Tendo recebido mais de 70 milhões de novos usuários após a queda do WhatsApp, o Telegram voltou a ser assunto recentemente. O app tem preocupado autoridades e especialistas por abrigar milhares de conteúdos criminosos.
O assunto foi tema de uma reportagem do jornal O Globo no domingo (10). A matéria ressalta que, ao entrar no “submundo” brasileiro do aplicativo, foi possível encontrar uma livre disseminação de conversas sobre pornografia infantil, abuso sexual, bem como compra e vendas tanto de armas quanto drogas na plataforma, por exemplo.
De acordo com o veículo, os materiais ilegais estão nos grupos secretos, que só podem ser acessados por pessoas que recebem um link de acesso. Para tentar despistar possíveis bots que reconhecem palavras associadas a crimes, os usuários utilizam termos cifrados como “nazi” com tipografia gótica, child pornography (CP) e a palavra “vacina” escrita ao contrário.
“Alguém tem vídeo de incesto aí?”, perguntou um usuário de um dos grupos. “Tenho, me manda PV [mensagem privada]”, respondeu outra pessoa. Esse foi um dos diálogos flagrados pela reportagem. No meio da conversa, foram sendo enviados vários vídeos pornográficos, até mesmo com menores de idade, relata o veículo de imprensa.
Confira, abaixo, alguns dos materiais ilícitos que estavam sendo difundidos nos grupos:
- vídeos de tortura e execuções;
- comércio ilegal de armas, drogas e remédios controlados (abortivos e tarjas pretas);
- venda de dinheiro falso;
- nazismo, antissemitismo e racismo;
- informações falsas sobre vacinas;
- pirataria de filmes e séries;
- download de dados pessoais, como CPFs.
Segundo a reportagem, o grupo com links para downloads de séries e filmes de maneira ilegal é o com maior público, tendo mais de 128 mil inscritos. Na sequência, aparecem os canais de divulgações de vídeos de execuções e tortura (24,4 mil inscritos); antissemitismo, discurso de ódio e teorias da conspiração (21,7 mil); comércio de armas (19,3 mil) e download de dados pessoais (18,7 mil). Os grupos de pornografia infantil chegam a alcançar cerca de 12 mil pessoas.
Perigos
A rede extensa de disseminação de materiais ilícitos e criminosos configura um risco à sociedade, de acordo com especialistas ouvidos pelo Globo. O advogado criminalista Welington Arruda disse que, apesar dos crimes cometidos, poucas pessoas no Brasil respondem por questões como apologia ao nazismo, por exemplo.
“Os crimes que atingem o senso comum, como a pornografia infantil e outros ligados à violência, acabam tomando maior proporção porque se comunicam facilmente com o homem médio, enquanto casos grandes passam ao arrepio da lei e dos holofotes”, ele argumentou.
Os pesquisadores Leonardo Nascimento e Paulo Fonseca, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Letícia Cesarino, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirmam que o Telegram é uma “deep web pronta-entrega”.
Eles argumentam que recursos como o grupo secreto, a autodestruição de mensagens, anonimato e ferramentas de buscas tornam o aplicativo uma excelente fonte de atuação do crime organizado. Como se não bastassem as fotos, os vídeos e os documentos com conteúdos criminosos, o software, que está presente em mais da metade dos celulares no Brasil, também preocupa os especialistas por sua capacidade de disseminar notícias falsas relacionadas à política.
“O Telegram é um iceberg. O que está na superfície é 10%, 15% do que realmente existe de forma protegida. Após a Segunda Guerra Mundial, a humanidade criou a Organização das Nações Unidas (ONU) para legislar sobre guerras e direitos humanos. Vamos precisar também de uma ONU para as plataformas digitais”, defendeu Nascimento.
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