Nesta terça-feira (23), o euro perdeu a paridade com o dólar pela primeira vez desde 15 de julho de 2002. Surpreendente, a marca decepciona a expectativa de que a economia europeia poderia se recuperar mais rapidamente com as etapas finais da pandemia da covid-19, melhora atrasada pelo ainda atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
O que é paridade e o que ela representa?
Esclarecendo, o conceito de paridade cambial pode ser definido como a relação do poder de compra entre duas moedas — ou seja, um euro (€) equivaler a um dólar (US$), quando em equilíbrio. Nos últimos anos, a moeda oficial da União Europeia possuía uma nítida dominância sob a moeda norte-americana, chegando a valer quase 40% mais.
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Mais do que apenas uma marca, o piso de negociação dos US$ 1 representa uma espécie de barreira psicológica para o mercado financeiro, conforme denota a agência Associated Press. Essa "proteção invisível" chegou a ser desafiada repetidas vezes nos últimos dois anos, resistindo bem junto das diversas medidas paliativas da Zona do Euro — mas não sem se enfraquecer.
Por que o Dólar está mais caro que o Euro?
Na prática, os principais culpados nesse caso são os altos preços nas fontes de energia e a inflação recorde na União Europeia — problemas igualmente familiares em outras zonas econômicas. Porém, a região do Antigo Continente depende mais do petróleo e gás natural russo do que os Estados Unidos, um recurso ameaçado pelo conflito do país com a Ucrânia.
Para piorar, o crescente medo de que a guerra entre os países eslavos afete o fornecimento de petróleo russo no mercado internacional ocasionou uma alta no preço do recurso, que por sua vez encarece o transporte e preço de diversos outros produtos, em todo o mundo. E o temor não é exatamente infundado, já que a Rússia realmente reduziu o fornecimento de gás natural para a União Europeia — uma decisão entendida como retaliação pelo suporte da região à Ucrânia.
A União Europeia é dependente do petróleo russo, sendo a principal cliente do país eslavo. (Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
Nesse contexto complexo, o país norte-americano se destacou pela rápida elevação das taxas de juros em empréstimos para combater a inflação. Se os aumentos do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos forem maiores que os aplicados pelo Banco Central Europeu, eles passarão a atrair investidores da Zona do Euro, interessados em converter suas finanças para o dólar.
Como isso afeta a economia internacional?
Para a população dos Estados Unidos, a mudança deve se refletir em programas de turismo mais baratos na Zona do Euro, além do aumento do poder de compra em bens importados da região. No espectro comercial, as empresas norte-americanas que possuem parcerias com entidades europeias devem ter suas margens de lucro reduzidas e afetadas pelos novos pisos de negociação do euro.
Complementando, o aumento do dólar também significa que os produtos norte-americanos na Área do Euro também se tornarão mais caros, diminuindo suas margens de venda e consequentemente sua exportação. Em paralelo, os bens europeus ganharão mais competitividade no mercado dos Estados Unidos e podem enfraquecer a parte relacionada da economia no país.
Com o euro enfraquecido, a União Europeia também encara um maior custo na compra do petróleo, realizada em dólar. Esse fator contribui com o problema inicial, piorando a movimentação da economia e acelerando a inflação. No momento, o Banco Central Europeu já anunciou o aumento das taxas de juros para empréstimos, como os Estados Unidos — decisão que deve mitigar os efeitos negativos mencionados anteriormente, enquanto retarda o crescimento econômico da região.
Fontes