Por Gustavo Blasco
Atualmente não se discute mais a importância e relevância do uso da inteligência artificial em nossas vidas. Não se trata mais de quando, mas sim de onde.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
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O quando chegou e é hoje. O onde ainda é discutido, debatido e alvo de teses, documentários e debates acalorados.
Em termos de mindset o grande momento de inflexão na opinião pública deu-se no final de novembro do ano passado, com o lançamento público e gratuito do ChatGPT, que em 2 meses alcançou cem milhões de usuários. Tal mudança de percepção logo refletiu-se no preço das ações de empresas intimamente ligadas à tecnologia – as da Nvidia subiram cerca de 160% e as da Microsoft cerca de 35%, desde o lançamento da ferramenta.
Nas palavras do próprio chat inteligente “Inteligência Artificial (IA) é um campo da ciência da computação que se concentra no desenvolvimento de sistemas e programas capazes de executar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana. Essas tarefas incluem o aprendizado a partir de dados, o raciocínio, o reconhecimento de padrões, a resolução de problemas complexos e a tomada de decisões. A IA busca criar máquinas e algoritmos que possam simular algumas características da inteligência humana, possibilitando a automação de tarefas, aperfeiçoamento de processos e o desenvolvimento de tecnologias mais avançadas em diversas áreas”.
Diversos métodos e técnicas impulsionam o aprendizado e o desenvolvimento deste tipo de inteligência como o machine learning que treina algoritmos para aprenderem a partir de dados e assim fazerem previsões; redes neurais artificiais que permitem aprender de forma não linear; processamento de linguagem neural que permitem que a IA interajam com o pensamento humano, visão computacional, para capacitar a análise e interpretação de imagem e vídeos, entre outros.
Para muitos parece assustador; para outros uma oportunidade única e imperdível. Os primeiros se tornarão reféns de seus próprios medos, enquanto os demais darão saltos profissionais impressionantemente rápidos e muitas vezes exponenciais.
Todos os métodos e técnicas citados acima são possíveis de serem aplicados em múltiplas áreas do saber e do conhecimento; por consequência, não seria uma área fundamental na relação entre pessoas, empresas, mercados e países que ficaria de fora; sim, estamos falando da IA na área de finanças.
O futuro da IA no mundo das finanças é promissor. Há muito já se utiliza técnicas avançadas de análise de dados nos chamados fundos quantitativos e nas operações de alta frequência, espera-se, agora, que novos avanços tecnológicos permitam um uso amplo e sofisticado da IA no setor.
É verdade que o presente já é digno de registro e precisa ser acompanhado de perto por aqueles que trabalham, estudam e pensam sobre o mercado financeiro. A seguir, algumas das melhorias significativas já em execução que a IA aplica no campo das finanças:
- Gestão de riscos: permite a análise de grande volume de dados históricos em tempo real para identificar padrões e riscos potenciais em investimentos, empréstimos e transações financeiras;
- Detecção de fraudes: algoritmos de aprendizado de máquinas podem identificar atividades suspeitas em tempo real, minimizando prejuízos decorrentes de fraudes;
- Tomada de decisões de investimentos: a IA pode ser usada para analisar dados econômicos, financeiros e de mercado, fornecendo insights para decisões de investimento mais embasadas;
- Atendimento ao cliente: assistentes virtuais baseados em IA podem fornecer respostas rápidas e precisas a consulta de cliente, melhorando a experiência do usuário;
- Automação de processos: tarefas rotineiras e repetitivas podem ser automatizadas liberando os profissionais para atividade mais estratégicas;
- Personalização de serviços financeiros: análise do comportamento do cliente e oferecimento de produtos e serviços personalizados de acordo com suas necessidades específicas.
Em todos e em cada um destes serviços e/ou produtos, a IA aumenta a eficiência operacional das instituições financeiras e demais participantes do mercado, processa grandes volumes de dados e com precisão superior, detecta padrões e tendências em dados financeiros, bem como ameaças e potenciais fraudes. Entretanto aplicações mais disruptivas estão para serem testadas na gestão de investimentos líquidos e na concessão de crédito.
Na primeira, a corrida do bilhão é para a implementação de IA nas operações de bolsa; seria um “robô” totalmente autônomo capaz de ganhar mais dinheiro no longo prazo do que nomes como Warren Buffet, Ray Dalio, George Soros e até mesmo Jim Simons, provavelmente o maior e melhor de todos os investidores quantitativos? Será que no futuro, gestores e investidores que se valem principalmente de suas próprias capacidades cognitivas, análises, experiência e, até mesmo, intuição, serão completamente superados pela IA?
Para quem duvida, vale lembrar que nos EUA os fundos quantitativos abocanham partes cada vez mais relevantes do mercado e que estes são como brinquedos de criança, quando comparados com o que promete para o futuro breve a inteligência artificial.
Na segunda, o potencial é muito maior, visto que a quantidade de dados disponíveis sobre os devedores é imensa e as previsões sobre capacidade (e vontade) de pagamento deles é menos complexa do que a análise dos preços futuros dos ativos.
A inteligência artficial pode ser aplicada para automatizar e aumentar a eficência em operações financeiras. Fonte: Getty Images
Modelos de IA que aprendam a processar e analisar corretamente essa imensa quantidade de dados poderão ser incrivelmente precisos ao estimar a probabilidade de adimplência de determinado devedor, em determinado período, para determinada modalidade de crédito.
Aqui, entretanto, os empresários irão se deparar de forma mais clara com desafios éticos, legais e de narrativa social. Afinal, até que ponto a interpretação de que certas características pessoais em conjunto implicam em baixa capacidade de pagamento será vista como tecnologia de ponta e, quando passará a ser vista como uma tecnologia que reforça preconceitos?
Certamente é o tipo de debate que ainda será colocado ao público e que resultará em leis e normas específicas. Não obstante tais questões éticas e legais, nossa relação com a IA não deve ser de recusa ou negação; pelo contrário, devemos sempre nos perguntar como usá-la para nosso trabalho, nossos objetivos e desafios.
E tudo isto sem jamais abrir mão da inteligência humana, pois ela é que determina os parâmetros do bom uso de todas as demais inteligências que existem e as que ainda serão criadas.
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Gustavo Blasco é fundador e CEO do Grupo GCB, holding das fintechs Adiante e PeerBR, e da GCB Investimentos. O executivo é economista, formado pelo Mackenzie e detém as certificações: Certificado Nacional de Profissionais de Investimento (CNPI) e o Certificado de Gestor Anbima (CGA).
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