Revelado como uma surpresa, a nova rede social Threads estava prevista para estrear nesta quinta-feira (6) às 11h (horário de Brasília), mas foi liberada ontem (05) e acabou sendo um dos principais assuntos da noite. Foram milhares de cadastros realizados em poucas horas e por isso a plataforma até registrou quedas e falhas. O TecMundo testou a ferramenta e conta se ela pode ou não “acabar” o Twitter.
Primeiro, cabe explicar que o Threads foi desenvolvido pela Meta, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo e dona do WhatsApp, Facebook e Instagram. Adam Mosseri, presidente do Instagram, disse que a ideia com a nova empreitada é “construir um espaço aberto e civilizado para conversas”.
Há muito tempo, e ainda mais após a entrada de Elon Musk como dono, o Twitter é acusado de ser permissivo com desinformação, fake news e até promoção de crimes. Não é difícil atualmente encontrar, por exemplo, discursos de ódio contra minorias e até divulgação de cenas chocantes.
O app apresentou leves falhas em seu lançamento ontem (5). (Imagem: Carlos Palmeira/TecMundo)
Prezando pela liberdade de expressão, Musk defendeu que o Twitter precisa ser uma rede aberta onde todos podem debater sem censura sobre praticamente qualquer ideia. Ele já disse durante mais de uma oportunidade que o Twitter é, inclusive, importante para a democracia.
Foi justamente pensando em remar contra essa maré de permissividade que a Meta decidiu desenvolver seu próprio microblog. Contudo, será que a big tech terá êxito nesta tarefa? Confira a nossa primeira impressão sobre o serviço.
Carinha de Twitter
Como já era de se esperar, o login do Threads é realizado utilizando as credenciais do Instagram. E isso significa que até mesmo seus amigos da plataforma de fotos serão transportados para a sua lista de seguidores e seguidos.
Quando acessamos a plataforma pela primeira na quarta-feira à noite, vimos alguns bugs e mensagens de erro que muito provavelmente indicavam o número massivo de acessos. E foi o que aconteceu, visto que em sete horas o app já tinha 10 milhões de usuários.
Quando finalmente conseguimos logar — depois de escolher a foto, bio e definir se iria ou não seguir as mesmas pessoas do Insta —, a primeira sensação é de dejavu. O Threads é muito parecido com o Twitter esteticamente.
Para um desavisado, o Threads posse se passar pelo Twitter tranquilamente. (Imagem: Carlos Palmeira/TecMundo)
O feed rolando para baixo, os menus na parte de baixo da tela, o entrelaçamento das conversas (chamados justamente de threads no Twitter), é tudo muito reconhecível. E faz até bastante sentido, já que o Twitter popularizou esse formato funcional para um microblogging.
Dos perfis das pessoas até a disposição das listas de threads e respostas em outras threads é tudo bem idêntico ao Twitter (que separa tweets e respostas a outros tweets).
Na parte estética, porém, um dos detalhes que mais chama a atenção é o ícone do Instagram localizado logo acima da foto de perfil dos usuários, além de um botão ao lado para restringir ou bloquear a pessoa. Neste sentido, o Threads facilita — e muito — a vida de quem já quer encontrar o perfil de determinado indivíduo na rede de fotos. E isso tem seu lado bom e ruim.
Quem vai utilizar o Threads?
Uma das principais dúvidas que surgem nesta primeira experiência com o Threads é: quem vai utilizar esta rede social? O Twitter sempre se notabilizou por uma plataforma um tanto quanto “escondida” do grande público. Com isso, quero dizer que muitas pessoas a utilizam com frequência porque em raros os casos verão seus pais, avós e professoras da escola circulando por lá, por exemplo.
Isso gerava um benefício de privacidade bastante grande para parte do público. Por outro lado, esse fator talvez possa até ter contribuído com a pecha de “terra sem lei”.
E a experiência com o Threads foi bastante interessante porque ao realizar o login, eu preferi manter meus contatos do Instagram e voilá! Estava eu seguindo e sendo seguido por pessoas que não têm acesso ao meu Twitter e que eu tenho uma interação diferente pelo Instagram.
Veja mais: Threads: Meta está 'reciclando' nome de app antigo? Entenda
Seus contatos do Instagram estarão em peso no Threads por causa da ligação das duas redes. (Imagem: Carlos Palmeira/TecMundo)
A nova rede social da Meta responderá em breve esta questão sobre quem é seu público-alvo. As nossas tias que estão circulando pelo Facebook? Nossos amigos de academia que estão no Instagram? Nossos parentes do grupo de WhatsApp? Todos deles? Nenhum deles?
Entender quem frequentará esse ambiente virtual será importante para as pessoas se ambientarem com a plataforma e precisarem quais tipos de interação elas terão por lá.
Ainda está uma confusão
Como o lançamento do Threads é muito recente, há certos problemas com a plataforma. Um deles, por exemplo, é que há pessoas que você está seguindo que não estão na sua lista de seguidos no Instagram. E o inverso também acontece, ou seja, algumas pessoas que você já gostaria de estar seguindo não estão adicionadas ainda.
A própria linha do tempo ainda é uma confusão. As exibições de mensagens acontecem frequentemente por ordem cronológica, mas não é uma regra. Não é incomum se deparar com publicações de horas atrás vindo antes de alguma que foi feita há poucos minutos.
Leia também: Threads: rival do Twitter coleta até dados de saúde e gera debate sobre privacidade
As próprias aparições no feed ainda não estão ajustadas, já que são exibidas muitas threads de usuários sugeridos pelo algoritmo e que você não segue. Neste caso, é como se a aba “Para você” do Twitter estivesse como padrão no Threads.
Neste início, o Threads é completamente voltado para influencers, já que até a barra de pesquisa indica perfis de famosos para seguir. (Imagem: Carlos Palmeira/TecMundo)
E como centenas de influencers foram convidados a testar o app antes do público geral, são justamente eles que aparecem à exaustão na timeline. Pelo menos neste começo, os usuários terão que se acostumar com músicos, apresentadores, youtubers, influenciadores do Instagram, comediantes e artistas aparecendo a todo momento.
A questão será possivelmente corrigida em breve, já que Adam Mosseri, diretor do Instagram, prometeu que a ferramenta de mostrar só pessoas que você segue “está na lista” de prioridades.
Aplicativo afinado
Apesar dos bugs iniciais, o Threads foi lançado afinado tecnicamente. É impressionante notar que mesmo com o uso massivo de bastante gente nestas últimas horas, a experiência é muito fluida e estável.
As primeiras mídias que subimos na plataforma apresentam também resultados satisfatórios. As fotos e os vídeos parecem que praticamente não passam por compressão (apesar de os vídeos terem limite de 5 minutos). Neste sentido, a experiência é mais parecida com o Instagram do que o WhatsApp, para comparar com ferramentas da própria Meta.
Ainda sobre mídias, é possível publicar Gifs no Threads, mas eles precisam estar na galeria do seu celular. Ainda não há integração com plataformas do tipo.
Por último, nos nossos testes, o aplicativo para Android não registrou nenhum travamento ou fechamento. O software também é bastante leve e não deve ter problemas para rodar nos mais diversos tipos de aparelhos.
Vai aprender com os erros do Twitter?
O Threads chega como uma plataforma com bastante potencial para substituir o Twitter, sua "rede inspiradora". Com um know-how bastante grande de gerenciamento de mídias sociais, a Meta já sabe muita coisa que dá certo e que não dá certo.
A expectativa com o Threads é relativamente alta, principalmente, porque ele chega em um momento de baixa do Twitter. Além das críticas de usuários em relação ao gerenciamento do bilionário Elon Musk — que recentemente até limitou a visualização diária de tweets —, no quesito gerencial a empresa acabou de ver uma troca na direção executiva.
Tendo como um dos objetivos trazer de volta os anunciantes, a nova CEO do Twitter, Linda Yaccarino, assumiu a marca há exatamente um mês e já precisará lidar com este grande desafio que será a entrada no mercado de um poderoso concorrente.
— Mark Zuckerberg (@finkd) July 6, 2023
Mesmo tendo aparentemente aprendido com os erros do Twitter e disposto a criar um ambiente mais saudável, o Threads também tem seus desafios. A privacidade é um deles, já que o serviço coleta vários dados como local, informações pessoais, informações financeiras, mensagens, agenda e até detalhes sobre saúde e condicionamento físico.
Isso preocupa, vindo de uma big tech que há pouco tempo foi processada no chamado “Escândalo Cambridge Analytica”, em que a empresa foi acusada de vender dados de usuários para fins eleitorais. Veremos mais adiante se o Threads carrega o aprendizado dos próprios erros, além dos cometidos pela plataforma rival.
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