Como a construção de uma usina no Ceará pode desligar a sua internet

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Imagem: Jamaludin Yusup/Getty Images

A construção de uma usina de dessalinização de água marinha na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE), pode "desligar" a internet brasileira. O projeto, que custa R$ 526 milhões, está em fase de licenciamento e a previsão é que as obras comecem no começo do ano que vem.

O tema virou um grande debate entre entidades que representam empresas de telecomunicações, governos, agências regulatórias e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cegese).

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Do lado das operadoras estão a TelComp e a Conexis Brasil, que defendem que a construção pode romper os cabos submarinos que estão na praia cearense. Considerado o segundo maior hub de internet do mundo, no local há um tráfego de praticamente toda a internet brasileira e ainda de países vizinhos.

 

“A obra pode gerar apagão de internet no país porque não está se colocando uma usina onde tem um cabo, mas onde tem um hub todo. Hoje, ninguém pensa em chegar com internet no Brasil por outro caminho que não seja o de Fortaleza”, afirmou Luiz Henrique Barbosa, presidente executivo da TelComp.

O representante ainda chegou a dizer que o projeto “causa um desconforto” e que pode até prejudicar o Ceará. De acordo com Barbosa, o “governo está colocando tudo a perder por um projeto mal concebido”.

Para que servirá a usina?

Com o objetivo de realizar um encontro entre os interessados na questão, na última segunda-feira (25), a Anatel promoveu o evento “Conexões Políticas: a Importância dos Cabos Submarinos”.

Na ocasião, Neuri Freitas, diretor-presidente da Cagece, explicou que a usina de dessalinização será essencial para lidar com problemas de escassez hídrica. Com as instalações, a população cearense não teria que realizar racionamentos, por exemplo.

A Companhia de Água e Esgoto do Ceará defendeu que o projeto irá “diversificar as fontes de abastecimento do Ceará, fazendo com que a distribuição de água não dependa apenas de chuvas”.

“Como sabemos, vivemos hoje uma situação anunciada de mudanças climáticas, com previsão de forte El Niño para os próximos anos, o que significa cenário de estiagem para nossa região que, inclusive, está inserida no semiárido”, alega a Cagece.

A companhia de água e esgoto alegou que a infraestrutura não oferecerá nenhum risco aos sistemas de comunicação do país e que o projeto chegou a ser alterado para aumentar a distância entre a infraestrutura dos equipamentos das usina e os cabos submersos.

“A nosso ver, isso está totalmente resolvido, não vamos trazer nenhum risco, buscamos a conciliação. A gente acha que não há esse risco já que no continente todos os cabos cruzam com alguma estrutura, como rede de gás, de energia e diversas outras estruturas. A própria Cagece precisa da rede de telecom, a gente precisa conviver para atender a população com água”, argumentou Freitas.

Usina CearáImagens do projeto da Cagece mostram parte das instalações. (Imagem: Reprodução/Cagece)

Dentre outras coisas, a Cagece reclama ainda que o projeto é de 2017, que passou por todos os trâmites legais e pela anuência de órgãos competentes.

De acordo com a empresa, as operadoras não apresentaram até agora nenhuma justificativa técnica que poderia inviabilizar a usina e, por isso, estão “causando grande transtorno” ao questionar a construção.

Governo federal acompanha

A Anatel, que é um dos órgãos que está tentando intermediar as negociações, têm proposto “caminhos alternativos” para o caso. Na reunião do começo da semana, o conselheiro Vicente Aquino chegou a dizer que é preciso encontrar soluções para levar “água para os que dela precisam e internet para todos os brasileiros”.

Dando um pouco de razão para as operadoras, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, salientou que os cabos submarinos são responsáveis por 99% do tráfego de dados da internet brasileira.

“O Ceará, em especial a cidade de Fortaleza, é que garante a interconexão do Brasil com o resto do mundo. Aqui chegam 17 sistemas ópticos com uma capacidade agregada de centenas de terabits por segundo”, afirmou durante o encontro.

InternetO receio da Anatel e Ministério das Comunicações é que boa parte do país fique sem internet por causa da usina de dessalinização. (Imagem: glegorly/Getty Images)

Ele ainda defendeu a importância econômica do setor de telecomunicações para o país e que por isso ações que poderiam colocar em risco a segurança da infraestrutura do setor “contarão sempre com o apoio do ministério”.

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