A crença popular afirma que, na hora de realizar diversas tarefas simultâneas, não há quem vença as mulheres. Elas podem falar ao telefone, conferir o Facebook, pentear o cabelo e ainda brincar com um cachorro, tudo isso ao mesmo tempo, sem qualquer problema — enquanto isso, seres do sexo masculino teriam dificuldade até mesmo para participar de uma conversa enquanto amarram o tênis.
Será que essa crença tem base na realidade ou, assim como simpatias e lendas urbanas, é só algo que sobrevive devido a costumes? É isso o que você vai descobrir neste artigo.
Indecisão
Quando o assunto é comparar a capacidade multitarefa de homens e mulheres, até o momento não há um consenso entre o meio científico sobre qual dos lados é mais eficiente. As pesquisas realizadas até o momento mostraram resultados conflitantes: enquanto algumas afirmam que o sexo feminino realmente é melhor nesse sentido, outras mostram que não há diferenças significativas que provem essa tese.
(Fonte da imagem: The Dominion Post)
Exemplo do primeiro caso é um estudo realizado pela Universidade de Hertordshire, cujo resultado mostra que mulheres são mais eficientes quando é necessário refletir sobre um problema enquanto outros trabalhos são realizados. A pesquisa pediu que 50 pessoas de cada gênero desempenhassem quatro ações simultâneas — em todos os casos, os membros do sexo feminino obtiveram resultados substancialmente melhores.
Já o trabalho realizado pelo neurocientista Paul W. Burgess, do University College em Londres, apresenta um resultado bastante diferente. Segundo ele, ambos os lados desempenham serviços simultâneos com a mesma eficiência — a diferença fica por conta dos caminhos que cada um dos gêneros toma para resolver os problemas apresentados.
Porém, algo que a maioria dos cientistas concorda é que, quando o assunto é multitarefa, não existe um verdadeiro vencedor. Fazer muitas atividades diferentes ao mesmo tempo não só exige mais energia do que fazê-las de forma separada, como pode fazer com que você ganhe alguns quilinhos.
Desempenho diminuído
Cientistas afirmam que, embora seres humanos consigam lidar com vários trabalhos ao mesmo tempo, nosso organismo não foi desenvolvido com esse objetivo.
Como exemplo, podemos usar o caso de motoristas que costumam falar ao telefone enquanto dirigem. “Se você está dirigindo enquanto fala ao celular, então o seu desempenho é tão ruim quanto se você estivesse bêbado”, afirma David Meyer, professor de psicologia da Universidade de Michigan.
Esse é um dos processos mais exigentes pelos quais nosso cérebro passa — na estrada, é preciso processar informações visuais, prever a direção de outros motoristas e coordenar precisamente movimentos das mãos e dos pés. Mesmo que você esteja usando comunicadores sem fio, cientistas descobriram que uma simples conversa diminui o foco no que acontece pelo caminho.
Marcel Just, neurocientista da Universidade Carnegie Mellon, explica que esse é o motivo pelo qual um indivíduo que aprendeu recentemente a pilotar um carro evita ligar o rádio ou interagir com outras pessoas. Também foi descoberto que quantidade de concentração necessária diminui automaticamente conforme o cérebro vai automatizando os processos exigidos— em outras palavras, repetir sempre a mesma tarefa faz com que seja mais fácil prestar atenção a outras ações.
Multitarefas: um mito
Na verdade, a sensação de que o cérebro é capaz de realizar várias tarefas de forma simultânea é um mito. Segundo o professor de neurociência do MIT, Earl Miller, na maior parte do tempo simplesmente somos incapazes de prestar atenção em mais de uma coisa.
Ele explica que, na verdade, o que fazemos é mudar o foco da concentração de um objetivo para outro com uma velocidade absurda. “Mudando de tarefa para tarefa, você pensa que está realmente prestando atenção a tudo a seu redor. Mas na verdade você não está”, afirma o pesquisador.
Miller explica que há diversas razões pelas quais o cérebro prefere mudar de ocupação em vez de realizar mais de uma de maneira simultânea — entre elas, o fato de que muitas dessas atividades competem pelo uso da mesma parte do cérebro. “Tente escrever um email e falar ao telefone ao mesmo tempo. Essas coisas são quase impossíveis de fazer simultaneamente”, exemplifica Muller. “Ambas envolvem comunicação através do discurso, o que gera muitos conflitos entre elas”, completa.
Sobrecarga cerebral
Daniel Weissman, professor de cognição e percepção na Universidade de Michigan, explica que há uma espécie de pausa no cérebro quando é o momento de trocar de tarefa. É preciso que o organismo descarte uma informação anterior para só então conseguir processar os novos dados recebidos — processo que acontece até durante trabalhos considerados simples.
A responsável pelas mudanças constantes é uma área chamada “sistema executivo”, localizada no lobo frontal. Além de ajudar a definir objetivos a longo prazo, esse espaço permite que ignoremos elementos indesejados do ambiente — é isso que torna possível ignorar uma televisão ligada e prestar atenção às páginas de um livro, por exemplo.
Apesar de o cérebro poder mudar rapidamente o trabalho que desempenha, chega um momento em que o sistema entra em sobrecarga. Isso é algo comum em ambientes de trabalho, que exigem cada vez mais profissionais versáteis e capazes de desempenhar uma série de funções ao mesmo tempo.
Altenar entre diferentes trabalhos de maneira constante podem até mesmo fazer com que você engorde. Uma pesquisa da Universidade Emory mostrou que realizar várias tarefas simultâneas destrói o autocontrole, o que pode tornar aquele lanche gorduroso praticamente irresistível. A solução para o problema? Organizar tarefas semelhantes em grupos separados e procurar resolvê-los um de cada vez.
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