Os smartphones representam uma parte importante da vida moderna, e grande parte da população tem um aparelho no bolso. De acordo com um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), existem mais de 240 milhões de dispositivos no Brasil, totalizando mais de um telefone inteligente por pessoa.
Um dos fatores que tornam esses dispositivos tão vitais para a vida diária é a eficiência. A velocidade e a praticidade de realizar tarefas em um smartphone são quase incomparáveis, pois ele permite trabalhar e se comunicar mesmo quando o usuário está em movimento.
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Nos aparelhos, existem aplicativos para (quase) tudo. A lista é longa e envolve praticamente qualquer outra coisa útil ou inútil, desde previsão do tempo até serviços bancários, acompanhamento de tráfego, jogos, agências de notícias, mídias sociais e streaming de televisão.
Ainda assim, muitos usuários não abrem esses aplicativos mais de uma ou duas vezes, optando por poucos que são usados regularmente, então o restante serve apenas para ocupar a memória do smartphone. Mesmo que os aparelhos ofereçam mais espaço, a tendência é que rapidamente o dispositivo esteja ocupado por mais apps.
“A fadiga do aplicativo é definitivamente um problema”, afirma Angela Mattia, professora associada de Gerenciamento de Informações da Universidade de Jacksonville (EUA). “Os tempos estão mudando novamente porque há tantos [apps] por aí e as pessoas estão tão sobrecarregadas com eles”, completa.
Sendo assim, não seria mais prático ter apenas um aplicativo que resolvesse todos os problemas do usuário, sem a necessidade de baixar vários deles? Grandes empresas já pensaram nisso e muitas delas oferecem soluções all-in-one: o superapp. Na verdade, essa parece ser a tendência mais forte do mercado de aplicações móveis.
O que é um superapp?
(Fonte: PxFuel/Reprodução)
Um superapp é um aplicativo que fornece uma variedade de serviços aparentemente não relacionados por meio de uma única interface móvel. Em vez de ter vários aplicativos para serviços diferentes, um superaplicativo visa fornecer acesso a múltiplos serviços em um único programa.
Nos aplicativos convencionais, os usuários podem conversar, comprar, programar viagens e fazer transações bancárias, podendo ser comparados com uma loja com serviços de um segmento. Os superapps, por outro lado, podem ser comparados a um shopping inteiro e oferecem as conveniências de todos os serviços, além de economia de recursos em comparação aos apps individuais.
O termo "superaplicativo" surgiu graças a Mike Lazaridis, fundador da Research in Motion (RIM), empresa que desenvolveu e fabricou os dispositivos BlackBerry. Em 2010, ele os definiu como "um ecossistema fechado de muitos aplicativos que as pessoas usariam todos os dias porque oferecem uma experiência perfeita, integrada, contextualizada e eficiente".
Aplicativos como esses são frequentemente criados por empresas que oferecem mais de um produto ou serviço e geralmente começam com uma única função básica, para em seguida juntar gradualmente soluções e serviços adjacentes da comunidade de aplicativos.
Um superapp é, essencialmente, uma solução completa para o design de aplicativos móveis, porque gerencia todas as necessidades que um usuário pode ter em um só lugar. Isso reduz a necessidade de baixar vários aplicativos e ter diversos logins e senhas para executar funções diferentes.
WeChat, o maior superapp do mundo
(Fonte: Pixabay/Reprodução)
Um dos maiores exemplos da solução é o WeChat, da Tencent, o enorme conglomerado de tecnologia chinês. O aplicativo começou oferecendo troca de mensagens e se transformou em um ecossistema de serviços, incluindo corridas de táxi, carteiras virtuais, reservas em hotéis, consultas médicas e muito mais.
A solução conta com 1,2 bilhão de usuários e um número superior a 3 milhões de miniapps. O WeChat se tornou o quarto aplicativo mais usado do mundo, atrás apenas de WhatsApp, Facebook e Facebook Messenger. O superapp é tão grande que atraiu a atenção do governo chinês e permite a guarda de documentos digitais de identidade em sua interface.
O comércio feito por meio de miniaplicativos que o WeChat permite que outros desenvolvedores criem em sua plataforma atingiu impressionantes US$ 240 bilhões (mais de R$ 1,1 trilhão!) apenas em 2020, sendo mais que o dobro do ano anterior. A receita do superapp chinês equivale a quase três vezes o faturamento da Petrobras.
A chave para o sucesso do WeChat é o scanner de QR codes, que permitiu que ele se tornasse o aplicativo de pagamentos dominante no mercado chinês. O superapp está transformando a China em uma sociedade sem dinheiro — vendedores ambulantes usam o WeChat Pay até para vender vegetais.
Os superapps do Brasil
(Fonte: Inter/Reprodução)
Os superaplicativos não estão presentes somente na China, pois a solução já se tornou bastante popular na Índia e em outros países asiáticos. Chegou também aos Estados Unidos, à Europa e à África, e a América Latina não fica para atrás.
O Brasil é um dos principais mercados para esses apps com “superpoderes” pela possibilidade de oferecerem micropagamentos voltados para a população não bancarizada. A pandemia impulsionou esse mercado, e muitas companhias estão desenvolvendo soluções nesse sentido.
O Rappi se consolidou no mercado de delivery de restaurantes, farmácias e conveniência. Em seguida, expandiu os serviços e passou a oferecer manicure, atividades domésticas, massagens, viagens e entretenimento. A plataforma lançou um banco digital com linha de crédito para empresas parceiras, cartão para pessoas físicas e cashback.
O aplicativo do Magazine Luiza começou como uma plataforma de compras online e aos poucos passou a oferecer alimentação, moda, higiene e mix de produtos. No ano passado, o Magalu criou o próprio meio de pagamento que permite não apenas comprar pelo app, mas também realizar transações financeiras.
Já o Inter fez o caminho inverso. A empresa começou como um banco, mas expandiu seu modelo de negócios para se tornar uma “plataforma que simplifique a vida das pessoas”, ainda que os serviços financeiros sejam a principal atividade. Dentro do superapp do Inter, os usuários podem comprar produtos, reservar hotéis e passagens aéreas e até pedir comida.
Por que os superapps são atrativos para as empresas?
(Fonte: Shutterstock)
Os superaplicativos são a solução completa para as empresas se expandirem, crescerem e atingirem metas de escalabilidade. Há um imenso potencial de crescimento com superapps, pois sempre há mais serviços e recursos que podem ser adicionados. “Uma vez que você está lidando com dinheiro para um usuário, você pode construir um castelo de serviços”, explica Sidu Ponnappa, vice-presidente da Gojek, um superapp sediado na Indonésia e que tem faturamento anual superior a US$ 800 milhões.
Os dados do cliente são o principal recurso da tecnologia. Assim como nas redes sociais, quanto mais tempo as pessoas passam no app, melhor é para as empresas. Com vários serviços em um único superaplicativo, as informações podem ser usadas sem problemas por meio dos diferentes serviços oferecidos.
As companhias podem reduzir os gastos com marketing, pois “Existem muitas experiências em que as interações personalizadas um para um fazem sentido e deixam os clientes satisfeitos e aumentam o retorno sobre investimento (ROI) para as empresas”, afirma Stefanos Loukakos, cofundador e CEO da Connectly.
Por fim, os superaplicativos são um desenvolvimento natural da fusão de diferentes ambientes digitais. “Os consumidores estão exigindo cada vez mais uma experiência mais personalizada e hiperconveniente, em que uma plataforma atenda a todas as suas necessidades”, analisa Robert Clarkson, Chief Revenue Officer (CRO) da Payoneer, uma plataforma global de pagamentos.