As redes sociais são culpadas pelo fenômeno coach no Brasil?

O boom dos perfis de coach nas redes sociais é uma realidade. São milhares de seguidores, curtidas e comentários atraídos pela promessa de decolar carreiras estagnadas, melhorar a qualidade de vida e obter resultados fenomenais.

O marketing feito por esses profissionais cria dúvidas sobre o que é verdadeiro ou propaganda enganosa em um mercado que se demonstra uma grande tendência do momento. Saiba mais a seguir!

O que é ser um Coach?

Coach é o nome do profissional que aplica metodologias de desenvolvimento profissional e pessoal. A tradução do termo inglês para o português, "treinador", dá uma ideia de qual é a sua função: instruir o coachee (cliente) a alcançar metas e aumentar seus resultados.

A prática do coaching moderno que se popularizou no meio corporativo vem se aperfeiçoando desde o século XIX, com a iniciativa de mentoria feita por professores de Oxford, na Inglaterra. Com o passar dos anos e a evolução dos estudos sobre comportamento humano, o exercício do coaching foi se especializando de acordo com os interesses de quem busca esse tipo de orientação.

Atualmente, há o coaching de carreira, finanças, pessoal, empresarial, cuidados com o corpo e por aí vai.

O coach pode auxiliar tanto no aprendizado de um único indivíduo quanto de uma equipe.Fonte:  GettyImages 

No entanto, a falta de regulamentação dessa atividade dificulta o reconhecimento da profissão e os limites éticos da sua prática. Cerca de 30% dos entrevistados de uma pesquisa mundial feita pela International Coaching Federation (ICF) afirmam saber o que é coaching.

A ICF é a principal voz da comunidade global de coaching. A entidade independente tem mais de 50 mil associados pelo mundo, assumindo o papel de gerenciar o credenciamento desses profissionais por meio de certificados.

Os certificados garantem a quantidade de horas de treinamento e de prática que o coach tem. São eles: Associate Certified Coach (ACC), Professional Certified Coach (PCC) ou Master Certified Coach (MCC).

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Diferenças entre coaching, mentoria e consultoria

Algumas diferenças básicas distanciam o coaching de processos como mentoring e consultoria, visto o tipo de relação entre os envolvidos e a metodologia aplicada.

• A mentoria se estabelece entre duas pessoas, o mentor e o aprendiz. Geralmente, essa relação é mais duradoura, voluntária e não é afetada quando há envolvimento emocional de ambas as partes. Logo, o mentoring pode ocorrer entre parentes, amigos e pessoas próximas no ambiente de trabalho;
• Já no coaching, a relação deve ser manter estritamente no âmbito profissional. O coach é um prestador de serviços contratado para auxiliar o coachee a focar no desenvolvimento de alta performance;
• O processo de consultoria é similar ao de coaching nesse sentido, porém, a sua entrega de resultados se dá pela oferta de soluções.

Assim, o coach realiza uma abordagem diferente, aplicando técnicas que levam o cliente à reflexão e à construção conjunta de um planejamento para conquistar os objetivos traçados.

De acordo com o Master Coach Sulivan França, presidente da Sociedade Latino Americana de Coaching (SLAC), "o coach não é um orientador e não é um aconselhador, portanto o trabalho dele depende da excelência na aplicação do método".

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Como as redes sociais popularizaram o coaching?

A presença massiva das redes sociais em nosso cotidiano potencializou a criação de estratégias de marketing que incluem as plataformas com maior número de usuários no mundo.

Aplicativos como WhatsApp, YouTube, Instagram, Facebook e TikTok lideram a preferência dos brasileiros. Segundo o relatório “Tendências de Social Media 2023” da Comscore, somos 131,5 milhões de usuários conectados que passam 46 horas por mês em redes sociais.

Diante desses números, a corrida para criar perfis profissionais nessas plataformas vem se tornando cada vez mais competitiva e, infelizmente, tornando o público mais suscetível a profissionais antiéticos e sem formação adequada.

O fenômeno coach nas redes sociais vem chamando a atenção dos usuários.Fonte:  GettyImages 

O fenômeno do coaching nas redes sociais é um exemplo e o fato de não haver normas na Constituição que regulam a profissão coach no Brasil tornam o caso ainda mais delicado.

Até o momento, o projeto de lei 3550/2019 que visa regulamentar a prática do coaching está sem previsão de ser aprovado na casa legislativa brasileira. A banalização da prática também gera desconfiança sobre a categoria, que também pode prejudicar a atuação de outros profissionais, como os psicólogos.

Para uma população que ainda não sabe a diferença entre coaching e psicoterapia, isso é um perigo.

A psicóloga Samantha Froelich ressalta que a psicoterapia surge para um outro tipo de demanda. "Enquanto o coaching é focado no desenvolvimento de habilidades, a psicologia se atenta na compreensão dos processos mentais, emocionais, psicológicos e individuais das pessoas".

O psicodiagnóstico traz um embasamento científico para trabalhar com questões como transtorno de ansiedade, bipolaridade, e também a parte de autoconhecimento e prevenção.

A confusão entre os dois tipos de prestação de serviço alcançou até mesmo a grande mídia. "Isso chegou a um ponto em que foi exposto na mídia, em uma novela, cuja personagem descobre que passou por um abuso após fazer uma sessão de hipnose com um coach", diz Froelich.

"Se isso fosse na vida real, um coach poderia descobrir isso, mas ele não teria a formação necessária para trabalhar questões de 'Como que eu lido com os machucados que agora tenho consciência? Como isso está por trás dos comportamentos que acabei desenvolvendo?' ".

A conscientização da população e dos profissionais em formação se faz urgente no momento. Assim como a criação de regras que respaldam a atividade do coach e o modo como deve ser divulgado o seu trabalho.

A nível de comparação, os Conselhos Regionais de Psicologia consideram antiético a ação de divulgar preços de sessões, valores promocionais e comentários de pacientes sobre a terapia feita a fim de proteger quem está sendo atendido.

"Como sempre houveram muitas regras, a divulgação da psicoterapia ainda é muito ultrapassada, de boca em boca e oferecendo cartãozinho. Hoje em dia, já tem muito mais psicólogos que exploram esse meio digital, mas nem se compara com a quantidade de coaches que crescem e divulgam seus trabalhos", comenta Froelich.

A solução temporária para identificar um coach profissional que aplica sua formação com seriedade é ficar em alerta para o seguintes pontos:

1. O coach traz detalhamentos sobre a metodologia e está interessado em adaptá-la ao seu caso?
2. Quais treinamentos, certificados e credenciais o profissional possui?
3. Há referências sobre o trabalho e os resultados conquistados após o acompanhamento do coach?

A verificação do histórico do profissional deveria ser comum na rotina de qualquer consumidor. Quando o serviço não possui um conjunto de regras que protege cliente e prestador de serviços, essa investigação se torna mais preciosa!