Levantamento exclusivo realizado pelo TecMundo mostra que os preços dos planos básicos dos principais serviços de streaming do país subiram mais de 100% desde 2011.
O maior aumento nos planos mais simples foi feito pela Globoplay, uma das plataformas que está há mais tempo funcionando no país. O serviço estreou em 2015 custando R$ 12,90 por mês e atualmente custa R$ 27,90/mês, aumento de 116%.
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Do outro lado, quem menos aumentou o valor cobrado pela assinatura foi o Disney+. Contudo, neste caso cabem algumas contextualizações. O streaming chegou ao Brasil bem depois do que outros concorrentes e, por causa disso, houve menos tempo para subir o valor.
Os serviços de streaming se tornaram bastante popular no Brasil ao longo da última década. (Imagem: simpson33/Getty Images)
O serviço de streaming da dona do Mickey aumentou 21%, entre os R$ 27,90/mês, de 2020, quando houve o lançamento, até os atuais R$ 33,90/mês.
Confira, a seguir, o gráfico completo do histórico de preço dos planos mais simples das principais plataformas de streaming que existem no Brasil desde 2011 – ano em que a Netflix chegou ao país.
Em 26 de março de 2024, o Star+ é o streaming com a assinatura mais cara, enquanto a Netflix tem o plano mais barato. (Gráfico: Camila Husch)
Caso a caso: cada streaming tem suas razões para aumento do preço
O mercado de streaming foi ganhando cada vez mais players e se tornou um modelo de negócio quase que obrigatório para empresas que produzem conteúdo audiovisual. E como em qualquer outro setor da economia, a análise do histórico de preços é bastante complexa.
São diversos os fatores que contribuem para a formação de preços, indo desde os custos de manutenção com servidores até questões macroeconômicas de um país. Além disso, vários streamings contam com parcerias e promoções que entregam aos consumidores a possibilidade de assinar os serviços a um valor mais baixo do que o "oficial".
Além dos televisores, muita gente assiste filmes e séries no celular. (Imagem: Worawee Meepian/Getty Images)
Por causa disso, o TecMundo preparou uma breve contextualização para contar um pouco mais sobre os aumentos de cada plataforma e como é possível levar em consideração outros fatores como o lançamento de planos mais baratos que exibem propagandas entre filmes e séries. Acompanhe:
Netflix
A Netflix chegou ao Brasil em 2011 custando R$ 15/mês. Trezes anos depois, o plano mais básico da empresa custa R$ 18,90/mês, um aumento de apenas 26%. Vale alguns disclaimers, porém.
A conta fica diferente para a Netflix se levarmos em consideração que em 2011 o plano oferecido pela empresa não tinha anúncios. Mesmo o co-criador da companhia, Reed Hastings, dizendo que o site não exibiria anúncios, foi exatamente isso que a marca fez a partir de 2023 no Brasil.
No finalzinho de 2022, a Netflix transformou o então plano “básico” no atual plano “padrão com anúncios”, que custa R$ 18,90/mês.
Apesar dos altos e baixos, a Netflix ainda é o serviço de streaming de filmes e séries mais utilizado do mundo. (Imagem: Wachiwit/Getty Images)
Portanto, se formos comparar o primeiro plano de R$ 15/mês, que não tinha anúncios, com o plano atual mais barato sem anúncios, o aumento foi de 166%. Se o usuário não quiser ser interrompido pelas propagandas, ele precisa pagar pelo menos R$ 39,90/mês hoje em dia.
A “locadora vermelha” ainda gerou bastante controvérsia por outro motivo. Também no ano passado, a marca começou a cobrar uma taxa de R$ 12,90 a cada perfil extra que usa a conta de uma pessoa que mora em outra residência.
Max
O levantamento do TecMundo levou em consideração o caso da Warner pegando a estreia da então HBO Max, em 2021. Mas antes dela, o Brasil já tinha acesso ao HBO Go, serviço que não deixou saudades.
Lançado para assinatura sem a necessidade de TV a cabo somente em alguns estados a partir de 2016, o HBO Go custava R$ 34,90/mês. No ano seguinte, em 2017, o serviço da Warner não exigia mais TV a cabo no país inteiro e poderia ser assinado pela Google Play Store ou App Store.
Os problemas de conexão e instabilidade estão dentre as principais coisas que vêm à cabeça do público quando se fala de HBO Go. Disponibilizado em um período em que Game of Thrones chegava em suas temporadas derradeiras, o serviço era muito criticado porque prometeu o lançamento simultâneo dos episódios com a exibição nos canais HBO. O que muita gente recebeu, porém, foram quedas no site e indisponibilidade dos episódios inéditos.
Aumentando a saga de suas mudanças, o HBO Go passou a se chamar HBO Max, em 2021. Neste ano, a plataforma mudou novamente e agora se chama somente Max. E como não poderia deixar de ser, ele também estreou com polêmicas.
Além de aumentos nos valores das assinaturas e um novo plano básico que exibia anúncios, a mudança dos clientes antigos para o novo serviço causou bastante reclamação e chegou a virar caso do Procon.
Prime Video
Muita gente não se lembra, mas o Prime Video foi lançado no Brasil em dezembro de 2016. Na época, o preço da assinatura mensal era de US$ 2,99/mês, o que naquela época significava aproximadamente R$ 10/mês. Depois de seis meses, o valor subia para US$$ 5,99/mês (R$ 20).
Somente no ano seguinte, em 2017, que a gigante Amazon localizou os preços e a assinatura do streaming começou a custar R$ 7,90/mês, nos primeiros seis meses, e depois R$ 14,90.
Em setembro de 2019, o Prime Video se diferenciou de todos os concorrentes e foi integrado ao catálogo de benefícios do Amazon Prime, que chegou ao Brasil custando R$ 9,90/mês. A partir daquele ano, já não era mais possível assinar o serviço de streaming sozinho.
O Prime Video também tem o diferencial de assinar outros conteúdos pagos dentro da própria plataforma. (Imagem: Divulgação/Amazon)
O Amazon Prime, que recentemente registrou seu segundo aumento no Brasil, oferece frete grátis em vários produtos da Amazon, ebooks grátis para o Kindle, jogos na Twitch e mais, além das séries, filmes e eventos ao vivo no Prime Video.
Por estar junto de outros benefícios, o Prime Video acaba tendo um valor agregado muito diferente dos outros serviços que entregam apenas as plataformas de streaming.
Disney+ e Star+
A Disney impactou o mercado brasileiro de streaming, em novembro de 2020, ao lançar o serviço Disney+. O grande diferencial da plataforma era a disponibilidade de produções de grandes universos como os heróis da Marvel, Star Wars e animações da Pixar, além de programas da National Geographic.
No lançamento, o Disney+ custava R$ 27,90/mês, valor que no ano passado subiu para os atuais R$ 33,90/mês.
Antes disso, lá em 2021, a gigante do entretenimento colocou à disposição dos brasileiros o Star+ (que passou por um briga judicial para usar o nome), cujo primeiro valor foi R$ 32,90/mês. Com uma pegada mais “adulta”, o canal exibe a programação esportiva da ESPN e tem séries como Simpsons, The Bear, American Horror Story e The Walking Dead. Atualmente, o Star+ custa R$ 40,90/mês.
Enquanto o Disney+ tem conteúdo mais familiar, o Star+ conta com produções antiga FOX. (Imagem: Reprodução)
Como outros serviços, os preços oficiais de assinatura do Disney+ e Star+ podem não ser tão importantes assim. Já há algum tempo, as duas plataformas podem ser assinadas com um bom desconto no serviço Meli+ (antigo Nivel 6 do Mercado Pontos), do Mercado Livre.
Quem quiser assinar os dois serviços de streaming por um valor mais baixo pode pagar “apenas” R$ 17,99/mês pelo Meli+, já que a assinatura garante os streamings sem nenhum custo adicional.
Outra questão importante é que a partir de 30 de junho de 2024, o Disney+ absorverá o conteúdo do Star+. Ainda não se sabe se a fusão fará com o Disney+ aumente o valor da assinatura.
Globoplay
A Globo, maior empresa de telecomunicações do país, lançou seu serviço de streaming em 26 de outubro de 2015: o Globoplay. Exibindo pela internet parte da programação da emissora, incluindo programas jornalísticos, esportes e entretenimento, um dos principais diferenciais da plataforma foi disponibilizar o acervo de novelas, séries e minisséries da empresa.
Na época, o único competidor “grande” do serviço era a Netflix, que custava R$ 19,90/mês. Para competir, o Globoplay chegou a um preço agressivo de R$ 12,90/mês.
Com quase uma década de vida, que será completada em 2025, o preço do serviço nacional já subiu cerca de 116%.
O Globoplay é o principal serviço de streaming genuinamente brasileiro. (Imagem: Divulgação/Globoplay)
Contudo, assim como quase todos os outros streamings, a plataforma é oferecida a valores promocionais e em pacotes. Recentemente, a Claro anunciou que seus planos de TV Box e TV a cabo dariam acesso ao Globoplay (e Netflix) sem nenhum custo adicional, por exemplo.
Os streamings aumentaram acima da inflação?
As altas nos valores dos streamings chamam bastante a atenção, mas por incrível que pareça, nem todas foram tão exageradas assim. A título de comparação, a inflação (IPCA) acumulada de janeiro de 2011 a janeiro de 2024 ficou em 112,8%, de acordo com a calculadora do IBGE.
Se formos comparar a Netflix e seus planos mais baratos em 2011 e em 2024, o aumento foi de apenas 26%, muito abaixo do IPCA no período.
Outros serviços que subiram os valores abaixo da inflação foram Disney+ e Star+. As altas – lembrando, estamos levando em consideração os planos mais básicos – foram de 21% (entre 2020 e 2024) e 24% (entre 2021 e 2024), respectivamente. A inflação nestes períodos ficou em 27% e 22,3%, respectivamente.
Os serviços de streaming também são consumidos a partir de tablets. (Imagem: Tero Vesalainen/Getty Images)
Já em casos como da Max, que registrou aumento de 50% entre o plano mais barato disponível em 2021 (R$ 19,90) e o mais barato atualmente (R$ 29,90), o reajuste já ficou acima da inflação. Segundo a calculadora do IBGE, entre 2021 e 2024 a inflação acumulada foi de 22,3%.
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, afirma ao TecMundo que fatores como o aumento da competição no setor foi um dos responsáveis por fazer os preços não explodirem tanto em relação às taxas inflacionárias.
Ele lembra que as empresas realizam reajustes para equalizar custos com nuvem e conteúdo, por exemplo.
Os serviços de streaming também causaram uma mudança na indústria do cinema, já que alguns filmes estão indo direto para as plataformas digitais. (Imagem: grinvalds/Getty Images)
“Temos que lembrar que grande parte dessa infraestrutura é dolarizada. [Nestes últimos anos] tivemos o fator pandemia, que explodiu os custos de absolutamente tudo. Verificamos também um aumento de demanda muito importante. Então esses são fatores que precisam ser levados em conta”, ressalta.
Outro aspecto nesta complexa conta para explicar os preços dos streamings é o advento dos planos suportados por publicidade. Igreja explica que as propagandas meio que subsidiam os preços mais baixos destes planos, que funcionam como uma espécie de “freemium”.
“A estratégia é atrair [novos clientes]. Há a atração e a pessoa, se ela quer fazer um upgrade na experiência, ela acaba se tornando um assinante premium. Então, esse é o racional, se acaba tendo mais barganha de negociação, mais ferramentas para poder atrair e negociar”, argumenta.
O que dizem os streamings sobre o aumento do valor da assinatura?
O TecMundo entrou em contato com todas as empresas de streaming mencionadas na matéria. Até o fechamento do texto, somente Globoplay e Prime Video retornaram com respostas. Já a Warner informou que não comentaria sobre o assunto. Confira, abaixo, os posicionamentos das marcas.
Globoplay
Questionado sobre quais fatores foram levados em consideração na hora de reajustar o preço das assinaturas, o Globoplay informou ter levado em consideração fatores econômicos e os investimentos feitos em tecnologia e conteúdo.
“Ao longo desses quase 10 anos, a plataforma vem constantemente se transformando. Se no início o foco era disponibilizar o acervo da TV Globo e ampliar o alcance da programação linear do canal, hoje o Globoplay é um grande hub de conteúdo digital da Globo, lançando seus próprios originais e reunindo toda a oferta dos canais pagos da Globo”, diz trecho da nota.
O Globoplay defendeu também ter a “melhor oferta de conteúdo nacional, com novelas, séries, filmes e documentários” e lembrou que disponibiliza no portfólio títulos “licenciados de grande sucesso, além do acesso gratuito ao sinal ao vivo da TV Globo e de trechos e conteúdos VOD selecionados”, além de novelas e produções internacionais da Turquia, México, Portugal e outros países.
A empresa não negou e nem confirmou sobre possíveis novos aumentos de preço para a plataforma em 2024. “Nossa intenção é manter nossos planos a preços competitivos. Fomos uma das primeiras plataformas a lançar planos anuais com preços promocionais ainda em 2019. Recentemente reduzimos o valor do nosso plano anual de R$19,90/mês para R$ 17,90/mês”, finalizou.
Prime Video
Em contato conosco, a assessoria do Prime Video enviou o comunicando que explica o aumento de preço do Amazon Prime, que foi anunciado em 8 de fevereiro deste ano e passou a valor em 8 de março.
Segundo a empresa, o objetivo do reajuste foi tornar o programa “ainda mais valioso para nossos membros e continuar investindo”. Por causa desta alta recente, o serviço não será reajustado novamente em 2024.
Além disso, a marca falou sobre os anúncios no Prime Video. Apesar de já terem chegado em outros países, o streaming da Amazon ainda não exibe as propagandas no meio das séries e filmes aqui no Brasil.
De acordo com a empresa, essa alteração ocorrerá por aqui, mas ainda não há data. O único detalhe confirmado é que os brasileiros não verão publicidade no Prime Video em 2024.
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