Por anos e anos, a Microsoft reinou quase que soberana no mundo dos softwares. A liderança absoluta, porém, parece ter arrefecido o ímpeto de inovação da companhia, que se viu ultrapassada pelas principais rivais em mercados nos quais ela dominava, como o dos navegadores ou o dos sistemas operacionais. Quando o assunto é a produção de hardware, então, o “cochilo” da MS fica ainda mais evidente.
E isso é reconhecido inclusive pelo ex-presidente da companhia Steve Ballmer. Grande tomador de decisões da Microsoft durante 16 anos, entre 1998 e 2014, Ballmer afirma se arrepender de não ter reconhecido antes a necessidade de levar a MS também para o mercado de hardware. Quando a empresa tomou tal decisão e iniciou a produção de smartphones próprios, por exemplo, já era tarde — e o negócio foi minado também por uma série de decisões equivocadas.
“Eu demorei a reconhecer a necessidade de novas capacidades, especialmente em hardware”, afirmou o ex-executivo em conversa durante a Recode Conference. “Gostaria que tivéssemos construído esta capacidade de ser uma companhia de hardware de alto nível”, prosseguiu Ballmer.
Software é hardware
Um dos pontos levantados por Ballmer durante a conversa foi o fato de o hardware ser “essencialmente uma das novas expressões do software”. Ou seja, na visão do ex-executivo, as duas coisas caminham juntas — e o sucesso da Apple e iniciativas como o smartphone Pixel, da Google, estão aí para confirmar essa teoria.
Microsoft demorou a entrar no mercado de hardware e paga pela lentidão até hoje.
Mas a Microsoft demorou a assumir isso e paga por sua lentidão até hoje. Atualmente, após algumas iniciativas não muito louváveis, a empresa parece ter finalmente chegado a um caminho com os recentes lançamentos da linha Surface.
A integração perfeita entre hardware e softwre é o que a coloca como uma alternativa de fato às máquinas feitas por outras fabricantes que usam o Windows como o seu sistema operacional.
Sucesso na nuvem, fracasso no mobile
O ex-presidente da Microsoft reconhece que a sua antiga companhia obteve um bom sucesso no âmbito da nuvem. A cloud computing tem se mostrado a contraparte perfeita para o mundo físico, com cada vez mais demanda por soluções ágeis e inteligentes, o que a MS tem conseguido oferecer quem sabe até com mais destreza do que as suas principais rivais.
Entretanto, a visão estratégica de Redmond para a parte imaterial não se refletiu na criação de uma capacidade para outro item crucial do mundo moderno: o smartphone. A Microsoft demorou a entrar no jogo e, quando o fez, cometeu diversos erros cruciais para praticamente matar o Windows Mobile. Reboots, incompatibilidade com aparelhos mais antigos e restrições excessivas no licenciamento do software para outras empresas são alguns dos percalços que estão levando a iniciativa para o limbo.
“O ponto em que nós vacilamos com o telefone é que tentamos utilizar técnicas antigas, como o licenciamento de software. As mesmas técnicas que nunca nos levarão a algum lugar”, apontou Ballmer. “Nós tivemos um modelo equivocado de monetização, um modelo equivocado de entrega, porque não criamos uma nova capacidade.”
E mesmo com a aquisição da Nokia a coisa não andou. A companhia não conseguiu alcançar a excelência em seu desenvolvimento casado entre software e hardware e também não obteve sucesso no licenciamento para outras fabricantes. Assim, a Microsoft foi incapaz de repetir de forma bem sucedida tanto o modelo da Apple quanto o da Google.
Será que a divisão mobile da Microsoft ainda tem futuro? Será que a briga proposta pelos belos laptops e híbridos da linha Surface pode render bons frutos para a empresa? São perguntas que só o tempo pode responder.
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