Caminhões elétricos podem “ganhar as cidades” antes dos carros

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Quem acompanha o TecMundo certamente viu esta semana a “briga” entre Elon Musk, CEO da Tesla, e Bill Gates, criador da Microsoft, sobre a viabilidade dos caminhões elétricos. Provocado por um usuário do Twitter, Musk disparou que Gates “não tinha ideia” do que dizia quando questionou, em agosto, a praticidade dos veículos elétricos para viagens longas e transporte de cargas em modelos pesados.

A Tesla lançou seu caminhão elétrico Semi em 2017, mas está com atraso no cronograma de entrega dos modelos, originalmente previsto para o ano passado. Musk talvez tenha sentido a “indireta” por sua empresa não ter sido mencionada entre os elogios de Gates, que citou fabricantes de picapes elétricas como GM, FordRivian e Bollinger – lembrando que a Tesla trabalha na picape Cybertruck nesse momento.

Caminhões elétricos poderão ser realidade nas cidades antes dos veículos de passeio, devido à sustentabilidade, menor ruído na circulação e baixo custo de manutenção e de recarga de energia

Deixando de lado as querelas entre bilionários visionários, o fato é que o cenário dos caminhões elétricos ainda divide opiniões: por um lado, há quem questione a viabilidade dos modelos pelos altos preços – o que parece ser uma constante quando se fala de veículos elétricos até agora. Por outro, entusiastas não se furtam de cravar que os caminhões elétricos poderão ser realidade nas cidades antes dos veículos de passeio, graças a suas vantagens sustentáveis (baixa emissão de CO2), menor ruído na circulação e baixo custo de manutenção e de recarga de energia.

De fato, tais benefícios são muito convidativos ao ambiente das cidades, em suas estratégias frequentes para ampliar os aspectos sustentáveis e otimizar a mobilidade urbana de serviços, como a coleta de lixo.

Fabricação no Brasil

Já em relação às empresas, os atributos mais buscados envolvem modelos de e-delivery, como se vê no caso do modelo elétrico da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO).

Com sua produção iniciada em agosto, o modelo desenvolvido no Brasil está sendo feito na fábrica de Resende (RJ), com início das vendas previsto para o primeiro semestre de 2021. Segundo informações do Estadão, a companhia criou o e-consórcio com empresas como Bosch, CATL, Moura, Semcon, WEG, Meritor e Siemens – modelo de negócio que inclui a montagem do veículo e a instalação da infraestrutura de recarga das baterias.

Nos últimos dois anos, o modelo vem sendo testado pela Ambev na capital paulista. Primeiramente atuando na distribuição de bebidas, a frota elétrica passou a atender os supermercados na pandemia. Segundo dados da empresa, até agora a Ambev deixou de emitir mais de 22 toneladas de CO2 na atmosfera, com redução do consumo de diesel em mais de 6,5 mil litros.

Gigantes na vanguarda

Além das empresas mencionadas, outras gigantes do setor como Mercedes, Scania, Volvo, Iveco e Renault também apostam na frota elétrica de caminhões e picapes. Em 2009, a Renault Trucks foi a pioneira no lançamento de veículos elétricos para transporte de carga. Com bons resultados, a empresa francesa já vende na Europa a segunda geração de seus modelos elétricos – que inclui o furgão Master Z.E e os caminhões D Z.E e D Wide Z.E, com capacidades de 3,5 a 26 toneladas de Peso Bruto Total (PBT).

renaultFrota de veículos de serviço da Renault (Divulgação/Renault)

A Mercedes-Benz Trucks começou a investir no segmento de caminhões elétricos em 2018. A empresa entregou dez eActros (de 18 e 25 toneladas) para testes de empresas alemãs e suíças, usados em operações de distribuição e transporte.

A Volvo começou a vender seus caminhões elétricos no final de 2019, com início da produção na fábrica da Suécia em março de 2020. Por sua vez, a Scania vende dois tipos híbridos de caminhão eletrificado na Europa desde o ano passado. O modelo Daily, da Iveco, tem autonomia entre 90 e 130 km em plena carga, dependendo do tipo de rota e operação. Segundo a empresa, as baterias receberam ajustes que ampliaram o rendimento em 20%, além de redução do peso do sistema. Na prática, o semi-leve pode receber até 100 kg a mais de carga útil se comparado à versão anterior.

Já a Daimler Trucks planeja oferecer veículos elétricos em todas as suas principais regiões de vendas até 2022: o FUSO eCanter, nos caminhões leves, o Freightliner eM2, entre os médios, e o Mercedes-Benz eActros e o Freightliner eCascadia, dos pesados. Segundo divulgação recente da empresa, clientes de todo o mundo já rodaram mais de 7 milhões de quilômetros com caminhões e ônibus movidos a bateria e neutros em CO2.

Investimento que se paga

Especialistas ouvidos pelo AutoEsporte, em reportagem de março deste ano, apontam que a diferença no valor de compra dos caminhões elétricos em relação aos modelos a diesel é compensada pelos custos mais baixos de manutenção e recarga com energia – dentro da idade média de troca da frota.

Para este cálculo, são pontuados os custos de manutenção e combustíveis, fornecidos pelas fabricantes e pela Agência Nacional do Petróleo: para um caminhão leve a diesel, cada quilômetro rodado custa entre R$ 1 e R$ 1,05. Em um modelo elétrico, recarregado durante a noite, quando o preço da energia é mais baixo, que roda 100 km por dia, os R$ 120 mil do investimento podem ser pagos em seis anos (levando em conta os 250 dias úteis anuais). Isso é menos da metade da idade média de 13,9 anos dos caminhões leves que rodam no país, segundo a Agência Nacional dos Transportes Terrestres.

Caminhão elétrico "se paga" em 6 anos, o a diesel leva em média 13,9 anos

O cenário dos caminhões e picapes elétricas se assemelha, em parte, ao dos veículos de passeio, com a diferença de que o valor investido acaba sendo recuperado em alguns anos – sem falar nas economias citadas e no benefício ao meio ambiente. Já a vida útil dos carros e seu “status” como objeto de consumo acabam sendo um pouco diferentes da dos caminhões. Com mais opções no mercado, as empresas de transporte e distribuição acabarão sendo atraídas pelos elétricos – num futuro próximo mais verde e menos barulhento para as cidades.

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Beto Marcelino, colunista quinzenal do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre cidades inteligentes com a chancela da FIRA Barcelona.

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