O Google Glass pode ter falhado em suas pretensões comerciais no passado, mas desde que a Alphabet — conglomerado-mãe da Google — tomou as rédeas do projeto o gadget vem sendo melhor utilizado em nichos específicos. Um deles é em certos tipos de trabalhos que exigem as mãos dos trabalhadores ocupadas, como na medicina ou na indústria automotiva.
App usa reconhecimento facial e algoritmos treinados para determinar expressões
E outra novidade é uma ótima notícia: um novo app para os óculos inteligentes ajuda as crianças compreenderem melhor as situações sociais. O software usa inteligência artificial e reconhecimento facial para indicar quais emoções representam as expressões das pessoas, em tempo real.
Ao contrário da maioria dos pequenos, que naturalmente aprendem a compreender as expressões faciais interagindo com familiares e amigos, quem tem autismo muitas vezes precisam aprimorar essas habilidades por meio da terapia comportamental. Isso normalmente envolve um profissional que conduz atividades como exercícios com cartões de memória, que representam rostos usando expressões diferentes. Mas esses especialistas são tão raros no mercado que uma pessoa diagnosticada com autismo pode passar 18 meses em uma lista de espera antes de iniciar o tratamento.
Um estudo publicado pela revista Nature na quarta-feira (2) aponta que uma criança que utilizou o programa em casa durante 10 semanas apresentou grande avanço nessa área, incluindo contato visual e habilidade para interpretar melhor as expressões faciais.
Como funciona o programa?
O Autism Glass Project foi criado por Denis Wall, especialista em dados biomédicos da Stanford University, e o objetivo é oferecer uma terapia comportamental por demanda. Um headset grava os rostos das pessoas a partir do campo de visão da criança e alimenta o app para smartphone com as informações registradas.
Pais confirmam que houve evolução das crianças após o tratamento
O aplicativo, treinado com centenas de milhares de fotos faciais, foi desenvolvido para encaixar o conteúdo em oito expressões básicas: felicidade, tristeza, raiva, aversão, surpresa, medo, desprezo e tranquilidade. Quando o software reconhece alguma delas, então ele envia o resultado para o usuário do Google Glass, seja nomeando a emoção pelo alto-falante do fone de ouvido ou exibindo um emoticon em uma tela pequena no canto da moldura dos óculos.
No teste piloto, crianças de 3 a 17 anos com autismo usaram esse programa com suas famílias por pelo menos três sessões de 20 minutos por semana. Antes e depois do tratamento, os pais preencheram questionários para classificar as habilidades sociais de seus filhos. Nesta “Escala de Responsividade Social”, a pontuação abaixo de 60 fica na faixa “normal”, enquanto as de 60 a 65, 65 a 75 e acima de 75 indicam autismo leve, moderado e severo, respectivamente. Ao longo do tratamento, a pontuação média das crianças caiu de 80,07 para 72,93.
Onze das 14 crianças também completaram um exame de reconhecimento de sentimentos no início e no final do tratamento. Nesse teste, um especialista interpretou cada uma das oito emoções centrais cinco vezes e a criança adivinhou qual emoção o observador estava expressando. Antes da terapia, as crianças tinham uma média de 28,45 das 40 perguntas certas; depois, eles obtiveram uma média de 38 respostas corretas.
Programa ainda precisa de ajustes
Embora esses resultados sejam encorajadores, o estudo não incluiu um grupo de controle de crianças que não receberam o tratamento. Portanto, não está totalmente claro se o programa Google Glass foi a única razão pela qual as crianças mostraram melhores habilidades sociais ao longo do tratamento, diz Ned Sahin, neurocientista da Brain Power, uma empresa que desenvolve tecnologia vestível para ajudar pessoas com autismo em Boston. Um levantamento aleatório controlado, em que os pequenos são randomicamente selecionados para receber tratamento ou não, poderia fornecer uma visão mais aprofundada sobre os efeitos da terapia, diz Sahin.
Wall e sua equipe estão atualmente trabalhando em um desses experimentos com 74 crianças de 6 a 12 anos. Se a terapia com o Google Glass funcionar bem em testes clínicos futuros e for liberada para uso generalizado, pode ser um poderoso auxílio de aprendizado, pois o autismo afeta cerca de uma em 59 crianças nos Estados Unidos, de acordo com os Centros dos EUA para Controle e Prevenção de Doenças.
Depois que seu filho de 9 anos, Alex, participou do estudo, Donji Cullenbine descreveu a terapia com o Google Glass como "notável". Ela disse que em poucas semanas Alex estava olhando para seus olhos com mais frequência — uma mudança de comportamento que não acontece desde que o tratamento terminou. Segundo a mãe, o menino gostou da abordagem e recorda dele dizendo: "Mamãe, eu posso ler mentes".
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