Presentes de forma inevitável em nosso cotidiano de mobilidade, os carros pouco a pouco vêm deixando de ser objeto de desejo de uma parcela mais jovem de consumidores. Se por um lado as facilidades só aumentam na compra de veículos zero quilômetro e seminovos, com ausência de entrada e parcelamentos a perder de vista, por outro lado é considerável a fatia de pessoas que buscam novas modalidades para se locomover sem um automóvel próprio.
Divulgada em novembro pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), uma pesquisa da Globo Insights apontou que apenas quatro em cada dez entrevistados sem carro pretendem comprar um.
Apenas quatro em cada dez entrevistados sem carro pretendem comprar um automóvel próprio
Uma das alternativas são os carros por assinatura, uma espécie de "Netflix dos carros" que já vem registrando crescente adesão de gigantes do setor como Volkswagen, Fiat, Jeep e Porsche. O conceito é o chamado Car as a Service (CaaS), modelo de negócios baseado no aluguel de veículos por períodos determinados em contrato com uma locadora específica. A opção é interessante por oferecer valores mensais mais baixos do que um financiamento.
Fruto da mentalidade da nova geração, especialmente dos millennials, que se preocupam mais com o ir e vir do que com o modal que será usado para isso, o efeito mais evidente é o aumento de serviços como Uber e 99, caronas e até mesmo táxis.
Efeito pandemia
Um dos efeitos da pandemia foi a mudança nos hábitos de locomoção por quem consegue evitar o transporte coletivo. Em relação aos carros por assinatura, uma tendência que se avizinha é a livre escolha entre um modelo ou marca favorito e por quanto tempo se pretende usá-lo.
Entre as vantagens mais gritantes está a ausência de preocupação com seguro, manutenção, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e documentação, coisas que tiram o sono dos proprietários de veículos.
Com o aumento na demanda e na oferta de carros por assinatura, a tendência é que o valor diminua com crescimento do número de assinantes, tornando o modelo ainda mais vantajoso do que o pagamento de parcelas de financiamento. Exemplos não faltam: a Localiza lançou o Meoo com benefícios exclusivos para seus clientes; já a Usecar destaca a possibilidade de ter um "carro zero o ano todo".
Gigantes de olho
Falando um pouco das grandes do setor, desde 2017 a Porsche oferece uma espécie de clube de assinaturas nos Estados Unidos com o Porsche Drive, que dá ao associado o direito a dirigir modelos variados por cerca de 2,5 mil quilômetros por mês. Há também o Porsche Drive — Rental, que não é assinatura, e sim uma forma de locação dos carros por curto prazo (dias ou semanas). O preço do aluguel depende do veículo e começa em cerca de US$ 245 por dia.
O grupo FCA, dono de montadoras como Fiat e Jeep, acabou de apresentar no Brasil uma nova empresa chamada Flua!, que vai oferecer carros das duas marcas no novo modelo de aluguel de longo prazo no Paraná e em São Paulo.
A Volkswagen anunciou recentemente um novo plano de assinatura de carros zero quilômetro chamado Volkswagen Sign and Drive, por enquanto disponível apenas para a cidade de São Paulo e o interior paulista. As negociações podem ser feitas de forma digital, desde a escolha do modelo e do tempo desejado até o envio de documentos e a assinatura do contrato.
O usuário só precisa sair de casa para buscar o veículo
A iniciativa faz parte de um projeto de transformação digital da VW que busca envolver os consumidores mais jovens. O programa só disponibiliza os modelos T-Cross por 12 meses e Tiguan por 24 meses. A Volks anunciou a intenção de expandir o serviço com a inclusão de novas opções já no começo de 2021. Nas simulações apresentadas, a mensalidade para assinar um T-Cross TSI seria de R$ 1.899 e para um Tiguan Comfortline, R$ 3.659 mensais, o que resulta em um valor final aproximado de R$ 87.816 após 24 meses.
Um ponto interessante a se notar é que não foi apresentado nenhum benefício para quem desejar, ao fim do período, adquirir o veículo. Segundo a fabricante alemã em entrevista à Quatro Rodas, o foco do programa não é vender carros, e sim "oferecer mais comodidade para o público"; mais uma evidência de que a mudança na mentalidade sobre as formas de mobilidade está vindo para ficar e pode trazer novidades impensáveis até pouco tempo atrás.
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Beto Marcelino, colunista quinzenal do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre cidades inteligentes com a chancela da FIRA Barcelona.
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