David Morrow (71), motorista do Uber, teve o carro roubado enquanto trabalhava para o aplicativo em fevereiro. Cinco meses depois, a empresa ofereceu uma proposta de ajuda de custo na franquia dedutível do seguro no valor de US$ 1 mil, cerca de R$ 5.230 em conversão direta, desde que ele assine um termo de confidencialidade, impedindo-o de processar ou depreciar a empresa e de comentar o crime e detalhes do acordo.
Disponível no link, apenas em inglês, a proposta foi enviada 1 dia após o portal de jornalismo de dados The Markup ter entrado em contato com o Uber e a Lyft sobre uma onda de assaltos de carros de aplicativos nos Estados Unidos. Em 1 ano e meio, 124 roubos e tentativas de furto foram contabilizados pelas autoridades. "Eu iria jogar fora os meus direitos assinando isso. Eu não teria recursos", afirmou Morrow.
Em 2018, o Uber revelou uma mudança em relação à abordagem judicial de casos de violência sexual. Vítimas desses crimes não precisam mais assinar acordos de não divulgação, mas, aparentemente, isso não se aplica a assaltos.
A representante da companhia, Jodi Kawada Page, afirmou que assaltos a motoristas de aplicativos têm sido amplamente reportados. "Essas tendências estão evoluindo e mudando, estamos tentando permanecer flexíveis em nossa abordagem para dar suporte aos motoristas e suas situações únicas", ela afirmou.
"Existem vários exemplos de funcionários que compartilham suas histórias e que também recebem o nosso apoio", adicionou Page. A porta-voz não respondeu à pergunta do The MarkUp sobre quantos profissionais já precisaram assinar termos de confidencialidade e em quais circunstâncias os documentos são enviados.
O caso de Morrow
De acordo com um boletim de ocorrência do Departamento de Polícia de Atlanta, o aplicativo pareou o idoso estadunidense com um passageiro chamado "Rico", mas Morrow recebeu dois clientes em sua viagem com destino a um complexo de apartamentos. Na chegada, a vítima percebeu que um dos passageiros estava carregando um rifle; logo depois, o outro apontou uma pistola para a cabeça do idoso.
Além de levarem o Honda Accord 2021 do profissional, os usuários do app roubaram um celular da Samsung, avaliado em US$ 900 (R$ 4.716), um óculos de sol de US$ 800 (R$ 4.192) e a chave de casa do motorista.
Bryant Greening, advogado e co-fundador da firma LegalRideshare, especializada em atender motoristas de aplicativos, afirmou: "Existe a possibilidade de alguém criar uma ação coletiva (class-action) para indivíduos agredidos ou que tiveram seus carros roubados e que têm ligação com a Uber". Assinando o termo, Morrow não poderia participar da ação judicial.
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