Mesmo com o acordo internacional, feito em 1993 e com mais de 190 nações adeptas, que proíbe o uso de armas químicas em qualquer hipótese, os conflitos recentes na Síria revelaram que isso não anda sendo levado muito a sério. Diversos relatos afirmam que houve uso do famoso gás Sarin em cidades rebeldes e que isso teria matado centenas de pessoas.
Isso deixou o mundo em alerta: o que custa para qualquer outro país decidir usar armas químicas em conflitos como esses? Aparentemente a proibição da Convenção de Armas Quimícas de 1993 não está servindo para inibir ninguém.
Pois é aí que entra a importância dessa pesquisa. Na impossibilidade de se erradicar as armas químicas do mundo, uma equipe de cientistas da Universidade Northwestern, em Illinois, trabalha contra o tempo para desenvolver um antídoto eficaz contra essa ameaça.
A química da salvação
Liderada pelos químicos Omar Farha e Joseph Hupp, a equipe desenvolveu um composto que neutraliza os gases nervosos em minutos. Para isso, eles tomaram como inspiração substâncias geradas naturalmente e que agem da mesma forma, as fosfotriesterases. Produzidas por bactérias, essas enzimas inativam pesticidas, outros produtos químicos e, claro, os gases nervosos num piscar de olhos.
O grande problema dos compostos naturais é que eles são extremamente frágeis, se deterioram com facilidade e não suportam ambientes quentes ou úmidos. Isso impossibilita praticamente qualquer uso dessas substâncias fora de ambientes controlados, normalmente os laboratórios onde os encarregados pela destruição dessas armas químicas trabalham para desabilitá-las.
O antídoto em ação
O composto desenvolvido pelos químicos, chamado NU-1000, foi inicialmente testado contra um pesticida cuja estrutura é bastante similar à de gases nervosos. O efeito foi fenomenal: em 15 minutos, o antídoto neutralizou metade do agente químico. Isso é três vezes mais rápido do que o composto com o qual vinham trabalhando anteriormente.
Testes mais práticos eram necessários. Com o apoio do exército americano, o antídoto foi testado contra um verdadeiro gás nervoso, o GD. Na verdade, esse gás é ainda mais potente, em seus efeitos, do que o Sarin, e o resultado novamente foi muito animador: sua meia-vida, período que leva para um composto químico perder metade de seu efeito, foi atingida em apenas três minutos. Nada mais do que 80 vezes mais eficaz do que antídotos anteriores.
Aplicações práticas
Apesar do grande sucesso nos testes dessa substância, ela ainda não é rápida o suficiente para ser usada, por exemplo, embutida em máscaras de gás ou mesmo durante um possível ataque. Em comparação com a enzima natural, apesar de muito mais estável, o composto antigás nervoso artificial ainda funciona de 100 a 100 mil vezes mais devagar.
No entanto, isso não é um fator que desanima a equipe da Universidade Northwest. Segundo Farha, esse grande sucesso vai guiar a busca por enzimas mais velozes e eficazes. O entendimento do processo químico que permitirá isso já está em andamento, pois esse trabalho torna tudo mais simples para o desenvolvimento do antídoto perfeito contra gases nervosos e mantém viva a esperança de se acabar com o medo espalhado pela utilização dessas terríveis armas químicas.
Fontes