Em março, vivemos um período de muita discussão em relação à posição social e profissional das mulheres. Nem sempre, apesar das boas intenções, chegamos ao campo da prática, mas participei de um evento que me trouxe muitas inspirações relevantes que gostaria de compartilhar com vocês. Foi o Women 2 Watch (W2W), seminário que reuniu executivas, empresárias, especialistas e influencers femininas com muita experiência, conquistas e, acima de tudo, propriedade para falar.
O que me chamou a atenção logo de largada é como, mesmo já tendo tantas lideranças femininas de destaque, nossa participação enquanto debatedoras em eventos de tecnologia, inovação e de negócios de forma geral ainda é muito tímida. Por falta de massa crítica que não é, e o W2W é uma forte indicação disso!
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
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De outro lado, o evento teve baixa participação masculina na plateia e um dos poucos debatedores homens chegou a expressar seu estranhamento em estar em um grupo predominantemente feminino; creio que a essa altura do campeonato isso já deveria ser algo mais natural.
A pauta do W2W foi muito bem equilibrada contando com temas como etarismo, capacitismo, questões raciais e de gênero, além de tecnologia. Em relação a este último tema, inclusive, é muito estranho notar que o avanço da tecnologia vem evidenciando nossos preconceitos.
Por exemplo, um artista digital da FAU relatou sua experiência utilizando o ChatGPT. Ao responder as perguntas de um chat, a ferramenta deu respostas preconceituosas, uma vez que elas são baseadas no conteúdo predominante na internet.
Ou seja, está claro que temos ainda muito a avançar. No entanto, o ChatGPT pode ser ensinado em relação às abordagens mais indicadas, se tornando também um importante instrumento no combate em larga escala ao preconceito na internet.
Foi ainda mais impressionante notar que as mulheres ainda têm dificuldade de acesso a alguns fóruns. Uma gamer profissional relatou que apenas em 2024 as mulheres vão estar no mesmo palco do principal campeonato de games mundial.
É necessário criar ambientes de trabalho acolhedores em que as mulheres sinta-se seguras e respeitadas.
Fonte: Getty Images
A história que mais me tocou, porém, foi a de Alana Leguth, sócia-diretora da KondZilla, produtora e selo musical de funk. Em um meio ainda muito masculino e com muitas letras agressivas em relação a mulher, Alana criou uma espécie de régua de qualidade e de boas práticas.
Neste caso, ficou claro que ter uma mulher entre tantos homens foi fundamental para trazer uma perspectiva nova de respeito e consideração nesta área. Tanto que, para além do fundamental respeito, essa iniciativa aumentou o público feminino ouvinte e deu maior acessibilidade às músicas, inclusive em termos comerciais e nas casas das famílias.
Trago ainda dois temas muito importantes. O painel sobre capacitismo foi uma verdadeira aula sobre como tratar o assunto de forma adequada e os imensos desafios que ainda temos nesta área. Um dado, porém, chamou muito a atenção: ao contrário de nossa percepção, um quarto da população tem algum tipo de deficiência. A grande maioria de nós simplesmente oculta essas deficiências. Outra questão chave é que a deficiência não é uma doença.
Por fim, chegamos a delicada questão do etarismo. Ainda vemos uma diferença muito grande no tratamento entre homens e mulheres. O exemplo debatido foi o profissional que chega aos 50 anos. Os homens, de forma geral, são vistos como bem-sucedidos e no auge, enquanto as mulheres ainda são vistas com desconfiança e até com um certo desleixo em relação à família.
Mas, por que esta diferença? A mulher de 50 também é bem-sucedida e ainda tem muito o que realizar! Como mostrou a história da CMO do Banco Safra. Como vemos, o Dia da Mulher ainda não é uma data de comemoração e sim de luta, sendo que temos muitos bons exemplos para seguir e nos engajar.