Por Ariel Borges.
Na última quinta (12), a TV Globo convidou a imprensa para conhecer o novo estúdio de produção virtual da emissora: com área de 1500 m², ele usa 300 m² de telas de LED com resolução HDR 16K, que garantem alta resolução de imagem e cor. Eles são controlados por oito servidores GPU e integrados com câmeras com tracking de alta precisão e recursos de Inteligência Artificial e Realidade Aumentada.
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Amauri Soares, diretor executivo dos estúdios Globo, destacou as possibilidades que o estúdio pode abrir. Segundo ele, o estúdio "junta o melhor da tecnologia com a nossa capacidade de reconstituir ambientes físicos, unindo talento humano e tecnologia para quebrar barreiras".
"Isso nos enche de ideias e vem em um momento em que a Globo está prestes a completar 100 anos como empresa, ressaltando a nossa vocação e tradição para contar boas histórias”, acrescentou.
Aumento de possibilidades e histórias a serem contadas
No momento, o estúdio está sendo usado para a gravação do documentário O Século de Globo, que narra a história do Jornal O Globo e será lançado em 2025, ano do centenário da publicação. Para isso, eles recriaram, com tecnologia, as redações do periódico nas décadas de 1930, 1960/70 e 1980. No dia do evento, a que estava exposta era a primeira, de 1925.
"Essa ferramenta é extremamente versátil. Nosso desafio foi recriar lugares que não existem mais, como a redação do O Globo em seus primeiros anos, usando apenas fotos de arquivo como referência. Conseguir reproduzir esses ambientes com tanto realismo, a ponto de emocionar os entrevistados ao entrarem no set, nos enche de orgulho. É especialmente gratificante saber que tudo, desde o piso até a tecnologia, é desenvolvido 100% nos Estúdios Globo", destacou Gian Carlo Bellotti, diretor artístico do documentário.
Na prática, a recriação dos ambientes é tão fidedigna que apenas olhando de perto é possível perceber que não se trata de um cenário físico. A autenticidade é responsabilidade dos recursos de IA empregados no estúdio.
Os diretores da Globo explicaram como funciona o novo estúdio virtual. (Imagem: TV Globo/Divulgação)
A realidade aumentada, por sua vez, torna possível a inserção de camadas interativas nas cenas, conectando elementos virtuais ao mundo físico e levando o público a uma experiência autêntica e imersiva. Para as produções, a criação de uma biblioteca de ativos 3D permite a reutilização de cenários que aparecem de maneira recorrente em séries, filmes e novelas, como restaurantes, aeroportos e hospitais.
Além disso, a tecnologia também deixa as produções mais sustentáveis, já que diminui tanto o uso de recursos e materiais utilizados na construção de cenários tradicionais, quanto o deslocamento de equipes em gravações externas, reduzindo a emissão de carbono e o consumo de combustíveis em toda a cadeia de produção.
"Tudo isso funcionando junto, com altíssima resolução de imagem e cor, além de elementos digitais sincronizados exibidos pela tela podendo ser em 3D, 2D e Realidade Aumentada, gera o hiper-realismo na produção de conteúdo. A gente dá continuidade a uma jornada, que começou há um ano e meio, levando para quem está em casa o que há de mais moderno entre os melhores estúdios de produção virtual do mundo", destaca Fernando Alonso, Diretor de Pós-Produção e Design da Globo.
Tecnologia usada em Mandalorian já apareceu em novela
O resultado final de um dos primeiros testes do estúdio de produção virtual pode ser visto na novela Volta por Cima, na cena de um acidente de ônibus.
“Uma cena como essa, que se passa em um ônibus pendurado no viaduto, seria inviável de ser produzida pelos métodos tradicionais tendo em vista tudo que demanda em termos de mobilização, além dos riscos. A partir do momento que a gente traz essa sequência para o estúdio de Produção Virtual, temos o controle de todas as variáveis. Dessa forma, eu pude me concentrar totalmente na dramaturgia”, relembra André Câmara, diretor artístico da novela das sete.
Para o espectador, porém, o resultado é fluido e parece que foi gravado tradicionalmente: o aumento de praticidade não impacta na entrega final.
Estúdio será cenário de filme passado na Antártida
Prova das vantagens do uso de tecnologia nas produções para TV é um dos próximos projetos que será desenvolvido integralmente no estúdio em 2025 — ano em que a agenda dele já está lotada —, o longa-metragem Antártida.
Ele se passa na base brasileira do continente quando um novo time chega e um crime acontece na festa de recepção. A nova comandante, portanto, vai ter que lidar com o processo de adaptação, a investigação e os próprios traumas em um local em que as temperaturas chegam a -30°C, com ventos de 200km/h e apenas uma hora de sol por dia.
Sem o estúdio de produção virtual, as gravações neste ambiente de condições inóspitas seria impossível. “É revolucionária essa integração fluida entre virtual e real. Diferente das cenas em chroma key, onde o elenco muitas vezes atua diante de um fundo verde, na produção virtual, eles estão imersos na atmosfera da obra, tornando a experiência muito mais envolvente. Isso se aplica tanto à parte artística quanto à técnica, garantindo uma autenticidade maior", afirma Bruno Safadi, diretor artístico de Antártida.
O novo estúdio da Globo mistura várias tecnologias, incluindo IA. (Imagem: TV Globo/Divulgação)
Outra mudança de destaque com o uso da tecnologia aparece com a diminuição do trabalho de pós-produção: agora o que seria “resolvido” depois, é pensado e determinado antes: “Tradicionalmente, as áreas de tecnologia entram no projeto na fase de captação e pós-produção. Com a Produção Virtual, trazemos todo o trabalho que antes era feito na pós para a etapa de conceituação do conteúdo, atuando junto desde o nascimento do conteúdo”, completa Marcelo Bossoni, Diretor de Tecnologia para conteúdos da Globo.
Com tantas vantagens, é de se imaginar que o uso do novo estúdio da emissora tende a aumentar os custos totais de uma produção. Na prática, porém, acontece o contrário, já que os preços (e a burocracia) para garantir locações externas são bem maiores. Nos cenários do jornal O Globo, por exemplo, a economia foi de quase 50% em relação a um cenário convencional.
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