O iPhone 15 foi anunciado pela Apple nesta semana. Mas sabia que antes de se tornar um sucesso e revolucionar o mercado de smartphones, Steve Jobs e outros executivos da empresa eram contra o lançamento da família iPhone?
A revelação foi feita por Brian Merchant, jornalista de tecnologia, no livro The one device: the secret history of the iPhone (O único dispositivo: a história secreta do iPhone, em tradução literal), publicado em 2017.
Segundo o escritor, a rejeição vinha da ideia de que tanto o cofundador da empresa quanto alguns diretores achavam celulares “uma droga”. Além dessa ~simples~ opinião, ao que tudo indica rolavam algumas barreiras para inserção da Maçã no mercado mobile por conta de operadoras de telefonia.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Livro de jornalista especializado em tecnologia traz altas histórias por trás da criação do iPhone
Isso porque na metade da década passada, empresas como AT&T e Verizon “tinham um controle imenso sobre os aparelhos que os fabricantes de celulares podiam produzir. Eles entregavam manuais gigantes que diziam: 'você tem que ter isso, você tem que ter aquilo...”, aponta o autor.
Na época, Jobs também tinha lá suas dúvidas quanto ao crescimento do ramo mobile, apesar de marcas como Blackberry terem feito sucesso junto ao público empresarial. Afinal, já era possível responder e-mails em qualquer lugar.
Confira também: iPhone 15 custará até R$ 14 mil no Brasil: veja todos os preços
Time de engenheiros trabalhou no iPhone de modo secreto
Mas aí você deve estar se perguntando: então como a ideia do iPhone se concretizou? No caso, um time de engenheiros da Apple estava trabalhando de modo independente em um protótipo de tela sensível ao toque (ou touchscreen).
E esse embrião do que seria o aparelho na realidade era gigantesco: de acordo com Merchant tinha o “tamanho de uma mesa”. Nesse período reinava inclusive o medo de que o chefão descobrisse a tecnologia antes que de fato ela tivesse uma aplicação clara.
Os engenheiros "sabiam que havia uma maneira certa de abordar Jobs com essas coisas e havia uma maneira errada, e você tinha que, de forma muito estratégica, implementá-las e entregá-las à pessoa certa para entregá-las no dia certo, quando ele estava de bom humor", diz o autor.
E esse intermediário foi Jonathan Ive, então diretor de design na Apple, que inclusive era não só próximo profissionalmente de Jobs como também seu amigo pessoal. Quando Ive decidiu apresentar a tecnologia para chefe, a reação foi um triste “meh”.
Um dos protótipos das primeiras fases da primeira geração do iPhoneFonte: The Verge/ReproduçãoFonte: The Verge/Reprodução
Contudo, pouco tempo depois o cofundador da Apple decidiu voltar atrás e ver a tela de toque sensível novamente. Assim que o time de engenheiros fez uma nova demonstração da tecnologia, ele pediu que fossem feitos aprimoramentos.
iPod impulsionou criação do iPhone
Enquanto isso, questões regulatórias e relacionadas às operadoras de telefonia foram melhorando. Na mesma época o iPod era também uma importante fonte de receita. Porém, Steve Jobs se preocupava com fabricantes de smartphones: afinal eles poderiam integrar em breve recursos similares ao do player de música em seus celulares.
É aquilo: mesmo que o dispositivo não fosse de qualidade, ainda valeria à pena para os consumidores terem acesso às duas funcionalidades em um só lugar. Daí, o chefão da Apple pediu ao seu time que acelerasse o protótipo, de modo a convertê-lo em um aparelho menor e inédito naquele momento.
Então, em 2004, ele recrutou 1.000 profissionais, que incluíam engenheiros e designers de outros países, para encontrar maneiras não só de diminuir a tela touchscreen como também de fundi-la a um sistema operacional exemplar (o que viria a ser o iOS).
Ele queria “ver uma interface que pudesse ser intuitiva e interessante para usuários leigos”, aponta o livro. Também buscava um aparelho com design elegante.
Caos e até divórcio: time da Apple sofreu
Embora ninguém entendesse ao certo o que deveria ser feito, o rapaz da gola rolê queria o futuro aparelho a todo custo, nem que a galera tivesse de trabalhar “noite e dia” — o que de fato aconteceu. O processo como um todo levou dois anos e meio.
- Em off: relatos do livro inclusive dizem que tudo foi um inferno para os times envolvidos: teve gente que até se divorciou devido à enorme ausência em compromissos familiares.
Nesse processo o iPad acabou surgindo primeiro do que o iPhone, algo revelado pelo próprio Jobs em uma conferência do Wall Street Journal em 2010:
“pensei: 'meu Deus, podemos construir um telefone com isso’”, disse ele. “E coloquei o projeto do tablet na prateleira, porque o telefone era mais importante”, completou.
Projeto do iPad surgiu primeiro que o do iPhone, mas tablet só foi lançado em no início de 2010
No livro de Brian Merchant é dito que Jobs era bastante rigoroso e acompanhava cada milímetro do que sua equipe fazia em cima do projeto. Outras entrevistas indicam também que ele foi lançando os desafios de cada aspecto do futuro smartphone — design, sistema operacional, interface, aplicações etc.
Paralelamente, a Apple ainda trabalhou no protótipo com a AT&T (a empresa então se chamava Cingular Wireless) de modo extremamente sigiloso — a operadora deu um incentivo de US$ 150 milhões ao longo de 30 meses.
- Em off: e como surgiu o nome iPhone? O chefe da Maçã quis seguir a mesma lógica de outros produtos da marca que começava com “i” (ou “eu”, em inglês): iMac, iPod, iPhone, iPad... Aqui já deu para sacar que ele já tinha não só comprado a ideia como pretendia torná-la algo importante ($) para sua companhia.
Em janeiro de 2007, Steve Jobs fez a icônica apresentação do primeiro iPhone; em junho daquele ano o aparelho estava sendo comercializado nos EUA. Foram vendidas 6,1 milhões de unidades até o modelo ser descontinuado em julho de 2008.
Primeira geração do iPhone foi lançada em 2007, cerca de 2 anos e meio depois do primeiro protótipo do aparelho
No fim, o projeto deu mais do que certo: o iPhone se tornou não só o primeiro aparelho mobile com tela sensível ao toque como revolucionou a indústria de tecnologia. Resumindo: de lá para cá passamos a carregar não só um simples telefone móvel, mas um computador na palma da mão.
*Este é um conteúdo exclusivo do The BRIEF, newsletter diária sobre tecnologia, negócios e comportamento, para meu irmão TecMundo. Curtiu? Assina aí!
Categorias