O Facebook é a rede social mais usada no mundo e não precisa ser um estudioso de mídias ou de comportamento humano para supor o quanto as coisas que circulam nela são capazes de influenciar as pessoas na vida real. E alguns executivos do Facebook assumiram isso nesta semana em uma série de postagens chamada "Hard Questions" (Questões Difíceis, em tradução livre) publicada no blog oficial da companhia.
A diretora de políticas e governo de alcance global da empresa, Katie Harbath, se posicionou no texto que abre a série. Na postagem “Mídias sociais e democracia” ela fala que a influência negativa das redes sociais em temas políticos de sociedades mundo afora ficou clara durante a última eleição presidencial nos EUA, “com a interferência externa que o Facebook deveria ter identificado mais rapidamente”, e também com o aumento das “fake news” e das bolhas.
“Agora, estamos mais determinados do que nunca em combater as influências negativas e garantir que a nossa plataforma seja inquestionavelmente uma fonte para a boa democracia”, escreve Harbath. “Há muito o que fazer quanto a isso, desde o poderoso papel desempenhado pelas mídias sociais em dar voz às pessoas no processo democrático até a sua capacidade de oferecer informação em uma escala sem precedentes. O nosso papel é garantir que o bem supere as forças negativas que comprometem o debate saudável.”
Problemas de percepção
Para o diretor de produto para engajamento civil do Facebook, Samidh Chakrabarti, a rede social apresenta inúmeros aspectos positivos, como o de manter as pessoas informadas sobre temas relevantes em seus países, mas nunca conseguirá superar completamente todos os problemas envolvendo interferência estrangeira, notícias falsas, bolhas de opinião e ódio político. “Mesmo com todas essas contramedidas, a batalha nunca terminará”, registra.
Um ponto importante tocado por Chakrabarti é a desigualdade de representatividade da rede e como isso pode interferir na percepção das autoridades. Ele cita como exemplo o caso das mulheres, “que representam a maioria da população, apesar de estarem subrepresentadas no debate político no Facebook”.
Democracia em tempos de redes sociais.
A conclusão de Chakrabarti, porém, destaca mais os problemas inerentes aos seres humanos e passa a ideia de que o Facebook e outros sites do gênero são apenas instrumentos. “Se há uma verdade fundamental sobre o impacto das mídias sociais na democracia, é que elas amplificam as intenções humanas — as boas e as más”, escreve o executivo, antes de reafirmar a sua crença de que “um mundo mais conectado pode ser um mundo mais democrático”.
Pesadelo
O professor de direito de Harvard Cass Sustein, um dos autores convidados a se juntar ao debate promovido pelo Facebook, teceu críticas à estrutura do Feed da rede social, que tende a criar bolhas nas quais circulam apenas informações que endossam o ponto de vista do usuário, algo prejudicial à democracia.
“Há cerca de um ano, uma importante postagem do Facebook afirmava que ‘o objetivo do Feed de Notícias é mostrar às pessoas histórias mais relevantes para ela’”, escreveu. “A postagem enfatizava que ‘algo que uma pessoa acha informativo e interessante pode não ser informativo e interessante para outra pessoa’. Isso é verdade. A postagem adicionava que ‘conforme o Feed de Notícias evolui, nós continuaremos a criar ferramentas poderosas e de fácil utilização para dar a você a experiência mais personalizada.”
Para Sustein, "isso é um pesadelo" do ponto de vista democrático. Ao contrário, o professor defende que o Facebook deveriar levar em conta três princípios da comunicação para um sistema que visa a democracia. Seriam eles a serendipidade (ato de encontrar e conhecer coisas ao acaso), o contato com “uma ampla variedade de experiências comuns” e, por fim, “estar em posição para distinguir a verdade da mentira”.
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