Os Jogos Olímpicos são o maior evento esportivo do mundo, atraindo a atenção de todos e servindo de vitrine para uma série de condutas, lições, e a edição de Paris, em especial, traz uma lição importantíssima que deve ser levada para o mercado de trabalho quanto antes: a de equidade de gênero.
Pela primeira vez desde a criação das Olimpíadas modernas temos o mesmo número de atletas homens e mulheres. Inclusive, apenas na segunda edição, em 1900, também em Paris, as mulheres começaram a compor as delegações, mas com participação mínima de 22 mulheres entre os quase mil atletas.
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Isso porque, o papel da mulher foi, por séculos, reduzido a tarefas menos intensas por conta do próprio caráter patriarcal das sociedades modernas. Contudo, ao longo do século XX, o mundo do pós-Primeira Guerra começou a se reerguer principalmente por conta da força feminina, até então subestimada, que foi ganhando espaço, visibilidade, conquistando direitos e provando serem igualmente capazes.
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Visibilidade essa, que vem após muitos anos de lutas de atletas como a Marta Silva. Em dezembro de 2020, tive o grande privilégio de entrevistar a Marta Silva, eleita seis vezes como a melhor jogadora do mundo pela Federação Internacional de Futebol (Fifa).
Durante a entrevista pude conversar com ela sobre seu papel fundamental no esporte, o exemplo que ela é para muitas mulheres e como ela incentiva meninas de todo o mundo a jogarem futebol, e puder ver nos seus olhos a verdadeira paixão pelo esporte.
A seleção brasileira de futebol feminino, vem derrubando as barreiras do preconceito e equidade de gênero dentro e fora dos campos.Fonte: Getty Images
Marta hoje é um símbolo de perseverança e superação, sendo a segunda a atleta com mais participações em Jogos Olímpicos, entre todos os futebolistas que já disputaram os Jogos Olímpicos, mulheres ou homens. Suas seis aparições a deixam abaixo apenas da ex-companheira Formiga, que esteve em sete edições olímpicas, de Atlanta 1996 a Tóquio 2021.
Esporte transformando a sociedade
Por mais que essas evoluções permeiem a sociedade, afetando vários contextos, é motivador ver como no meio esportivo esse movimento de reconhecimento é muito mais acelerado.
Após a final masculina de tênis nas Olimpíadas do Rio, ao ser referido como único tenista a conquistar dois ouros olímpicos, o tenista Andy Murray logo rebateu com “único tenista homem”, lembrando que irmãs Venus e Serena Williams já tinham quatro medalhas cada. Tanto por isso, não é de se estranhar que de 10,5 mil atletas da edição de 2024 dos Jogos Olímpicos, 5,25 mil sejam mulheres.
A presença feminina no esporte cresce acompanhando as lutas e quebras de preconceitos e papéis de gênero no mundo todo, e isso é especialmente significativo para o Brasil.
Pela primeira vez na história, nosso país está levando uma delegação majoritariamente feminina, com 153 atletas mulheres, em grande parte graças a exemplos como o da jogadora de futebol Marta. Eleita por seis vezes a melhor jogadora do mundo pela FIFA, é de longe um dos maiores exemplos dessa força e determinação.
Aos 37 anos, idade relativamente avançada para atletas de alto rendimento, ela está escalada para sua sexta olimpíada, e demonstra a mesma garra, amor e empenho de sempre. Naturalmente, todas essas histórias só são tão inspiradoras quando são contadas, e nesse aspecto as Olimpíadas de Paris têm um enorme potencial para fazer escola.
Exemplo de inclusão e equidade de gênero
Em parceria com a Intel, uma das patrocinadoras dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, o Comitê Organizador irá utilizar Inteligência Artificial para ampliar a cobertura do evento, e ainda o tornar mais sustentável. Utilizando gêmeos digitais das instalações utilizando tecnologias Intel, é possível realizar visitas virtuais e preparações pré-eventos com muita antecedência.
Com isso, é possível dimensionar o tamanho ideal das equipes de apoio, evitando deslocamentos desnecessários e reduzindo a pegada de carbono. Também por meio de IA, a organização dos jogos está preparando soluções e aplicativos para melhorar a experiência de deficientes visuais acompanhando as competições, levando toda a inspiração do esporte para ainda mais pessoas.
Sendo assim, antes mesmo do início das competições, os Jogos Olímpicos de Paris já podem ser considerados como um marco histórico. Além de ser a primeira edição em que as mulheres estão devidamente representadas, quebrando paradigmas de papéis de gênero, é também a com maior potencial de alcance, deixando claro que promover a diversidade e inclusão é uma questão apenas de vontade e investimento, e o resto é só desculpa.