Após seu lançamento, em 2010 para iOS e 2012 para Android, o Instagram se mostrou uma ferramenta fantástica para quem deseja compartilhar sua visão de mundo por meio de fotos que podem ser “incrementadas” com uma infinidade de filtros de imagem e outras regulagens que o usuário pode fazer para deixar suas fotografias do jeito que preferir.
O que ninguém imaginava é que o aplicativo teria tanta influência na “vida real” das pessoas. Sua popularidade o tornou palco para a exposição de produtos e serviços dos mais variados que contavam com seu potencial de viralizar nas redes e isso trazer frutos tangíveis, como aumento no número de compradores ou clientes e na fama daquele negócio.
Entre muitas áreas possíveis de exposição no Instagram, a da gastronomia é uma das que mais ganharam destaque, justamente quando a tal da moda de tirar foto de comida para compartilhar com os amigos – e mais ainda, o mundo – dominou a plataforma. Tem gente que odeia isso e tem quem adore, mas, independentemente do gosto, uma coisa não podemos negar: exposição no Instagram dá fama, que traz clientes, que geram dinheiro.
Fotografar comida virou coisa séria — para os restaurantes, pelo menos
Para agradar as lentes
O peso do Instagram se tornou tamanho para os restaurantes e outros estabelecimentos que comercializam alimentos que existem designers especializados em criar ambientes e decorá-los pensando especificamente em como eles vão parecer na plataforma de fotografias. O ambiente todo traz a iluminação exata e a decoração inclui elementos que são realçados na rede social, além de chamar atenção dos clientes e ter alto potencial de viralizar.
Agora o foco é a aparência em fotos, especificamente aquelas que podem ser compartilhadas entre milhões de pessoas por meio das famosas hashtags do Instagram
É claro que o visual de um restaurante é uma preocupação de seus donos em muitos casos há muito tempo, mesmo na era pré-internet. A diferença é que, anteriormente, a aparência de um estabelecimento levava em conta a experiência do cliente ali, na hora, na “vida real”.
Elementos eram pensados para passar uma sensação complementar ao consumidor além da experiência gastronômica. Isso vai desde a decoração do ambiente até itens como pratos, talheres, copos, guardanapos, bolachas de chope e muito mais.
A diferença é que agora o foco é a aparência em fotos, especificamente aquelas que podem ser compartilhadas entre milhões de pessoas por meio das famosas hashtags do Instagram. Existem até locais que são montados já tendo em mente o efeito que os filtros da plataforma vão ter nas fotos tiradas lá.
Decoração feita para agradar os olhos (e as lentes)
Bonito e gostoso
Até o momento da publicação deste artigo, mais de 240 milhões de postagens usando a hashtag #food haviam sido feitas no Instagram
Indo além da aparência de restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos dessa natureza, a popularidade do Instagram levou chefs do mundo inteiro a adaptarem seus pratos para saírem mais bonitos das redes sociais. Mais ainda: fez com que empresas alterassem seus produtos ou que fossem produzidas novas criações comestíveis totalmente focadas nos possíveis compartilhamentos da plataforma.
Até o momento da publicação deste artigo, mais de 240 milhões de postagens usando a hashtag #food haviam sido feitas no Instagram. Outra palavra-chave popular na plataforma, #foodporn, contava com mais de 137 milhões de publicações. Outras hashtags populares são #foodie, com mais de 71 milhões de registros e #foodgasm, com quase 30 milhões.
Pensando na exposição imensa que boas fotos no Instagram pode gerar para o estabelecimento, um restaurante de Londres chamado Dirty Bones chega a oferecer um kit para seus clientes captarem imagens quase profissionais de seus próprios pratos. Entre os acessórios fornecidos estão lentes wide angle para prender no celular, pau de selfie e iluminação de LED.
A criação desse kit vem de um reconhecimento do movimento e da importância do Instagram na atual cultura 'foodie'
Os pratos do restaurante em questão também são pensados no quão fotogênicos podem ser. Cores, texturas, formatos, tudo é levado em conta na hora de bolar uma nova refeição no Dirty Bones ou em um desses restaurantes que têm o Instagram como foco.
De acordo com uma declaração do Dirty Bones, a criação desse kit vem de "um reconhecimento do movimento e da importância do Instagram na atual cultura 'foodie'" e de um desejo de "permitir aos clientes compartilhar as melhores qualidades do Dirty Bones sem comprometer o clima e o design".
Dirty Bones: lá, você vira quase um fotógrafo profissional
Negócios modernos
Todo esse movimento não demorou a chegar aos estabelecimentos brasileiros. A onda dos food trucks e restaurantes gourmet é prova disso: tudo é quase sempre milimetricamente pensado para a hora de sair na foto. Promoções envolvem compartilhamento de conteúdo com hashtags especiais, e as redes sociais se tornaram parada obrigatória para quem quer conhecer melhor um lugar antes de ir lá de fato.
Essa nova geração considera que compartilhar fotos do restaurante onde está e do que se come faz parte da experiência gastronômica como um todo
Para muitos, essa é a prova de que não existe apenas uma demanda desse tipo de produto e serviço por parte de pessoas pertencentes à chamada geração Y – ou millennials –, mas significa que esses jovens adultos estão abrindo seus próprios negócios – que obviamente vão refletir a realidade de sua cultura.
Enquanto alguém de mais idade não consegue compreender a fixação que os mais novos têm por seus celulares, pela internet e pelas redes sociais, essa nova geração considera que compartilhar fotos do restaurante onde está e do que se come faz parte da experiência gastronômica como um todo.
A geração Y está começando a dominar o mundo
Fotos? Da minha comida, não!
Nem tudo são flores no mundo da fotografia gastronômica amadora e nem todos os restaurantes acham legal ganhar seguidores, likes, engordar hashtags e fazer bonito nas redes sociais. Diversos restaurantes no mundo todo já se mostraram descontentes com essa moda e chegaram até a proibir os registros fotográficos dentro dos estabelecimentos.
Registrar imagens das refeições 'perturba completamente o ambiente', 'é uma distração para quem está acompanhando, para os outros clientes e para o chef'
Alguns lugares em Nova York proibiram o ato de tirar fotos de comida, como os dois restaurantes do chef David Bouley. Segundo ele, registrar imagens das refeições “perturba completamente o ambiente”, “é uma distração para quem está acompanhando, para os outros clientes e para o chef”.
O cozinheiro ainda dá outra explicação bastante simples para ter impedido seus clientes de tirarem fotos do que vão comer: “A comida esfria. O chef preparou minuciosamente uma deliciosa refeição quente que precisa ser apreciada imediatamente”.
Outro restaurante nova-iorquino, o Momofuku Ko, do chef David Chang, também proíbe a prática por esses mesmos motivos e ainda acrescenta: “quem faz isso, além de parecer idiota, acaba tirando fotos feias que ninguém gosta de ver”.
No Momofuku Ko, fotos são proibidas
Vivendo no passado? Ou no futuro?
Eu gostaria que as pessoas vivessem no presente. Publique antes da refeição, com antecedência, publique sobre isso depois, mas nesse meio-tempo, pare e coma
Na França, um dos países mais famosos por sua gastronomia, as fotos de alimentos em restaurantes também são malvistas pelos chefs. É o caso de Alexandre Gauthier, dono do Grenouillère, estabelecimento que fica em uma cidade no norte da França. Quem tiver a oportunidade de saborear os pratos do chef francês vai perceber que seu cardápio inclui, além de refeições deliciosas, um sinal que proíbe o uso de câmeras.
Gauthier afirma que, muitas vezes, seus clientes pareciam mais interessados em fotografar a comida do que a apreciar por meio do paladar. O chef, inclusive, já teve o desprazer de se irritar com pessoas que chegavam a rearranjar mesas completamente apenas para um registro bonito nas redes sociais. Ele concluiu: “Eu gostaria que as pessoas vivessem no presente. Publique antes da refeição, com antecedência, publique sobre isso depois, mas nesse meio-tempo, pare e coma”.
.....
E você, de que lado dessa briga você está? Gosta de tirar fotos e publicar tudo aquilo de legal que você come por aí ou acha que isso estraga a experiência? O que você acha de restaurantes que decoram o estabelecimento e preparam pratos pensando nos registros fotográficos? Concorda com os chefs que proíbem seus clientes de captar imagens dos alimentos? Deixe sua opinião aqui embaixo nos comentários!
Categorias