A urna eletrônica pode ser considerada uma revolução recente da história nacional, já que ela tem “apenas” 26 anos. Em comparação, a Justiça Eleitoral foi criada há 90 anos, em fevereiro de 1932, mesmo período em que foi promulgado o Código Eleitoral brasileiro. E se a urna foi adotada recentemente, como as pessoas votavam nas décadas passadas?
Apesar de desacreditada, a urna eletrônica trouxe segurança, inclusão e agilidade para as apurações. Antes da instituição dela, o processo eleitoral do país passava por problemas de confiança e gerava até mesmo resultados “esquisitos” como quase-eleições de animais.
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Para contar um pouco da história pré-urna eletrônica, o TecMundo contou um pouco sobre como o país se organizava para escolher seus representantes antes de 1996.
Urna eletrônica de 2018
Como era a votação antes da urna eletrônica no Brasil?
A votação antes da urna eletrônica no Brasil era realizada em cédulas de papel. Esse era o método que os brasileiros votavam desde a Proclamação da República, em 1889. No final do século XIX, porém, os votos eram abertos e tinham bastante influência de comandantes políticos locais, chamados de “coronéis”.
No século XX, as eleições começaram a se democratizar a partir de 1945, quando o país restabeleceu a Justiça Eleitoral, que havia sido extinguida no período Getúlio Vargas (Estado Novo). Na época, os partidos já faziam parte do “jogo” político e participavam ativamente do processo.
Antes de 1955, as cédulas de papel eram impressas e distribuídas pelos próprios candidatos. Depois da instituição da Lei nº 2.582, foi criada a cédula única de votação para as eleições de presidente e vice-presidente da República.
Inserção da cédula de papel na urna
Juscelino Kubitschek foi o primeiro presidente eleito com as cédulas oficiais do TSE, em 3 de outubro de 1955. Em 27 de julho de 1962 foi criada a Lei nº 4.109, que oficializou cédulas de papel para todas as eleições.
Confira, abaixo, fotos das cédulas de papel que foram utilizadas até 1998. Os registros integram o acervo do memorial do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS).
Onde as cédulas eram depositadas?
As cédulas de papel eram depositadas em urnas – não eletrônicas. As espécies de baús eram confeccionadas em madeira em vários formatos diferentes. De acordo com o TRE-RS, essas urnas foram utilizadas entre o período imperial até a década de 50.
O recipiente de madeira, que era bastante pesado, tinha uma abertura na parte superior, onde as cédulas de papel eram depositadas, e outra saída na parte inferior, onde os votos eram retirados. Para garantir que os papéis ficariam no local, havia uma fechadura.
Ainda na década de 50, pensando em um melhor manuseio e transporte, as urnas começaram a ser fabricadas com lona. As urnas de lona branca foram utilizadas até 1974 e tinham fechamentos com zíper e um sistema de lacre com selo de chumbo.
Urna de madeira que integra o acervo do Memorial da Justiça Eleitoral Gaúcha
Além da urna de lona branca, a Justiça Eleitoral também utilizava uma urna de lona marrom. Ela foi utilizada na eleição vencida por Juscelino Kubitschek e tinha tampa móvel, fechada a chave e se tornou o único modelo utilizado depois de 1974.
Confira, abaixo, fotos das lonas que integram o acervo do memorial do TRE-RS.
Por que a cédula de papel foi abandonada?
Algumas pessoas que viveram o período eleitoral das cédulas de papel dizem que aquelas eleições eram mais seguras, mas isso é um mito. A verdade é que o voto escrito era bastante suscetível a fraudes dos mais variados tipos.
Como os votos eram contados manualmente, a apuração das eleições demorava dias, diferentemente de hoje em que se sabe os vencedores dos pleitos com algumas horas. Há 3 décadas, a conferência era bastante confusa e gerava muita tensão e desconfiança, já que lados diferentes acusavam o outro de fraude.
O TSE lembra que cédulas mal preenchidas geravam intensas discussões entre os fiscais, que ficavam tentando adivinhar qual o verdadeiro voto do eleitor. Quando não havia consenso, o voto era anulado.
As “urnas grávidas” eram uma das fraudes mais conhecidas. Nestes casos, os fraudadores depositavam cédulas já preenchidas na urna, fazendo com que elas já estivessem cheias antes mesmo de estarem à disposição dos eleitores.
Além das falcatruas, as cédulas de papel permitiam um movimento bizarro. Quando era possível escrever o nome do candidato, muitas pessoas protestavam ou simplesmente tiravam um sarro do processo eleitoral votando em celebridades ou até animais.
Um caso que representa esse fato é o da quase “eleição” do Macaco Tião. O chimpanzé morava no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro e se notabilizou pelo comportamento agressivo, tendo chegado a atingir o rosto do ex-prefeito carioca Júlio Coutinho com terra.
O tablóide humorístico Casseta Popular, formado por humoristas que criaram o Casseta & Planeta, acabou “lançando” o primata como candidato a prefeito do Rio de Janeiro em 1988. O animal obteve 400 mil votos, o que o deixou como o 3° candidato mais votado na cidade.
Outra história famosa foi a “eleição” da Cacareco, um rinoceronte fêmea, a vereadora de São Paulo. Cacareco recebeu quase 100 mil votos em 1959, o que teoricamente lhe garantiria uma cadeira na Câmara paulistana.
Além das fraudes e das brincadeiras, as cédulas de papel foram substituídas porque ofereciam problemas de acessibilidade para o povo. Eleitores analfabetos e deficientes visuais, por exemplo, eram praticamente excluídos do processo democrático e só conseguiram exercer a cidadania plena nas urnas eletrônicas, que oferecem fones de ouvido, braile e outros recursos.
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