A gente já está cansado de saber que a família Moto G de smartphones foi uma das mais importantes para popularizar o segmento dos celulares intermediários, que é o que reúne o melhor custo-benefício. É justamente por causa disso que ela é uma das mais populares aqui no Brasil. Pois bem, em 2021, a família ganhou como novo membro o Moto G100, que é o primeiro smartphone da família com especificações de top de linha, o que faz dele tranquilamente o melhor Moto G de todos. E com o hardware dele, ele supera até o Motorola Edge+ em alguns aspectos
Para quem não sabe, em alguns mercados como a China, esse aparelho aqui não foi lançado com esse nome, mas sim com o nome Motorola Edge S, o posicionando não como o melhor modelo da linha intermediária da fabricante, mas sim como o mais básico da família de ponta — o que, se pensarmos puramente nos componentes desse celular e no preço bem maior do que o máximo de R$ 2 mil em que a maioria dos Moto G se encaixam, racionalmente faria mais sentido. Só que ao pegar esse aparelho aqui e chamar de Moto G100, a Motorola fez uma jogada brilhante de marketing. Agora que passei três semanas testando o aparelho, posso falar para vocês como o conjunto dele justifica tudo isso e ajudar na decisão se vale ou não vale investir no Moto G100. Bora lá!
Design
Só de bater o olho no Moto G100, quem conhece a linha Edge da Motorola vai concordar que esse aqui realmente não é nada parecido com eles. Na verdade, ele é extremamente parecido com o Moto G 5G Plus. O tamanho e o peso deles são praticamente idênticos, o que significa que eu também achei esse com uma pegada boa e confortável de usar, mesmo que ele seja sim pesadinho, e mesmo sendo todo de plástico.
A tela também tem bordas visíveis, mas não muito grandes, em todos os lados e com a de baixo um pouco maior, e o display só é interrompido pelos dois furos das câmeras frontais. O leitor de digitais também faz o papel do botão de energia na lateral, e o conector de fones de ouvido continua embaixo, junto com a entrada USB-C e o alto-falante para mídia.
Novo Moto G100 tem design similar ao Moto G 5G Plus.
Atrás, nós vemos as câmeras, que também estão na configuração quadradinha de cooktop que vimos no G 5G Plus. E esse aqui também está disponível nesse azul brilhante com reflexos roxos, além de um outro azul bem clarinho que é praticamente prateado, e vem com uma capinha transparente protetora. Outra coisa que vale mencionar é que o Moto G100 não tem certificação IP de resistência a água. A Motorola não traz isso para um aparelho dela desde o Moto X4.
Tela
Na tela, o painel é idêntico ao do Moto G 5G Plus. É LCD. Tem 6,7 polegadas na proporção de 21:9. A resolução é Full HD+. E a taxa de atualização é de 90 Hz. Nada de OLED ou AMOLED, como, vimos nos Edge. Ou seja, para um intermediário, é uma tela excelente, com ótimas cores, brilho forte e movimentos rápidos e suaves. Já para um top de linha, é uma tela okay, mas que não chega no nível dos melhores concorrentes, especialmente nos tons de preto. A grande maioria das pessoas não notaria muita diferença e vai ficar bem satisfeita com essa aqui.
Tela do Moto G100 tem boa qualidade, mas ainda compete com intermediários.
Desempenho
No hardware sim o Moto G100 se enquadra como um verdadeiro top de linha. O processador é o Snapdragon 870, que é como se fosse uma versão melhorada do 865 que veio no Edge+. E as memórias incluem 12 GB de RAM e 256 GB de armazenamento. Dá para expandir o espaço interno usando um cartão microSD, mas só se você não quiser usar dois chips de operadora, porque a bandeja é híbrida. Lá na gringa há uma variante desse modelo com menos memória, mas aqui para o Brasil a Motorola decidiu trazer oficialmente só o modelo mais completo dessa vez.
Dessa forma, o resultado é o que esperamos de um ótimo smartphone top de linha, sem qualquer engasgo ou sofrimento mesmo no uso mais intenso. Por mais que no papel o desempenho do Snapdragon 888 seja melhor, na prática vai demorar bastante até sentirmos alguma diferença, se é que vai sentir. E falando no futuro, esse chip também vem com compatibilidade com redes 5G, tanto no padrão DSS que já existe em alguns lugares do Brasil, quando no Sub-6 GHz, que deve começar a ser instalado por aqui para valer em 2022. Torcemos. Eu sou um otimista.
Câmeras
Indo para as câmeras, nas frontais o G100 também repete o que a gente viu no G 5G Plus. Uma principal de 16 MP e uma ultrawide de 8 MP com 118º de angulação. De dia, as duas tiram selfies muito boas, e é legal ter a opção da ultrawide para conseguir fazer caber mais gente ou cenário. De noite, o resultado não foi legal. A principal tem dificuldades de focar sem usar a tela como flash, e isso quando ela não resolve deixar tudo amarelado. Usar a tela como flash resolve esses dois problemas, mas se você não tomar cuidado pode ficar com a cara estourada com luz demais. Ou seja, no escuro se prepare para tirar várias selfies para garantir uma boa.
No cooktop da traseira temos três câmeras, por mais que tenha ali uma quarta "boca" nesse "fogãozinho". A principal tem 64 MP, e junto dela tem uma ultrawide de 16 MP e um sensor Time of Flight (ToF) de 2 MP para profundidade. O quarto buraquinho ali é de um sensor a lazer para melhorar o foco, o que é muito mais útil do que seria colocar ali uma lente macro meia-boca só por colocar. Aliás, isso me lembra que nesse aqui a câmera ultrawide também consegue fazer fotos de pertinho no modo macro.
E o resultado foram fotos sinceramente muito boas de dia tanto na lente principal quanto na ultrawide, e de noite só a ultrawide perdeu um pouco de definição, mas ainda continuou bastante digna. Sinceramente, na principal, você até pode ativar o modo Night Vision para ganhar mais definição e cores, mas eu gostei mais do resultado natural. Outra coisa legal é que a Motorola colocou uma espécie de ring light miniatura em volta da ultrawide, aí quando você ativa o modo macro pode ligar essa luz para tirar fotos de perto em lugares claros ou escuros, e o resultado fica legal.
Nos vídeos, o G100 consegue gravar com a traseira em 6K a 30 quadros por segundo, mas sem estabilização, então rola bastante tremedeira. Ativando a estabilização eletrônica, ele dá uma ligeira fechada no ângulo da gravação, mas você ainda consegue gravar em 4K a 60 fps e o resultado fica bem suave. Todas essas configurações você encontra ticando na setinha para cima ali na tela do aplicativo de câmera, o que eu levei um tempinho para descobrir, admito. E nas câmeras frontais só dá para gravar em Full HD a 30 fps mesmo, com ou sem a estabilização. Uma dica para quem precisar usar a estabilização na frontal, aliás, é gravar com a lente ultrawide para não precisar se forçar para segurar o celular mais longe porque a cabeça não cabe direito na lente principal com o estabilizador ativado.
Interface
No software, em geral, o G100 vem com o Android 11 da Motorola, o que quer dizer que é um sistema com o visual bem limpo, próximo ao estilo que o próprio Google usa, mas que tem todas aquelas funções extras legais no app Moto. Incluindo os gestos para abrir a câmera e ligar a lanterna, que para mim continuam sendo a melhor solução para esse tipo de coisa.
A interface do Moto G100 conta com aspectos padrões do Android "puro".
E uma novidade aqui é o modo Ready For, que você pode usar ligando o celular à alguma tela ou computador por meio de um cabo USB-C para HDMI, ou USB-C para USB-C que tenha capacidade de transmitir vídeo. Aí você vai ter uma opção para abrir um modo desktop muito similar ao DeX da Samsung, que dá pra controlar usando o celular como touchpad e teclado ou pareando um kit de mouse e teclado Bluetooth. Outras opções que o Ready For inclui são só espelhar a tela do celular no display maior, reproduzir os seus jogos em tela cheia, usar o aparelho como uma central de streaming com os apps instalados lá, sem precisar de Chromecast ou algo do tipo, ou então, e isso é o mais legal, usar a câmera traseira do aparelho e a sua TV durante videochamadas, e dependendo do aplicativo de chamada o G100 até rastreia os rostos de quem estiver com você pra manter todo mundo enquadrado sem mostrar coisa demais.
Para quem quiser, a Motorola vende um kit com o Moto G100 que custa entre R$ 100 e R$ 200 reais a mais dependendo da loja e inclui o cabo USB-C pra HDMI e uma base que serve de tripé para segurar o celular enquanto você usa esse modo, permite o deixar na vertical ou na horizontal e ainda inclui sistema de ventilação pra impedir que o G100 esquente demais. Eu gostei de usar e achei que funciona bem. Melhor que isso só se a Motorola conseguir seguir o caminho da Samsung, que já conseguiu fazer o DeX funcionar sem precisar de cabos.
Modo Ready For do Moto G100 pode ser usado em TVs ou monitores externos.
Mas um ponto negativo que eu tenho que falar aqui é sobre a política de atualizações da Motorola, que está deixando bastante a desejar nesse caso. Mesmo com um hardware de ponta, a empresa só prometeu uma atualização grande do Android para o Moto G100, o que é péssimo quando a gente considera que esse aqui vai parar no Android 12 enquanto empresas como a Samsung estão prometendo três updates do sistema até em celulares intermediários. Eu sei que não devemos comprar celulares com base na promessa de atualizações futuras, já que as empresas podem mudar de ideia, mas a coisa é pior quando as nem tentam.
Bateria
A bateria do Moto G100 tem reservas de 5.000 mAh, o que também é o mesmo tamanho que vimos no Moto G 5G Plus. Só que como o processador desse aqui é mais poderoso, ele também gasta um pouco mais de energia, então não consegue chegar aos dois dias inteiros de uso moderado, mas dá sim para chegar a um dia e meio se você só usar um pouquinho de redes sociais, mensageiros, assistir uns vídeos e fizer poucas fotos e vídeos.
Já com um uso mais intensivo, com mais de 5 horas de jogos online pesados, ele ainda aguenta bem, mas pode ficar sem força ali do meio para o final da tarde. Isso tudo usando o modo automático da tela, que varia a taxa de atualização para cima ou para baixo dependendo do conteúdo que você estiver usando. Deixando a taxa fixa em 90 Hz, a duração da bateria cai um bocado, mas reduzindo para os 60 Hz você também ganha mais algumas horinhas.
E ele vem na caixa com um carregador TurboPower de 20 Watts, que não é dos mais rápidos que a vêm em celulares recentes, mas também não é dos piores – e é um milhão de vezes melhor do que não ter carregador. Com esse aqui, nos meus testes a recarga de zero a 100% levou perto de 1 hora e 45 minutos.
Extras
Antes de encerrar, vale falar que o G100 só tem um alto-falante para mídias, que é esse voltado para baixo, na posição que é fácil de cobrir com as mãos. Considerando que até o Moto G8 Power já tinha duas caixas de som para áudio estéreo, ver que esse aqui não tem isso mesmo sendo o melhor Moto G de todos é meio decepcionante. Mesmo assim, o volume é forte e a qualidade do som é legal.
Além da capinha, carregador e cabo USB-C, ele ainda vem com fone de ouvido na caixa. Sobre o leitor de digitais na lateral, ele funciona bem, é fácil de alcançar e é rápido, então sem reclamações. E para encerrar tem o cheirinho especial que a Motorola colocou nele, que continua forte na caixa mesmo semanas depois, mas já está bem fraquinho no celular, mesmo eu tendo o utilizado com case quase o tempo todo. O perfume não vai durar muito.
Vale a pena?
Com tudo isso que eu falei aqui, acho que já deu para entender que com as especificações dele, câmeras, bateria, recursos e tudo mais, ele faria mais sentido como um smartphone mais básico do segmento de ponta do que como um que está no topo de uma família de intermediários.
Só que porque então na maior parte do mundo ele chama Moto G100, e não Motorola Edge S? Eu vejo dois grandes motivos: primeiro porque colocando ele como um Moto G, a Motorola conseguiu direcionar bastante a visão dos analistas e do público em geral. A tendência é querermos o comparar com os outros Moto G, e aí fica fácil falar que ele é o melhor de todos. Se ele fosse chamado Edge S, então seria comparado com os modelos que têm câmera melhor, tela melhor e design melhor. Ele só ganharia no processador, e mesmo isso por pouco. Aí, o foco ficaria nas coisas que ele não consegue fazer ou faz pior, o que seria muito pior para a marca.
E o segundo motivo que faz a escolha do nome Moto G100 ser uma jogada de mestre do marketing da Motorola é a própria popularidade da família Moto G pelo mundo, especialmente em países menos endinheirados, como é o caso do Brasil. Aqui, a família G já é muito popular por causa dos aparelhos de ótimo custo-benefício. Lançando o G100 como “o melhor Moto G de todos”, a Motorola certamente ganha a atenção de todo mundo que um dia já sentiu carinho por algum outro integrante da linha. Aí, basta conseguir convencer as pessoas a abrir a carteira.
Falando nisso, no site da Motorola, o Moto G100 sozinho ainda está saindo pelo mesmo preço do lançamento, que é R$ 4 mil a prazo e R$ 3.599 à vista, e com o cabo e o dock Ready For os valores sobem cerca de R$ 200. Já nos varejistas, dá para o encontrar a partir de R$ 3.149 sozinho e R$ 3.254 com os acessórios Ready For.
É um preço barato? De jeito algum. Condiz mais com um Moto G ou com um Edge? Com um Edge, com certeza. Mas é um preço ruim para um valor de lançamento de um celular com especificações desse nível em 2021? Não é. Por mais que eu não recomende comprar agora, é só esperar baixar mais que ele vai valer bem mais a pena. Pelo menos para quem não se importa de receber só uma atualização do Android.
E você, o que achou do Moto G100? Deixe a sua opinião e as dúvidas que tiverem sobrado nos comentários abaixo.
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