Smart City Expo Curitiba 2024: Como o setor público pode usar dados para transformar as cidades?

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Imagem: Carlos Pegurski/Reprodução

Em um tempo não muito distante, as pessoas faziam curso para acessar a internet. Mas, se a tarefa de conectar os cidadãos já foi um grande obstáculo, o maior desafio agora é transformar a profusão de informações online em serviços que melhorem o cotidiano das pessoas.

Esse foi um dos tópicos discutidos no primeiro dia do Smart City Expo Curitiba 2024, um dos eventos mais importantes do mundo sobre cidades inteligentes, que começou nesta quarta-feira (20) no Centro de Eventos Positivo, e vai até amanhã (22). Organizado desde 2018 pela iCities, empresa pioneira no setor de cidades inteligentes, o congresso é chancelado pela Fira Barcelona, instituição que é referência em encontros globai.

Durante a mesa Gestão de Dados para uma Melhor Governança, Maurício Bouskela, do Instituto Insper, argumentou que entre as razões para esse impasse estão a baixa precisão e confiabilidade dos dados, dificuldade de padronização e fragilidade na composição de equipes de análise. "Nas esferas estadual e federal, apenas 25% das gestões fazem algum tipo de processamento de dados", relata.

Para ele, o setor público não tem conseguido oferecer à população o mesmo nível de qualidade que as empresas privadas entregam a partir dos dados compartilhados. Os aplicativos de mobilidade urbana, por exemplo, são capazes de identificar preferências e indicar serviços que vão ao encontro da usabilidade do usuário, seja em sugestões de cardápio, seja em rotas otimizadas.

O Estado, por sua vez, ainda patina na maior parte das áreas fundamentais, como no cuidado em saúde, tornando seus serviços menos amistosos e acessíveis. Além disso, perde-se oportunidades de visualizar cenários e formular políticas públicas baseadas em evidências. E não falta matéria-prima: o Brasil tem mais de 150 milhões de pessoas com acesso à internet, o que representa quase 90% da população com mais de dez anos.

Nesse sentido, Bouskela diz que o xis da questão reside na capacidade de analisar os dados disponíveis e ancorar as tecnologias em processos de governança social mais amplos. "Todo mundo se refere a eles como o novo petróleo, mas a verdade é que sem um processamento inteligente eles se acumulam em uma espécie de lixão digital", avalia

Para a colombiana Mariana Rozo-Paz, líder de Política, Pesquisa e Gerenciamento de Projetos da Datasphere Initiative, o segredo está em encontrar o equilíbrio entre a proteção dos dados do cidadão e o compartilhamento das informações que podem trazer novas oportunidades para que as gestões locais consigam resolver problemas práticos da vida nas cidades.

icitiesExistem métodos de governança de dados que podem orientar a estruturação da governança de dados, como os processos ISO. (Carlos Pegurski/Reprodução)

Ana Carolina Benelli, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) menciona mais uma solução. A jornalista acredita que o governo deve priorizar a oferta de serviços por meio digital e integrar plataformas de modo que o cidadão não precise ofertar repetidamente os mesmos dados, melhorando a experiência do usuário com as políticas públicas.

Esse foi o exercício de Barcelona. A cidade catalã usa plataformas online para diferentes serviços, como a aplicação de inteligência artificial na prevenção de doenças dermatológicas, mapeamento de sinistros no trânsito e tomada de decisão participativa. É por isso que, mais que tecnologia, é preciso haver uma estratégia guiando o desenvolvimento desses artefatos.

“Em um mar de dados, precisamos de uma bússola, ou um GPS. Aí entra a governança digital”, diz Paula Melich, delegada do governo catalão no Brasil.

Tecnologia como meio de transformação social

A síntese do primeiro dia do Smart City Expo Curitiba 2024 é de que as tecnologias só serão efetivas se conseguirem transformar a vida das pessoas e oferecer respostas às demandas concretas da população. Esse deve ser o foco dos diferentes atores que compõem as redes de governança, como empresas, poder público, universidades e entidades da sociedade civil organizada.

A garantia de um espaço urbano mais igualitário é o que rege o Brazilian Awards Smart City Expo Curitiba, premiação que ocorrerá nesta quinta (21), durante o evento. A organização preparou cinco categorias que premiarão a cidade mais inteligente, a cidade mais sustentável, os projetos de mobilidade mais interessantes, os projetos de protagonismo social com mais destaque e as instituições mais inovadoras em tecnologia.

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