De tempos em tempos, a Coreia do Norte volta a figurar nas manchetes da mídia. Infelizmente, na maioria das vezes, as notícias não são animadoras. No começo do ano, relatos de um terremoto de magnitude 5,1 na região do país começaram a ser divulgados. Pouco tempo depois, a Coreia do Norte afirmou que o terremoto foi decorrente de um teste bem-sucedido com uma miniatura de bomba de hidrogênio.
A República Popular Democrática da Coreia já havia realizado testes com armas nucleares em 2006, 2009 e 2013. Contudo, todos foram testes com bombas atômicas, diferente do último (2016), que alcança outro patamar em termos de destruição. A bomba de hidrogênio pode ser até 50 vezes mais potente que uma bomba atômica. Sim, uma bomba 50 vezes mais forte do que, por exemplo, aquela que os EUA jogaram em Hiroshima, no Japão.
Apesar de a Coreia do Norte ter afirmado que o teste realmente aconteceu com a poderosa bomba, a agência de espionagem sul-coreana levanta suspeitas. De acordo com Lee Cheo Woo, do Comitê de Inteligência do Parlamento, a bomba seria de fissão — e não de hidrogênio.
Fontes de inteligência dos Estados Unidos também comentaram que deve levar alguns dias para determinar com precisão o artefato que foi realmente testado. Do outro lado do oceano, mas vizinho da Coreia do Norte, o Japão comentou que, felizmente, não detectou qualquer alteração nos níveis de radiação do país.
Kim Jong-un
Posição de países aliados
Países costumeiramente aliados à Coreia do Norte também se manifestaram sobre a possibilidade de o país comandado por Kim Jong-un utilizar essas bombas. A Rússia pediu calma a todas as partes envolvidas e comentou que a ação pode se configurar como uma grave violação das resoluções da ONU. Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, pediu para "que mantenham a calma e não tomem ações que possam provocar uma incontrolada escalada de tensão na Ásia nordeste".
A China, conhecida por ser o principal aliado, disse que se opõe firmemente ao teste da bomba de hidrogênio. Além disso, o país pediu para que a Coreia do Norte não realize atos que agravem as tensões na Península. Ambas as declarações indicam que, caso algo pior aconteça, as chances de os países aliados abandonarem os norte-coreanos existem.
Uma bomba de hidrogênio miniaturizada poderia ser lançada para atingir praticamente qualquer país no mundo
No começo de 2015, o país estava envolvido com ataques hackers e outros problemas que causavam mais tensão na Ásia nordeste. Na época, conversamos com Robert Colin, o embaixador brasileiro em Pyongyang — e você pode ler toda a entrevista clicando aqui.
Como você pôde conferir, perguntamos se havia alguma chance de a Coreia do Norte mudar certas atitudes. A resposta foi essa: "A comunidade internacional deveria estimular uma transição gradual e de longo prazo, encorajando forças dentro da Coreia do Norte e o próprio regime a promoverem mudanças que estimulem um processo de abertura econômica que, por sua vez, conduza ao caminho da moderação política e das reformas. Em suma, pela via do engajamento e da integração à comunidade internacional, a Coreia do Norte poderá alterar suas prioridades políticas e suas atitudes".
De acordo com um relato da Folha de SP, um diplomata norte-coreano disse ao embaixador brasileiro que a decisão da Coreia do Norte de realizar o teste foi tomada com dois objetivos principais: pressão sobre os EUA para negociar um acordo de paz e a indicação de que o país está protegido contra possíveis ataques.
"Eles dizem que não tinham outra escolha, porque não há quem possa defender o país de uma eventual agressão norte-americana. Foi isso que frisaram bem: 'ninguém nos protege'", comentou Robert Colin.
O que é uma bomba de hidrogênio
Agora que você entendeu a tensão política causada pela Coreia do Norte, vamos sair um pouco desse âmbito e lhe contar mais sobre a potência e o perigo de uma bomba de hidrogênio.
Em primeiro lugar, "hidrogênio" (H) é uma designação mais adaptada ao significado termonuclear. Um dos quesitos que diferenciam a bomba H da bomba atômica é o modo de liberação de energia. Para ativar a de hidrogênio, é preciso um processo em que ocorre uma fusão e uma fissão nuclear — no caso da atômica, apenas a última se faz necessária.
Bomba de hidrogênio
A ativação de uma bomba H também parte do seguinte processo (conhecido como Teller-Ulam): cada bomba de fusão possui uma pequena bomba de fissão que explode e aquece o combustível de fusão (tecnicamente, os isótopos trítio e deutério). Fundidos, eles formam o hélio e liberam quantidades enormes de energia — a potência é tanta que é similar à da energia solar. Após tudo isso, a energia liberada ainda pode ser usada para gerar um terceiro processo de fissão e permitir que engenheiros e cientistas fabriquem uma bomba mais potente.
Mas, o que é processo de fissão? Trata-se da divisão de um grande átomo (urânio-235 ou plutônio 239) em dois ou mais núcleos menores. E o processo de fusão? É o contrário: a conversão de dois ou mais átomos (como deutério e trítio) em um maior.
Em resumo: a detonação de uma bomba de hidrogênio utiliza uma bomba nuclear como gatilho. Então, o calor da fissão cria a energia necessária para uma fusão. Dessa maneira, os nêutrons formados se chocam com o urânio da bomba-gatilho e, assim, uma reação em cadeia é formada.
Simulação de detonação de uma bomba termonuclear em São Paulo
O início e o apocalipse das bombas
A primeira bomba de hidrogênio que foi desenvolvida na Terra está nas mãos dos EUA. Chamada de Ivy Mike, ela foi detonada em 1952, em Enewetak, um atol das Ilhas Marshall. Com poder de destruição de 10,4 megatoneladas de TNT (750 vezes mais potente que a bomba de Hiroshima), a detonação completa da Ivy destruiu a ilha de Elugelab e abriu uma cratera com 1,9 quilômetro de diâmetro.
O teste da Coreia serviu apenas para mostrar ao mundo que ela pode se defender
Do outro lado, a Tsar Bomba é a arma termonuclear mais potente já detonada pelo ser humano. No caso, a bomba da Rússia tem um poder de destruição de 50 megatons e foi testada em 30 de outubro de 1961.
Atualmente, os países que contam com a tecnologia devastadora da bomba H são: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, China, França e Índia.
O que a Coreia do Norte pode fazer agora?
Como citamos anteriormente, o suposto teste da Coreia serviu apenas para mostrar ao mundo que ela pode se defender de possíveis ataques norte-americanos. Além disso, a ideia é pressionar os EUA a assinarem um acordo de paz.
Comenta-se que a Coreia do Norte testou uma miniatura, uma versão em escala menor de uma bomba de hidrogênio. E, justamente por ser menor, existe a possibilidade de a arma ser incluída dentro de um míssil, por exemplo, segundo o especialista em armas de destruição John Calson.
O "detalhe" realmente assustador é que, dentro de um míssil balístico intercontinental ou um míssil lançado por um submarino, a bomba de hidrogênio miniaturizada poderia ser lançada para atingir praticamente qualquer país no mundo.
Saiba tudo sobre o funcionamento de uma bomba de hidrogênio. Comente no Fórum do TecMundo
Fontes
Categorias