas de segurança indicam, a espionagem deve passar a ser feita cada vez mais no âmbito virtual. Com isso, não se espante se, no próximo filme de James Bond, o famoso agente britânico trocar as viagens a locais paradisíacos e identidades falsas pela tela de um computador.
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