A política rigorosa de sigilo da Apple já foi a grande responsável pelo encantamento do público nos lançamentos de produtos e tecnologias da empresa. Contudo, os frequentes vazamentos sobre o novo iPhone mostram que a cultura do sigilo pode estar ultrapassada.
Entenda quais são as táticas que a empresa da maçã criou para manter seus projetos em segredo e como essa cultura do sigilo pode afetar a inovação de suas tecnologias!
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O que é a cultura de sigilo na Apple?
A cultura de sigilo da Apple é um conjunto de práticas e expectativas da big tech, que guia o comportamento de seus funcionários em relação à confidencialidade de seus projetos.
Não é de hoje que a empresa da Maçã tem como valor a ideia de surpreender o seu público, criando produtos e serviços que as pessoas desejam antes delas expressarem essa necessidade ao mercado.
A preocupação com o sigilo dos seus lançamentos é tão rígido e intrínseco ao seu DNA que a Apple se destaca – positivamente e negativamente — no Vale do Silício, região da Baía de São Francisco (EUA) conhecida por sediar as maiores empresas de tecnologia do mundo.
WWDC é o evento anual da Apple para desenvolvedores em que são apresentados os lançamento da empresa.Fonte: GettyImages
As normas para manter em segredo os projetos da empresa vão além da regra "não fale publicamente sobre a Apple, exceto quando solicitado" ou ter um crachá que possui permissão para abrir somente algumas portas da empresa.
Conheça os demais métodos que fazem parte da cultura de sigilo da Apple:
Projetos classificados em nível de importância
Cada projeto da Apple recebe uma classificação de sigilo: Ultra, Black e White. Segundo o The Verge, os documentos Ultra pertencem ao grupo dos lançamentos mais importantes para a empresa e, portanto, são monitorados pelo sistema interno da Apple, assim como os funcionários envolvidos no trabalho com protótipos.
Acordos de confidencialidade
É conhecido por todos que a Apple solicita aos seus fornecedores que sejam assinados acordos de confidencialidade (NDA, non-disclosure agreements).
Outro documento que ajuda a empresa a manter tudo em segredo são os contratos de projeto restrito da Apple, firmados antes mesmo do contratado saber mais sobre o trabalho de que fará parte.
- Confira também: Funcionário da Apple é acusado de roubar segredos e fugir para China.
Distribuição de partes dos projetos aos engenheiros
De acordo com fontes internas, os engenheiros da Apple não têm acesso ao projeto completo até que o produto esteja finalizado. Nesse meio tempo, cada um trabalha exclusivamente na função que lhe foi designada.
Marcas d'água para diferenciar documentos
O receio de vazamento de informações da Apple se transformou em mecanismos para identificar os possíveis informantes, como é o caso das marcas d'água em cores diferentes.
Caso um documento seja divulgado sem autorização, será possível saber quem facilitou esse processo pela variação de cor da imagem.
Tipografias e sinais de pontuação diferenciados
Outra ferramenta para diferenciar o documento que cada funcionário recebe. A modificação pode ser feita nos sinais de pontuação ou na exclusão de pixels da carta.
Vigilância física, por vídeo ou eletrônica
O direito à vigilância extensiva sobre os funcionários da Apple está prevista no contrato de trabalho, descrito em trechos como “pesquisar seu espaço de trabalho, como armários de arquivos, mesas e escritórios (mesmo se bloqueado), revisar registros telefônicos ou pesquisar qualquer propriedade que não seja da Apple (como mochilas, bolsas) nas instalações da empresa.”
Esse tipo de prática é comum na relação entre empresas de tecnologia e funcionários que testam novos softwares.
Contudo, essa “vigilância física, por vídeo ou eletrônica” da Apple é vista por muitos como hipocrisia, já que a big tech é reconhecida mundialmente pelo seu compromisso com a privacidade de seus clientes, mas não dedica o mesmo tratamento para com seus colaboradores.
A cultura de sigilo da Apple passou a receber mais críticas após o surgimento da pandemia do Covid-19. A necessidade do trabalho remoto resultou no uso interno do Slack (plataforma de mensagens instantâneas).
Cultura de sigilo da Apple vai muito além do que pensávamos.Fonte: GettyImages
As equipes da Apple que antes eram isoladas passaram a ter contato com funcionários de outros setores da empresa. Essa comunicação facilitada deu à comunidade interna a sensação de que as queixas e preocupações eram mais frequentes do que imaginavam.
Apesar da Apple estabelecer em sua política interna que não há restrição ao direito de falar livremente sobre "salário, horário ou condições de trabalho”, há vários tweets de funcionários e ex-funcionários denunciando a pressão dos gestores para que tudo se resolva por detrás das cortinas.
A cultura de sigilo da Apple é um obstáculo para uma Siri mais inteligente
A tecnologia de ponta e o design superelegante de eletrônicos da Apple encantam os consumidores desde os anos 70, mas há uma brecha nesse arco-íris. Os projetos de inteligência artificial da Apple parecem estagnados frente aos últimos lançamentos das concorrentes, como o Google Assistant e o ChatGPT.
Um dos motivos vem sendo creditado ao ecossistema fechado e sigiloso da multinacional, o que não a torna atraente para profissionais altamente capacitados e que desejam ter liberdade para trocar informações e publicar seus trabalhos.
Exemplo disso é a notícia publicada pelo The Information sobre a migração de engenheiros da Apple para trabalhar em empresas que desenvolvem os modelos de linguagem do OpenAI.
Google e Microsoft estão à frente da Apple em termos de desenvolvimento de inteligência artificial.Fonte: GettyImages
Outro sinal de que a Apple está longe de criar uma Siri mais intuitiva e inteligente é o fato da empresa estar fora do circuito de pesquisas de ponta por anos.
A empresa publicou 370 artigos sobre IA desde 2017. Em comparação, o Google publica anualmente centenas de pesquisas sobre inteligência artificial e tem um bom histórico de envolvimento com código aberto, o que facilita a evolução dos seus projetos.
A obsessão por sigilo pode custar à Apple o seu lugar de referência em inovação tecnológica e a imagem de um ambiente de trabalho opressor. Resta a nós esperarmos por mais uma grande reviravolta em sua história.
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