Nos últimos anos, a mobilidade elétrica vem sendo destaque nas mesas de discussões de líderes mundiais e ganhou notoriedade por meio de empresários visionários, como Elon Musk, o qual é, provavelmente, o maior investidor e entusiasta dos veículos elétricos do planeta.
Os aportes em tecnologia giram cifras bilionárias, e os maiores desafios são, sobretudo, baratear as baterias e diminuir o custo de produção desses veículos.
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Nesse sentido, a China vem conseguindo algum êxito. De acordo com a Bloomberg, existem mais de 300 marcas que se enquadram legalmente como fabricantes de modelos elétricos no país. Muitos desses automóveis têm preços competitivos até mesmo para o mercado chinês, na faixa dos R$ 30 mil.
Mas quais são os desafios do Brasil nessa revolução elétrica? Diferentemente de países que estão se planejando e já projetam uma data para o fim da comercialização de carros a combustão, como a Noruega — que planeja até 2025 extinguir a venda de carros com motores térmicos — e o Japão (um dos gigantes do mercado mundial de carros, que pretende zerar sua emissão de carbono até 2050), o Brasil terá pela frente grandes desafios, mas que podem ser mitigados com investimentos em tecnologia e Parcerias Públicas-Privadas (PPPs).
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o Boston Consulting Group (BCG), dependendo do cenário econômico dos próximos anos no Brasil, veículos leves eletrificados podem responder por algo entre 12% e 22% do mix de vendas em 2030 no país e de 32% a 62% em 2035. Nesse momento, os modelos eletrificados respondem só por 2% do mix de vendas de veículos leves. Nesse cenário apontado pelo estudo, seriam 432 mil veículos leves por ano em 2030, subindo para 1,3 milhão por ano em 2035.
Fonte: Shutterstock
Essa transformação tecnológica de zero emissão não ficará restrita aos carros de passeio. A indústria de veículos pesados também já deu início à própria corrida. No Brasil, algumas marcas apresentaram seus caminhões, mas ainda com foco em percorrer pequenas distâncias em centros urbanos, e as empresas especializadas na recarga já oferecem plataformas digitais voltadas para o gerenciamento desse processo.
Essa nova tecnologia promete operacionalizar, por exemplo, soluções para empresas com frotas que utilizam carros elétricos para não depender apenas de pontos de recarga instalados em seus negócios, otimizando sua performance diária.
Desse modo, já existe no Brasil uma gama de soluções integradas em apenas uma plataforma. Dentre elas, o controle sobre a quantidade de energia consumida pelos veículos, que permite medir qual é o funcionário que fez uso de um deles e por quanto tempo.
Para melhorar a estratégia logística da empresa, é possível visualizar um mapa com as estações de recarga que podem ser utilizadas. O empresário também pode ter acesso aos eletropostos disponíveis e verificar, por exemplo, se estão fora do ar, em manutenção, uso ou livres. Além de propiciar tranquilidade e segurança para o empresário, essa ferramenta amplia o controle e facilita a gestão no dia a dia do negócio.
Mas quando isso vai se expandir? A Suécia já construiu sua rodovia eletrificada, que faz parte do plano do país para eliminar os motores movidos a combustíveis fósseis até 2050. Nessa realidade, os veículos elétricos recarregam enquanto fazem seu percurso na rodovia.
O sistema inteligente foi desenvolvido em parceria com uma empresa israelense, com investimento de 11 milhões de euros. Ele foi instalado em um trecho estratégico, que percorre 1,6 quilômetro de estrada, ligando a cidade de Visby ao aeroporto local, ambos localizados na ilha sueca de Gotland.
Entretanto, para revolucionar o transporte rodoviário de cargas de longas distâncias, um novo player entrou na corrida: O Reino Unido. Este já começou um teste-piloto da e-Highway, seguindo o mesmo conceito utilizado na Suécia, em que a eletricidade é gerada por uma rede de bobinas instaladas sob a estrada. Assim que a bobina recebe a corrente elétrica, inicia o processo de geração do campo magnético — que é o responsável pela recarga. Diversos postes serão espalhados por 20 km da autoestrada M180, nas proximidades da cidade de Scunthorpe, com cabos de energia suspensos. Os caminhões terão pantógrafos elétricos, que encostarão nos cabos aéreos e, assim, realizarão o carregamento das baterias.
O governo britânico estima o investimento em 2 milhões de libras para os testes iniciais. Caso o Reino Unido entenda que o sistema é viável, a implantação em todas as autoestradas pode acontecer até 2030, com um custo total de 19 bilhões de euros.
Apesar de um aporte inicial alto, o governo acredita que o investimento seja recuperado em até 15 anos com impostos sobre a eletricidade consumida. Além de não poluir, com a nova tecnologia, as entregas vão ganhar mais velocidade, uma vez que os caminhões não vão precisar parar para recarregar.
Outro aspecto positivo e com impacto direto no custo dos veículos elétricos é que, com essa tecnologia, as baterias podem ser menores, ou seja, mais baratas, uma vez que não necessitarão de um grande armazenamento para percorrer a mesma distância.
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Junior Miranda, CEO da GreenV, mobilitytech que desenvolve tecnologias inteligentes em mobilidade elétrica.