No começo de 2016, um homem chamado Martin Shkreli, ex-CEO da Turing Pharmaceuticals, comprou, por 55 milhões de dólares, os direitos de exploração do remédio Daraprim — um dos mais utilizados no tratamento da AIDS.
Após realizar esse movimento, o empresário (que é dono do Team Imagine, equipe famosa de League of Legends) resolveu subir o preço do produto — da noite para o dia — em mais de 5.000%, passando do valor de US$ 13,50 para US$ 750 (número este considerado para um único comprimido).
Isso gerou uma grande revolta na internet, já que se tratava de uma decisão absurda que afetaria milhares de pessoas ao redor do mundo que compravam o remédio.
Depois de toda a polêmica, a Turing Pharmaceuticals resolveu dar um “desconto” de 50% para grandes hospitais, de modo que ele passaria a custar US$ 325. Estamos falando de uma única pílula de 25 mg (os pacientes geralmente precisam tomar o remédio por no mínimo uma semana, sendo recomendado o consumo de duas ou três pílulas por dia).
Ainda em novembro do ano passado, antes de ser preso, Shkreli deu uma declaração de que reduziria o preço do remédio em 10% para os consumidores, ou seja, passando de 750 dólares para 675 dólares. Contudo, um mês após essa notícia, o sujeito comentou publicamente que ele fez errado, pois, veja bem, ele acredita que deveria ter aumentado ainda mais os preços do Daraprim.
E qual seria o motivo de toda essa sacanagem (que ele pode repetir em breve com um remédio para a Doença de Chagas) com as pessoas que necessitam do tratamento? Em todas as ocasiões, Martin Shkreli sempre comentou que seria a questão do lucro. "Precisamos ter lucro com essa droga. Antes, as empresas estavam quase entregando gratuitamente", disse o CEO em entrevista ao Bloomberg.
Esta semana, Shkreli retorna aos holofotes, agora falando diretamente no congresso e mostrando por que ele é o homem mais odiado da internet (e talvez do mundo). Em vídeo publicado no Facebook, ele se recusa a responder as perguntas e simplesmente ri na cara dos políticos, mostrando seu lado insensível. Confira a transcrição dos diálogos:
Representante Jason Chaffetz: “O que você diria para uma mulher doente, velha, que talvez tenha AIDS, sem renda, que precisa de Daraprim para sobreviver? O que você diria pra ela quando ela tem que fazer aquela escolha?”.
Martin Shkreli: “Seguindo o conselho do meu advogado, eu invoco meu privilégio da quinta emenda contra a autoincriminação e respeitosamente me recuso a responder a questão”.
Chaffetz: “Você acha que fez algo de errado?”.
Shkreli repete a mesma resposta padronizada.
Representante Trey Gowdy: “Sabe, você pode responder algumas questões. Esta não te incriminava. Só quero ter certeza que você entende que você é bem-vindo para responder as questões e nem todas as suas respostas vão te levar a incriminação. Você entende isso?”.
Shkreli: “Eu prefiro seguir o conselho do meu advogado, não o seu.”
Representante Elijah Cummings: “Eu quero te perguntar, não, eu quero litigar que você use qualquer influência que tem sobre sua antiga companhia para forçá-los a baixar o preço dessas drogas.”
Shkreli apenas sorri e finge que não está ouvindo.
Cummings: “Você pode desviar o olhar se quiser, mas eu desejo que você possa ver os rostos das pessoas que não podem conseguir as drogas que precisam.”
Cummings: “Certo ou errado, você é visto como o cara mau da indústria farmacêutica, você tem um holofote e tem uma plataforma. Você poderia usar essa atenção para limpar essa imagem, consertar seus erros e para se tornar um dos mais efetivos defensores dos pacientes no país. E um que poderia fazer uma grande diferença na vida de tantas pessoas”.
Shkreli continua sorrindo como se o assunto não fosse com ele.
A sessão começou sem respostas e terminou da mesma forma. Aparentemente, Shkreli não mudou, e a vida de milhares de pessoas continuará em risco com as atitudes egoístas — apesar de permitidas pela constituição americana — do homem que deve continuar como um dos mais odiados do mundo.
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