Por André Menezes.
O Brasil tem um ecossistema robusto de startups. Hoje, o país é referência mundial. Dentro desse ecossistema, há diversos empreendedores negros e empreendedoras negras que também estão deixando suas marcas. Startups como AfroSaúde, Conta Black, Inhaí, Creators, Diaspora.Black, TrazFavela, IBO – Instituto Black Office, Tem Jogo, entre outras, vem se destacando no mercado pela sua excelência e qualidade dos serviços prestados, além, é claro, da representatividade, que é extremamente importante quando falamos em referência.
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Contudo, o relatório BlackOut: Mapa das Startups Negras 2021, realizado pela BlackRocks Startups, uma hub de inovação que busca promover acesso à população negra ao ecossistema de inovação, em parceria com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), mostrou que apenas 25% das startups brasileiras foram fundadas por pessoas negras ou pardas.
Os empreendedores negros necessitam de muita resiliência para continuar seu trabalho no universo do empreendedorismo.
Como sempre, a conta não fecha. Veja bem, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD Contínua 2022, 45,3% dos brasileiros se declaram como pardos e 10,6% como pretos. Ou seja, mais da metade da população. E por que os números de startups fundadas por pessoas pretas e pardas é bem menor? A resposta para essa pergunta tem vários caminhos possíveis, e todos eles seguem a trilha do racismo estrutural.
A real é que muitos empreendedores negros não têm um aporte inicial para tocar o seu negócio e dificuldades até mesmo para conseguir um empréstimo em bancos para poder tirar suas ideias do papel, e o mais difícil depois disso tudo: manter o negócio em funcionamento. Muitos desistem e acabam fechando as suas startups, isso quando não acabam saindo no prejuízo.
Além dessas dificuldades, outro fator inesperado ganhou protagonismo nos últimos anos e atingiu em cheio os empreendedores negros: a crise sanitária causada pela pandemia de Covid-19 a partir de março de 2020 no Brasil.
Uma pesquisa realizada no ano passado sobre o impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Fundação Getulio Vargas (FGV), apontou que houve uma queda de 62% de faturamento desse grupo ao se comprar com os dados do período de pré-pandemia, que foi de 56% (dado também faz referência à queda sofrida pelos negócios de empreendedores brancos).
Diante deste panorama, é possível perceber que pessoas pretas que querem empreender no mundo tech, muita das vezes, precisam vencer algumas barreiras estruturais que exigem um esforço absurdo para que elas não fiquem no caminho, seja pelo cansaço, pela falta de apoio e perspectiva.
Veja mais: O algoritmo é racista?
Um ecossistema inovador só será realmente disruptivo quando entendermos que não há avanço sem diversidade. Diversidade de ideias, de corpos, de gênero e de raça.
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*André Menezes é gerente de programas na Netflix. Com título de Master of Liberal Arts (ALM) in Extension Studies, field of Management (Mestre em Artes Liberais com foco em Administração) em Harvard uma das Universidades mais prestigiadas do mundo, desde pequeno sabia que seu esforço abriria portas para seu futuro. Criado no bairro dos Pimentas, zona periférica da cidade de Guarulhos, na grande São Paulo, seus passos ajudaram a tornar o profissional de sucesso que é hoje.
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