No início de setembro, amantes do automobilismo puderam se deliciar com a corrida inaugural da Formula E, categoria competitiva que se diferencia da clássica Formula 1 por utilizar apenas carros elétricos na pista.
Com vitória do brasileiro Lucas di Grassi – que pilota para a equipe alemã Audi Sport SBT –, a partida organizada em Pequim (China) serviu não apenas para demonstrar a confiabilidade e segurança dos veículos utilizados, mas também para colocar à prova algumas novas tecnologias que estão sendo empregadas nessa nova modalidade esportiva.
Um bom exemplo dessas novas tecnologias é a Halo, desenvolvido pela Qualcomm, empresa popularmente conhecida por desenvolver chipsets que equipam a grande maioria dos smartphones e tablets disponíveis no mercado. Sendo a parceira tecnológica da Formula E e trabalhando ao lado da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), a Qualcomm realizou testes desse sistema revolucionário empregando-o inicialmente em safety cars, mas planeja embuti-lo também nos veículos de competição que participam das corridas.
Safety car utilizado na corrida inaugural da Formula E, devidamente equipado com a Halo
O que é e como funciona?
A Qualcomm Halo WEVC (sigla para Wireless Electric Vehicle Charging, ou Carregamento Sem Fio de Veículo Elétrico) não é nada mais do que uma tecnologia capaz de recarregar veículos elétricos sem o auxílio de fios, tendo sido desenvolvida especialmente para facilitar a vida de quem possui um automóvel híbrido ou movido exclusivamente por eletricidade. O sistema emprega o mesmo conceito dos carregadores wireless já adotados no mercado de smartphones: utilizando-se da indução magnética, que nada mais é do que a criação de uma corrente elétrica através de campos magnéticos.
Para funcionar, a tecnologia faz uso de dois módulos distintos: o Base Charging Unit (BCU), que é aterrado no chão de garagens, estacionamentos públicos e até mesmo rodovias; e o Vehicle Charging Unit (VCU), que é incorporado diretamente no veículo em questão. Ao perceber a presença de um carro estacionado em sua área de atuação, o BCU começa a emitir ondas magnéticas que são captadas pelo VCU e transformadas em energia elétrica, recarregando a bateria do automóvel.
Contudo, diferente dos carregadores sem fio para dispositivos móveis, a Halo não exige que o carro esteja rigorosamente alinhado com a base carregadora para que haja a transferência de energia. Isso torna o sistema bem mais maleável e facilita a vida do piloto, que pode estacionar “de qualquer jeito” na área de atuação do BCU e seu veículo terá a bateria recarregada normalmente.
Atuação na Formula E
Como dissemos anteriormente, no que diz respeito à Formula E, a Qualcomm está inicialmente empregando a Halo apenas nos veículos de apoio utilizados durante a competição – são duas BMW i8 atuando como safety cars e duas BMW i3 atuando como extraction car e medical car. Contudo, é previsão é que a tecnologia também seja adotada nos próprios carros de competição na segunda etapa do campeonato, quando os próprios times poderão projetar os seus próprios veículos.
Vale observar que, durante estas primeiras partidas da categoria, todos os automóveis utilizados na pista são padronizados: todos os pilotos utilizam um Spark-Renault SRT_01E, que é o único veículo homologado pela FIA para participar do torneio. Sendo capaz de atingir os 100 km/h em apenas três segundos e com velocidade máxima de 225 km/h (equivalentes a 150 mph), o modelo foi projetado especialmente para ter a melhor performance possível em circuitos urbanos (lembrando que a Formula E ocorre exclusivamente em ruas convencionais, e não autódromos convencionais).
O Spark-Renault SRT_01E, carro usado por todos os times da primeira etapa da Formula E
E saiba que você não poderia estar mais errado caso acredite que tal padronização afeta a competitividade das corridas de Formula E. De acordo com o próprio Lucas di Grassi, que esteve recentemente em São Paulo para conversar com a imprensa local, o maior desafio para os pilotos da categoria é utilizar a bateria do carro da forma mais eficiente possível, escolhendo com sabedoria quando e onde utilizar maior corrente energética.
Pelas atuais limitações do carro utilizado, a Formula E não permite que os pilotos recarreguem o veículo ou troquem a bateria durante o pit stop: em vez disto, eles utilizam um segundo carro previamente preparado e completamente recarregado, economizando tempo e esforço. Esse cenário pode mudar com a Halo, que é capaz de encher as baterias de uma forma muito mais veloz e confortável tanto para a equipe quanto para o motorista.
Pensando no futuro
Vale observar que essa não é a primeira vez que a Qualcomm investe pesado em tecnologias automotivas. Dentro de seu portfólio de soluções, a empresa também oferece chipsets especialmente construídos para o mercado automobilístico, como o Snapdragon 602A, além da família de modems Gobi (que possibilitam que o carro usufrua de conexão 2G, 3G e 4G).
Ainda que, por enquanto, a empresa esteja restringindo a tecnologia Halo aos carros de Formula E, a ideia da companhia é transformar esse sistema em um verdadeiro padrão para a indústria de carros elétricos internacional, eliminando de vez as estações de carregamento por fio.
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