Oversharing: quando o compartilhamento de dados foge do controle

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Você é do tipo de pessoa que compartilha muita informação nas redes sociais ou prefere só observar o movimento? Se você se encaixa no primeiro grupo, sinal vermelho: é possível que você esteja desagradando muita gente em seu grupo de contatos.

Há inclusive um termo para o compartilhamento de informações em excesso: oversharing (do inglês, “over”: excesso; e “sharing” compartilhar). Mas por que isso vem acontecendo nas redes sociais e, principalmente, por que as pessoas fazem isso?

Parte do problema é causada porque as redes sociais fazem do compartilhamento algo muito fácil: basta um clique de botão e um rápido download para que quaisquer fotos e vídeos sejam compartilhados no feed do Facebook.

Outra parte do problema pode estar no vício: um estudo de Harvard afirma que redes sociais viciam, e compartilhar obsessivamente é uma atividade que trabalha diretamente sobre os centros dos prazeres do cérebro, proporcionando o mesmo “agrado” que comida, dinheiro e sexo.

Isso é um status, não seu diário.

Não culpe o Facebook

O excesso de informações não é culpa propriamente das redes sociais e está mais ligado a um estado psicológico. Elizabeth Bernstein, colunista do Wall Street Journal, escreveu em seu artigo intitulado “Thank You for Not Sharing” ("Obrigado por Não Compartilhar", em tradução livre), citando pessoas experts no assunto, que o excesso de compartilhamento de informações acontece quando nós estamos tentando subconscientemente controlar nossa própria ansiedade.

Esse esforço é conhecido como “autorregulação”: quando uma grande quantidade de energia mental é usada para gerenciar a impressão que a outra pessoa terá de nós, tentando parecer inteligentes e interessantes, o esforço para isso acaba deixando menos poder para o cérebro filtrar o que dizemos e para quem.

Isso explica por que costumamos deixar escapar coisas embaraçosas para as pessoas que queremos impressionar mais, seja o chefe,o pretendente ou qualquer um do nosso convívio. E provavelmente todas elas estejam nas suas redes sociais.

Obrigado por compartilhar em excesso!

Ninguém aguenta mais

Apesar de ter havido um crescimento no tempo que adolescentes e jovens adultos dos Estados Unidos passam nas redes sociais, uma nova pesquisa citada pela rede de televisão americana CNBC descobriu que, ao mesmo tempo, eles compartilham menos informações. Além disso, cresce o sentimento de frustração com amigos que compartilham em excesso.

Cerca de 25% das pessoas que responderam a pesquisa afirmam que passam um tempo igual ou maior comparado ao ano passado. Porém, aproximadamente 33% disseram que pararam de compartilhar tanto como antes. Já 80% reclamam que as pessoas compartilham demais.

Outro ponto relevante da pesquisa revela um movimento curioso e contraditório: eles reclamam que as pessoas não são “elas mesmas” nas redes sociais – fazendo um julgamento sobre a “vida perfeita” que muita gente pinta –, mas eles mesmos não se sentem bem para retratar suas próprias vidas “reais”.

Logo, embora esses adolescentes e adultos passem mais tempo conectados, eles se preocupam muito mais com sua privacidade e não gostam de ver informações compartilhadas em excesso. Isso explicaria o declínio do Facebook entre este público, além da ascensão dos aplicativos de mensagens, como WhatsApp, Facebook Messenger entre outros – que são muito mais privativos.

Seu constante compartilhamento em excesso no Facebook faz eu querer socar a sua cara

Seguindo em excesso

Para Peggy Drexler, PhD em pesquisas da psicologia e professor assistente do Colégio Médico Weill, da Universidade de Cornell, o problema não é exatamente o excesso de compartilhamento de informações, mas sim o excesso de pessoas que você segue.

Em um artigo para a revista Time, Drexler afirmou que o problema somos nós mesmos, que acompanhamos informações e detalhes da vida de outras pessoas mesmo quando nós não precisamos delas. “Isso é o que mantém as pessoas compartilhando em excesso”, diz ele no post.

“É a nossa vontade de ‘ouvir’ que mantém as pessoas compartilhando”. Porém, segundo ele, nós não estamos dispostos a abandonar este hábito e, por isso, só reclamamos em vez de realmente tomar alguma atitude de forma a evitar o excesso de postagens dos outros. Mas todo mundo sabe que isso é bem fácil de resolver: basta apenas deixar de seguir as pessoas que “praticam” o oversharing.

Sinto muito, o conceito de compartilhamento em excesso ilude você

Brasil exposto

O YouPix fez uma grande pesquisa no Brasil para levantar dados em terras tupiniquins sobre o tema. Foram ouvidos 422 jovens com média de idade de 25 anos e que usam a internet de forma intensa – 58% passam mais de 9 horas por dia conectados.

De acordo com as informações, 86% dos brasileiros falam sobre suas vidas nas redes sociais, contra apenas 14% que não compartilham as suas próprias informações. Dentro do grupo das pessoas que dividem os seus dados, apenas 20% destas pessoas compartilham informações com grupos fechados.

Quando foram questionados sobre os motivos de compartilhar informações nas redes sociais, 38% afirmaram querer dividir suas informações com outras pessoas; para 35% é normal; 22% acreditam que isso aumenta a própria relevância nas redes sociais; 8% fazem isso para conseguir mais amigos/seguidores; 8% agem assim porque “todos compartilham”; e 35% fazem isso por outros motivos.

Quando questionados sobre o excesso de compartilhamento, apenas 32% acreditam que estão dividindo suas informações na web em excesso. Entretanto, 92% – um número quase três vezes maior – acreditam que os outros estão compartilhando demais.

Etiqueta do Facebook: compartilhar em excesso é seu maior problema

O que dá para compartilhar?

Mas, afinal, o que é possível compartilhar? E quanto se deve compartilhar? Obviamente não existe uma regra, mas uma coisa é certa: tudo o que é excessivo não é bom. Por isso, se você está postando muita coisa, saiba que quem acompanha seu feed pode não estar curtindo muito – isso se ela já não tiver cancelado sua inscrição.

Quanto ao tipo de mensagem que pode ou não pode ser publicada, as pessoas acham normal o compartilhamento de reclamações sobre produtos e empresas, status de relacionamento e fotos de viagem; aceitável as fotos na balada, lugar onde está, hábitos de consumo, fotos da família, o que está fazendo no momento e estado de espírito.

Agora, no campo do inaceitável, ou seja, coisas que nunca deveriam ser compartilhadas, estão as informações familiares, reclamações sobre amigos e familiares, reclamações sobre o trabalho, reclamações sobre relacionamentos, fofocas sobre outras pessoas e fotos íntimas.

Já as coisas que mais incomodam são listadas da seguinte forma, das que mais irritam para as que menos irritam: informações triviais, mensagens e imagens religiosas, autoelogios, indiretas, mensagens para ajudar causas, reclamações, notícias sobre famosos e televisão, selfies, check-ins, fotos de bebê, notícias e posts que a pessoa leu na internet, outros, atualizações do Instagram e fotos de viagem e balada.

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Sem a receita da privacidade e do conteúdo, nós acabamos moldando nossas próprias atitudes nas redes sociais. Apesar disso, muita coisa ainda incomoda. E para você? Estamos compartilhando muitas informações? Há um excesso de dados compartilhados nas redes sociais? Deixe seu comentário.

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