Quem aqui tem seus vinte e tantos anos deve se lembrar da ameaça tecnológica que rondou o mundo na virada do ano 1999 para o 2000: o medo que os computadores teriam uma pane generalizada quando seus calendários mudassem o ano vigente erroneamente para 1900, interferindo no funcionamento de uma infinidade de serviços que já naquela época dependiam dos sistemas computadorizados para funcionar.
O calendário tradicional do Japão, diferentemente do que é usado no Ocidente, depende do imperador em exercício no governo japonês
Acabou que por um esforço enorme de programadores os problemas foram pontuais e o mundo sobreviveu. Mas o que aconteceria hoje, em um mundo ainda mais dependente dos computadores, se algo parecido acontecesse? É esse o risco que o Japão está correndo: uma alteração no calendário tradicional da Terra do Sol Nascente pode colocar em risco operações computadorizadas no país inteiro.
Outro lugar, outro tempo
O calendário tradicional do Japão, diferentemente do que é usado no Ocidente, depende do imperador em exercício no governo japonês. O atual imperador, ou melhor, Sua Majestade Imperial o Imperador Akihito, já com 84 anos e no cargo desde 1989, vai abdicar do trono em abril de 2019 em favor de seu filho Naruhito. Durante os 30 anos de reinado de Akihito, o mundo passou por uma revolução tecnológica e hoje é completamente diferente em termos de computadores do que era na década de 1980.
Por razões políticas ou culturais, o governo, as agências públicas e as instituições financeiras usam esse calendário
Isso significa que todos os sistemas computadorizados cuja programação utiliza a contagem de tempo do calendário japonês, que tem o imperador vigente como base, vão ser afetados pela alteração de governante. Podemos incluir aí setores básicos como os correios, bancos, a venda de bilhetes de transporte e muito mais.
Anne-Léonore Dardenne, especialista em assuntos domésticos e internacionais japoneses, disse à publicação Digital Trends: “Por exemplo, o registro dos pagamentos de impostos poderia ter problemas, assim como a impressão do Juminhyo, um registro dos endereços residenciais atuais mantidos pelos governos locais. Também pode ser impossível retirar dinheiro dos caixas eletrônicos. O calendário japonês é usado em quase todos os documentos oficiais. Por razões políticas ou culturais, o governo, as agências públicas e as instituições financeiras usam esse calendário”.
Especialistas correm atrás
Especialistas no assunto dentro e fora do Japão estão correndo atrás de soluções para minimizar o problema
Até a Microsoft reconheceu os riscos que o sistema de computadores japonês está sofrendo: “Felizmente, este é um evento raro, mas significa que a maioria dos softwares não foi testada para garantir que vai se comportar bem nessa nova era”, explicou Shawn Steele, engenheiro de software da Microsoft. “A magnitude deste evento em sistemas de computação usando o calendário japonês pode ser similar ao bug do milênio com o calendário gregoriano”.
Especialistas no assunto dentro e fora do Japão estão correndo atrás de soluções para minimizar o problema, mas vale lembrar uma coisa importante: o “nosso” bug do milênio não chegou nem perto de ser o grande assombro que todos estavam pensando que seria. Será que no caso do Japão, também não se trata de uma tempestade em copo d’água?
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