Lançado pelas equipes da Tesla e da SpaceX, comandadas por Elon Musk, o conceito do Hyperloop poderá ser uma das soluções tecnológicas sustentáveis para resolver uma série de questões urbanísticas e de mobilidade nos próximos anos. Segundo análises de especialistas em smart cities, o cenário pós-Covid também pode ser fértil para a retomada dos investimentos endereçados ao chamado “quinto meio de transporte”, além de fomentar novos empregos em nações da Europa e nos Estados Unidos (a princípio), podendo se estender para o Brasil mais adiante.
Mas antes de prosseguirmos nessa perspectiva, o leitor precisa dar um passo atrás e relembrar do que se trata o Hyperloop: ele consiste em um veículo que viaja através de um tubo de baixa pressão, levitando a velocidades superiores a 1.000 km/hora. O modal futurista permitirá viagens na velocidade de um avião com o conforto e praticidade de um trem.
O que mais estimula os profissionais envolvidos na empreitada – alguns deles estiveram conosco na edição 2019 do Smart City Expo Curitiba (SCECWB 2019), incluindo o empreendedor italiano Bibop Gresta, que então presidia a Hyperloop Transportation Technologies e depois fundou a Hyperloop Italia – é que o projeto não envolve apenas um meio de transporte, e sim problemas complexos e sistêmicos já existentes, além daqueles panoramas urbanísticos ainda não resolvidos que todos enfrentaremos.
Vantagens ambientais
Dito isso, vamos em frente. O refinamento do real propósito desse tipo de inovação vinda de uma startup “de peso”, e seu verdadeiro significado para o futuro do transporte de cargas e passageiros, é que podemos sensibilizar a cena ambiental mundial.
Todos os estudos de viabilidade já realizados para o Hyperloop, como na linha entre as cidades norte-americanas de Chicago, Cleveland e Pittsburgh, demonstram que os benefícios do sistema superam amplamente os custos de transporte tradicional, na economia e não agressão ao meio ambiente. O abastecimento do Hyperloop é feito totalmente por meio de energias renováveis (solar, eólica e cinética), sendo uma alternativa muito mais sustentável do que as viagens aéreas e rodoviárias tradicionais.
Um dos maiores empecilhos ainda é o custo dessas “cápsulas que levitam”, que gira em torno de 25 bilhões de dólares no trecho citado, nos Estados Unidos, e está sob aprovação dos técnicos e legisladores do sistema de transportes regional. O projeto, que levou quase dois anos para ser desenvolvido, usou métodos aprovados pelo governo para analisar os custos e benefícios da nova infraestrutura ferroviária. Outro estado americano que estuda a adoção do Hyperloop é a Carolina do Norte.
No Brasil
Em relação ao cenário brasileiro, por ora não me debruçarei devido às incertezas tanto do momento atual, quanto do cenário político: tudo o que estava em planejamento nas administrações municipais e estaduais em 2019 precisou ser deixado em “stand by”, incluindo os estudos de viabilidade e investimentos para possíveis trechos de Hyperloop entre as cidades São Paulo e Rio de Janeiro, Curitiba e Campinas.
“Nós conversamos sobre trazer o Hyperloop para a região de Curitiba. E também sobre oportunidades concretas. Identificamos possíveis corredores e projetos, mas isso foi apenas uma conversa. Não há nada acertado. A conversa inicial foi boa, e o Rafael Greca é um prefeito sábio e corajoso”, afirmou Bibop Gresta durante o SCECWB 2019, em entrevista ao TecMundo.
Como seria uma estação do Hyperloop (Reprodução/Hyperloop TT)
Mundo Pós-Covid
Um artigo publicado esta semana pelo Smart Cities World (Sharing ideas to solve urban challenges), de autoria do cofundador da empresa de Hyperloop espanhola Zeleros, Juan Vicén, argumenta justamente que o conceito futurista do modal por vezes acaba ofuscando seus benefícios ambientais substanciais.
A expansão do setor de transportes pode estar diretamente ligada ao aumento do congestionamento, poluição e dependência de petróleo. Até 2050, cerca de 68% da população global viverá nas cidades, de acordo com a ONU. “Será uma mudança sociodemográfica que nos obriga a repensar a maneira como os passageiros e o frete são transportados. O tráfego aéreo global vem dobrando a cada 15 anos desde 1977, tornando seu crescimento insustentável e aumentando rapidamente a contribuição do setor para as emissões de carbono”, enfatizou Vicén.
Entre as estratégias de recuperação da sociedade global após a pandemia da covid-19, a tecnologia Hyperloop pode contribuir para a redução de emissões diretas de dióxido de carbono, ao mesmo tempo em que irá proporcionar uma experiência de viagem semelhante à aérea em determinadas rotas – já levando em conta uma previsão razoável de melhorias no setor da aviação nas próximas décadas.
Uma frota de Hyperloop é energizada por meio de um sistema de armazenamento de energia limpa
“Uma frota de Hyperloop é energizada por meio de um sistema de armazenamento de energia limpa, o que significa que a principal fonte de emissões em potencial seria a construção da guia e infraestrutura relacionada. No entanto, considerando as metas estabelecidas pelas indústrias de aço e concreto para 2050, as emissões devido à fase de construção e operação ainda serão quase insignificantes em comparação com as atuais operadoras de aviões comerciais”, pontuou o empreendedor da Zeleros.
O Hyperloop é um exemplo de como a inovação pode contribuir de maneira tangível e factual, num futuro próximo, para a mudança de mentalidades e sistemas no caminho para uma sociedade mais sustentável, resiliente, inclusiva e próspera.
Esperamos que os investidores possam aproveitar o momento pós-Covid e perceber o potencial das grandes empreitadas de mobilidade
Faço coro aos apelos de Juan Vicén, Bibop Gresta e do próprio visionário Elon Musk: como entusiastas e profissionais aplicados às soluções urbanas de smart cities, oferecemos aos investidores da gestão pública e iniciativa privada a possibilidade de investir em projetos rentáveis, ao mesmo tempo em que participam da mudança sistêmica do modelo econômico.
O Hyperloop pode parecer algo extremamente futurista e pouco palpável, mas a tecnologia, a indústria e os investimentos estão firmemente fundamentados no cenário desta década. Esperamos que os investidores possam aproveitar o momento pós-Covid e perceber o potencial das grandes empreitadas de mobilidade e sustentabilidade mundo afora.
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Beto Marcelino, colunista quinzenal do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre cidades inteligentes com a chancela da FIRA Barcelona.
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