Um novo estudo científico mostrou que o ciclismo pode reduzir um quinto do total atual de emissões de dióxido de carbono (CO2) por carros. Na pesquisa, os especialistas reuniram dados do uso de bikes de 60 países entre 1962 e 2015.
A melhor performance ficou por conta da Holanda. Os pesquisadores estimam que, se toda a população mundial adotar os mesmo hábitos desse país, o aquecimento global pode ser até mesmo desacelerado.
Juntas, as 60 nações incluídas no estudo representam mais de 95% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial no setor de ciclismo. O artigo foi publicado na revista científica Communications Earth & Environment, do prestigiado grupo Nature.
Os holandeses estão entre as populações que mais usam bicicletas para trafegar pelas grandes cidades no mundo. A média é de que cada pessoa do país pedale 2,6 quilômetros por dia.
Se essa tendência fosse reprodutível em todo o globo, a economia seria de 686 milhões de toneladas de dióxido de carbono emitidos a cada ano. Isso equivale a um quinto do total de fumaça liberada por escapamentos de veículos de passeio em 2015, o último ano incluído no estudo.
Carros são grandes poluidores
Atualmente, entre as fontes de liberação de gases do efeito estufa por queima de combustíveis, destacam-se os veículos como grande poluidor, sendo responsável por colocar um quarto em volume dessas substâncias na atmosfera.
Só os veículos de passeio são culpados por pelo menos metade dessa quantia. É por isso que a tecnologia emergente de veículos elétricos tem chamado a atenção nos últimos anos.
Por exemplo, ao trocarmos um carro tradicional por um elétrico, somos capazes de reduzir o consumo de combustível sem perder todas as vantagens de um transporte convencional: espaço para passageiro, bagageiro, comodidade, proteção contra o clima, etc.
Apesar disso, essa transição de tecnologias tem sido lenta e apenas paliativa. Esse tipo de transporte também precisa de energia proveniente de outras fontes. É aí que as bikes surgem como alternativas prontas para serem aplicadas em larga escala.
Elas são ótimas para substituir o carros no dia a dia, principalmente em trajetos que são muito longos para andar a pé, mas curtos demais para encarar o trânsito das grandes cidades — e não são só os autores do estudo que pensam assim.
Cada vez mais populares
Os dados mostram que a produção de bicicletas no mundo, entre os anos de 1962 e 2015, cresceu mais rápido do que a de carros. Isso significa que mais pessoas têm bikes em casa do que carros, mas, apesar disso, não vemos tantas na rua.
Ter uma bicicleta guardada no quintal não significa que ela seja efetivamente usada. Nos Estados Unidos e no Brasil, as bikes são mais lembradas nos momentos de lazer ou da prática de atividade física.
Essa é uma visão cultural, que muda entre diferentes regiões. Na Holanda e na Dinamarca, por exemplo, o veículo de duas rodas é a primeira opção de muita gente no cotidiano, principalmente como meio de transporte para ir ao trabalho.
Mas qual é a regra? O estudo mostra que a realidade brasileira é mais próxima do que a holandesa ao comportamento médio mundial. Na maioria dos países, a bicicleta é usada em menos de 5% das viagens diárias das pessoas.
Não é só a cultura local que influencia esse número, mas também existem outros fatores, por exemplo o trânsito. Em cidades onde as taxas de mortalidade por acidente são altas, trafegar entre veículos grandes pode ser mais perigoso do que em lugares com motoristas mais cuidadosos.
Outro problema é a falta de infraestrutura. De forma geral, existem poucas ciclovias dedicadas para esse tipo de veículo, o que aumenta a exposição de quem escolhe pedalar a perigos.
Projetos de investimento
Uma forma de resolver o problema é por meio de incentivos financeiros. O governo da Lituânia, oferecendo um auxílio de até 1 mil euros (quase 5 mil reais), conseguiu mais de 8 mil novos usuários de diferentes meios de transporte limpos para o país, incluindo ciclistas.
A França, com vontade de alcançar os vizinhos Holanda, Alemanha e Dinamarca, foi ainda mais longe. Apenas 3% dos habitantes desse país são ciclistas, e o governo pretende aumentar a cifra para até 9% ao dar um auxílio de 4 mil euros (20 mil reais) para quem trocar o carro por uma bike.
Além disso, os franceses devem gastar 250 milhões de euros para tornar a capital inteira apropriada para o ciclismo. A prefeita da cidade, Anne Hidalgo, prometeu expandir em 130 quilômetro as ciclovias parisienses.
No mundo das bikes, outro participante com um grande papel é a China. O país tem hoje um quarto da frota mundial de bicicletas e é líder no número absoluto de vendas do veículo. Contudo, essa nação vive um retrocesso apesar das boas colocações.
As bicicletas chinesas já viveram épocas mais gloriosas. Até meados da década de 1990, elas eram as "queridinhas" dos chineses, pois o país detinha quase 40% do comércio mundial desse meio de transporte. Mas então veio o projeto de motorização do país, e o número de ciclistas só decresceu.
Após a China e os Estados Unidos, o Brasil figura como o maior consumidor de bicicletas, seguido do Japão e da Alemanha. Em termos de usuários per capita, entretanto, os países nórdicos são os que "nadam de braçada" — ou melhor, "pedalam de pernada".
Os autores do estudo estimam que a demanda por mobilidade urbana deve aumentar em três vezes até 2050. No ritmo atual, o surgimento de veículos elétricos pode não dar conta de neutralizar a emissão de poluentes.
Com todo esse dióxido de carbono na atmosfera, os resultados serão catastróficos para o meio ambiente. Portanto, voltar os nossos olhos para um meio de transporte antigo é uma boa solução. É... pedalar como os holandeses pode não ser uma má ideia, afinal.
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