Mito ou verdade: soviéticos faziam cópias piratas de discos com chapas de raio-x?

2 min de leitura
Imagem de: Mito ou verdade: soviéticos faziam cópias piratas de discos com chapas de raio-x?
Imagem: Reprodução/The X-Ray Audio Project

Se você prestou atenção nas aulas de História no colégio, já deve estar cansado de saber que a Guerra Fria foi marcada por um contexto de extrema polarização política, com uma parte do mundo apoiando os Estados Unidos e outra parte adepta dos ideais defendidos pela União Soviética.

Com a separação, vários países passaram a censurar materiais artísticos originários de nações "inimigas". Um deles foi a União Soviética, que após a Segunda Guerra Mundial, proibiu a entrada de filmes, séries e músicas estrangeiras – todos os produtos culturais deveriam passar pelo aval do estado antes de chegarem ao público.

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Foi daí que nasceu um mercado ilegal e pra lá de curioso de pirataria da indústria musical no século 20.

Verdade: soviéticos faziam discos com chapas de raio-x

Se engana quem acha que a pirataria é algo recente. Isso porque, para burlar a censura do governo soviético, os fãs de música usavam chapas de raio-X, obtidas extraoficialmente de hospitais, para gravar discos piratas de música ocidental proibida no país.

discos de ossosReprodução/The X-Ray Audio Project

Tudo começou quando o soldado soviético Stanislav Philo voltou para casa carregando uma máquina de duplicação de discos na mala. Inicialmente, ele usou a máquina para gravar músicas proibidas e vendê-las em qualquer material com gramatura mais grossa disponível no momento.

Um dos frequentadores do negócio ilegal de Philo era Ruslan Bogoslowski, um engenheiro de som que teve a ideia de usar chapas de raio-x descartadas por laboratórios e hospitais para produzir seus próprios discos – posteriormente chamados de "discos de ossos" ou “roentgenizdats” em russo.

Ainda que a qualidade do som não fosse igual ao do disco em vinil (adquiridos por meio de contrabando), o resultado foi bom o suficiente para que Bogoslowski começasse a comercializar cópias ilegais – o material obviamente se deteriorava muito rápido, mas poderia durar anos se armazenado corretamente e era ainda melhor que o material utilizado por Philo.

E foi assim que os jovens dos anos 1950 e 1960 conseguiram ter acesso a alguns dos maiores nomes da música, como Elvis, Beatles e Rolling Stones:

Após algum tempo no ramo da pirataria, porém, Bogoslowski foi preso em regime fechado na Sibéria durante cinco anos.

Deixando o passado vivo

Com o fim da Guerra Fria se aproximando, as cópias de músicas feitas em chapas de raio-x foram caindo em desuso. Atualmente, porém, os discos de ossos são considerados peças raras para colecionadores e podem ser encontrados em mercado de pulgas na Rússia e também na internet. No e-Bay, por exemplo, um disco dos Rollings Stones sai por US$ 47,20 (aproximadamente R$ 223).

O The X Ray Audio Project foi criado com a intenção de manter a história do "bone music" ("a música do osso", como o período ficou conhecido anos depois) viva. No projeto, o compositor Stephen Coates, o pesquisador e Alex Kolkowski e o fotógrafo Paul Heartfield, fizeram a catalogação, com imagens e áudios de discos de ossos originais.

O objetivo foi explorar "a história incrível da música proibida, da cultura da guerra fria e da tecnologia da pirataria", segundo a descrição do projeto. O trio também contou a história em um documentário (confira o trailer abaixo) e no livro X-Ray Audio: The Strange Story of Soviet Music on the Bone.

  • Dica da redação: para entender mais sobre o período de censura musical na União Soviética, uma dica é assistir ao filme russo Stilyagi (Rebeldes, em Potuguês). A produção mostra como os jovens da época criaram um movimento contracultural que durou mais de três décadas no país. 
smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Fontes

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.