Entre tapas e beijos: como a briga entre Zuckerberg e Trump virou amizade

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A mudança brusca na moderação das redes sociais da Meta (Facebook, Instagram e Threads) pegou a indústria da tecnologia de surpresa na última terça-feira (07). As ações anunciadas por Mark Zuckerberg não só marcam uma alteração no funcionamento dessas plataformas, mas confirmam uma mudança na relação do executivo com Donald Trump.

O empresário, que assume o segundo mandato como presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2025, passou de crítico e desafeto do bilionário a um novo aliado. Mas o discurso de liberdade de expressão e censura de governos estrangeiros é só mais um passo na reaproximação entre as duas figuras.

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Há vários anos, Trump e Zuckerberg vivem uma relação complicada e de idas e vindas, que incluem reuniões e indiretas nas redes sociais — culminando na atual reconciliação, que envolveu até uma generosa doação da Meta para o governo.

As primeiras farpas

Pouco envolvido com política diretamente, Zuckerberg chegou a ser especulado como possível candidato à presidência dos Estados Unidos. Em 2017, ele percorreu alguns estados norte-americanos para conhecer a realidade de eleitores, inclusive de militantes de Trump.

Esses planos possivelmente foram alterados no ano seguinte com o estouro do escândalo da Cambridge Analytica. A empresa de análise de dados usou informações privadas de usuários no Facebook para direcionar propaganda política a favor de Donald Trump. Multado e obrigado a fazer várias mudanças na privacidade das redes, Mark reconheceu o erro e prometeu "proteger ainda mais" a plataforma e "tornar a comunidade mais segura para todos".

Mark precisou prestar depoimentos sobre caso polêmico de uso de dados. (Imagem: GettyImages)
Mark precisou prestar depoimentos sobre caso polêmico de uso de dados. (Imagem: GettyImages)

Saltando no tempo, após os incidentes de 6 de janeiro de 2021 que culminaram na invasão ao Capitólio, Trump teve os perfis banidos de redes como Facebook e Instagram por tempo indeterminado. Ele foi acusado de incitar manifestações violentas usando as plataformas digitais.

"Os eventos chocantes nas últimas 24 horas demonstram claramente que o presidente Donald Trump pretende usar o tempo restante no cargo para minar a transição pacífica e legal do poder para o sucessor eleito", disse Zuckerberg na época.

Donald Trump durante debate na campanha. (Imagem: GettyImages)
Donald Trump durante debate na campanha. (Imagem: GettyImages)

Trump chegou a pedir o banimento de todas as redes sociais meses depois e criou a própria plataforma, a Truth Social, ainda no ar e voltada para ativistas e fãs do empresário. Ele ainda processou Twitter (agora X), Facebook (agora Meta) e Google por censura contra ele e outros conservadores, mas a ação judicial não foi adiante.

Porém, ele também disse que ele e Mark se encontraram várias vezes nesse período, sempre a pedido do CEO. "Zuckerberg ficava me ligando e vindo para a Casa Branca jantar, falando o quão incrível eu era", disse o político.

Liberdade de expressão e "tribunais secretos"

A campanha presidencial de 2024, porém, marcou uma mudança nas ações de Zuckerberg. A Meta reativou os perfis de Donald Trump sob o argumento de que ele voltou a ser um candidato e, portanto, pessoa publicamente relevante com o direito de se expressar nas redes.

Além disso, o executivo criticou o que ele chamou de interferências do governo Joe Biden — em especial pedidos de remoção de conteúdo contendo desinformação sobre a pandemia da covid-19 e alegações envolvendo o filho do então presidente, com a Meta inicialmente se recusando a retirar as postagens.

Mark Zuckerberg começou o Facebook em 2004. (Imagem: GettyImages)
Mark Zuckerberg começou o Facebook em 2004. (Imagem: GettyImages)

Curiosamente, ainda durante a campanha, Trump não parecia convencido da aliança: em um livro lançado em setembro, o político diz que Mark atuou contra ele nas eleições de 2020 e que ele "passaria o resto da vida na prisão" se tentasse fazer isso novamente em 2024.

Zuckerberg e a esposa, Priscilla Chan, fizeram uma contribuição naquele ano para um fundo eleitoral para fortalecer a infraestrutura da votação. Até hoje, Trump não reconhece a derrota para Biden e alega sem provas ter perdido por caus ade roubo de votos, adição de eleitores irregulares e falhas na contagem.

A Meta no pós-Trump

Ainda assim, a campanha e a posterior vitória de Trump consolidaram a reaproximação entre os dois. Uma das primeiras manifestações positivas do CEO veio após o atentado contra Trump durante um comício: "ver Donald Trump se levantar depois de ser atingindo no rosto e erguer o punho para o ar com a bandeira americana é uma das coisas mais duronas que eu já vi em toda a minha vida", disse Mark em entrevista para a Bloomberg.

Ao final de novembro, com a vitória já confirmada e tendo Elon Musk como um dos principais cabos eleitorais e investidores, Trump convidou Zuckerberg para jantares em Mar-a-Lago, residência pessoal do bilionário.

Trump e Musk durante comício (Imagem: GettyImages)
Trump e Musk durante comício (Imagem: GettyImages)

Semanas depois, começaram as mudanças: o então chefe de política global da Meta foi trocado por Joel Kaplan, republicano declarado e alinhado a Trump. A empresa ainda foi uma das várias Big Tech a fazer uma doação generosa de US$ 1 milhão (ou R$ 6,11 milhões) para o fundo de inauguração do presidente.

O mais recente passo, porém, foi o que pegou mais gente de surpresa: as mudanças na moderação das redes  da Meta e a promessa de trabalho ao lado do presidente.

Até a América Latina foi citada, acusada de ter "tribunais secretos" que ordenam a retirada de conteúdos, enquanto os EUA foram descritos como o país com "as proteções constitucionais mais fortes para liberdade de expressão no mundo".

É importante notar ainda que a amizade com Zuckerberg não foi exceção. Além dele e de Musk, outros CEOs de empresas de tecnologia parabenizaram a vitória, fizeram doações ou demonstraram interesse em se aliar a Trump — incluindo Jeff Bezos, cofundador da Amazon, e Sundar Pichai, gerente executivo da Google.

O que isso vai significar para as companhias nos próximos quatro anos, porém, ainda não está definido.

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