Startup promete vender luz solar até durante a noite; entenda

Por Nilton Cesar Monastier Kleina

29/08/2024 - 11:453 min de leitura

Startup promete vender luz solar até durante a noite; entenda

Fonte : Reflect Orbital

Um vídeo que circulou nos últimos dias em redes sociais gerou curiosidade e espanto por mostrar uma suposta tecnologia em fase de testes. Tudo começa com uma pessoa configurando um aplicativo no celular e escolhendo um ponto no mapa.

De repente, o local a céu aberto que está totalmente no escuro é iluminado por um feixe de luz que vem do céu. E, ao direcionar a câmera para o alto, vemos que a fonte parece mesmo ser o espaço. Será que em breve será possível encomendar energia solar até de noite?

O clipe circulou por plataformas como Instagram, Facebook, TikTok e X (o antigo Twitter), com muita gente duvidando que o conteúdo fosse verdade. Elas estavam parcialmente certas: embora o vídeo seja mesmo encenado, ele é a demonstração conceitual de uma startup que promete revolucionar a energia solar.

O que é a Reflect Orbital

O vídeo foi postado por Ben Nowack, fundador e CEO de uma startup chamada Reflect Orbital. Basicamente, a companhia quer aproveitar a luz solar — que é altamente eficiente, funciona sem parar e tem uma fonte que demorará até se esgotar — mesmo se o local estiver no escuro.

O serviço funcionaria com base em satélites que agem como refletores. Os espelhos de 10 metros quadrados serão de uma película de poliéster conhecida como Mylar, a mesma de cobertores espaciais para isolamento térmico.

Uma ilustração que mostra como serão os satélites em funcionamento.
Uma ilustração que mostra como serão os satélites em funcionamento.

A ideia da companhia é colocar 57 satélites no espaço, todos com uma formação sincronizada na órbita polar — que é sincronizada com a posição do Sol e, como o nome sugere, circula o planeta com base nos polos. Esses espelhos seriam construídos para "concentrar" a luz em um feixe que pode ser direcionado a um ponto do planeta.

Satélites nessa órbita têm uma rotação de aproximadamente uma hora e meia e contam com iluminação solar constante, graças ao conjunto de inclinação e altitude da sua configuração. Dessa forma, eles estão voltados para a Terra sempre onde há o mesmo tipo de iluminação e sobrevoa cada ponto da Terra duas vezes ao dia.

A constelação de satélites na órbita sincronizada com o Sol.
A constelação de satélites na órbita sincronizada com o Sol.

Uma constelação em órbita polar, segundo a startup, pode garantir até 30 minutos a mais de energia solar para painéis solares fotovoltaicos, por exemplo. Nowack diz que já conversou com algumas usinas de paineis solares para tentar "alugar" o serviço para que elas tenham mais luz disponível ao longo do dia no futuro.

Luz solar durante a noite é mesmo possível?

Criada na Califórnia e já na mídia há alguns anos pela ideia ousada, a empresa garante que já é possível reservar uma vaga na plataforma e promete entregar o serviço a partir do último trimestre de 2025.

A Reflect Orbital por enquanto fez apenas um teste em 2023 usando um espelho posicionado em um balão de ar quente. Ela considerou o experimento bem sucedido — gerando 500 watts de energia por metro quadrado, segundo a marca — e quer fazer o primeiro experimento no espaço no ano que vem.

O sonho da companhia é o mesmo do vídeo viralizado: oferecer um feixe de luz para usinas de energia solar ou empresas por meio de um aplicativo, que usaria apenas um GPS para fazer o direcionamento do feixe.

Como prova de que isso é possível, a startup cita um experimento russo realizado em 1992. O satélite Znamya 2 ficou só algumas horas em órbita, mas conseguiu com sucesso direcionar um raio de luz para o planeta.

Iluminar regiões inteiras que deveriam estar no escuro pode ter efeitos negativos.
Iluminar regiões inteiras que deveriam estar no escuro pode ter efeitos negativos.

Porém, ainda são muitos os questionamentos sobre a viabilidade dessa tecnologia. Os refletores de feixes de luz poderiam contribuir para a poluição luminosa, que dificulta a observação espacial, e a poluição espacial, com a órbita terrestre já "congestionada" de satélites. Além disso, até o uso do serviço pode trazer problemas como gerar perturbações no ciclo de dia e noite em uma região, algo essencial para a manutenção de um ecossistema. 

Até o momento, porém, a empresa ainda está longe de tornar realidade o vídeo que bombou nas redes.


Por Nilton Cesar Monastier Kleina

Especialista em Analista

Jornalista especializado em tecnologia, doutor em Comunicação (UFPR), pesquisador, roteirista e apresentador.


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