Recentemente, um e-mail interno vazado da Microsoft expôs a dissolução da equipe de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) da companhia. Todo o departamento deixou de existir sob o pretexto de “não ser mais uma área crítica” e de que houve uma mudança nas necessidades do negócio. Na mesma semana, Google, Amazon e outras grandes empresas anunciaram medidas parecidas.
Naturalmente, essa notícia se espalhou como fogo e levantou o debate por todo o mercado: o quanto esse departamento é realmente importante?
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Em primeiro lugar, devo ressaltar que nem toda empresa consegue manter um time dedicado para tratar de assuntos de diversidade; na verdade, poucas podem. É algo que exige uma boa estrutura e investimento.
Em compensação, negócios menores podem ter mais facilidade em integrar diretrizes e regras dentro de seu contexto do que as big techs, que possuem milhares e milhares de pessoas colaboradoras. Portanto, olhando para uma conjuntura como a da Microsoft, a decisão é de fato surpreendente.
Empresas com melhores índices de diversidade faturam 19% a mais
As promessas de que haveria mais atenção para a área de DEI surgiram alguns anos atrás, com um grande fortalecimento em 2020, época em que a morte de George Floyd nos Estados Unidos causou uma grande comoção por todo o mundo. Para quem não sabe, Floyd foi um homem negro assassinado por um policial em Minnesota, e a situação foi gravada e compartilhada na internet.
Assim, inúmeras personalidades e empresas se prontificaram a estabelecer valores antirracistas e outros que são contra a discriminação em geral, e vários programas de inclusão e equidade receberam investimento e começaram a crescer daí para frente.
Será que as coisas mudaram tanto assim em quatro anos que ações afirmativas não são mais necessárias? Ou será preciso outra tragédia para retomar o assunto?
Mais diversidade, maior a receita
Essa questão não é apenas social. Estrategicamente, desistir de iniciativas voltadas para a diversidade também não faz muito sentido. Um estudo da BCG evidencia isso ao mostrar que empresas com melhores índices de diversidade faturam 19% a mais em áreas de inovação do que aquelas que não pontuam bem nesse quesito.
Para quem acompanha a área e vê estudos do tipo surgindo todo ano, essa não é uma novidade. Afinal, a inovação acontece com muito mais facilidade a partir de diferentes pontos de vista e vivências.
Priorizar a contratação de uma equipe diversa e acolhedora sempre acaba ajudando nisso, pois transforma o ambiente em um antro de ideias e dá espaço para que todo mundo saiba que sua voz é igualmente importante.
É possível inovar sem diversidade? Sim, mas alguns pensamentos simplesmente nunca chegam à luz do dia porque não há ninguém ali para pensá-los. Dentro do cenário de competitividade extrema que vivemos, é de se esperar que as grandes companhias não queiram ficar para trás. Novamente, então, o corte não faz muito sentido.
Esperar que as pessoas sejam provocadoras, que “pensem fora da caixa” e deem resultados incríveis não é algo que combina com um ambiente homogêneo. E quando você afasta profissionais que estão ali justamente para garantir que a empresa seja diversa, você passa a mensagem de que isso não importa, quando, como podemos ver, importa bastante.
Tanto no âmbito de responsabilidade social que todos os negócios possuem quanto na produtividade e no retorno financeiro.
Além disso, informar ao mundo que sua empresa possui valores explícitos e não mostrar ação em relação a eles é um jeito certeiro de amargurar a opinião pública.
"As pessoas estão cansadas do chamado 'washing', como o “green wash”, em que muito se fala sobre sustentabilidade e pouco se faz a respeito. O mesmo vale para diversidade e inclusão. Se a ideia é realmente que seja feita a diferença, é preciso sustentar o esforço para que isso aconteça.”
*Andréa Migliori, CEO da Workhub, uma HRTech de soluções para portais corporativos, pioneira no segmento a incorporar inteligência artificial aos seus serviços.